Mundo

Partido Trabalhista suspende Corbyn, seu antigo líder, em controvérsia sobre antissemitismo

Ex-líder da oposição britânico disse que caso foi 'dramaticamente exagerado por razões políticas' e que irá contestar a decisão da legenda
O então líder do Partido Trabalhista britânico Jeremy Corbyn, em um comício em Broxtowe, na Inglaterra Foto: OLI SCARFF / AFP
O então líder do Partido Trabalhista britânico Jeremy Corbyn, em um comício em Broxtowe, na Inglaterra Foto: OLI SCARFF / AFP

LONDRES —  O Partido Trabalhista suspendeu, nesta quinta-feira, seu antigo líder Jeremy Corbyn , depois que ele comentou um relatório interno sobre “atos ilegais de assédio e discriminação” antissemita durante o período em que ele esteve no comando da legenda, entre 2015 e 2020. Após a divulgação do documento, Corbyn, da ala esquerda  do partido, disse que o caso foi “dramaticamente exagerado por razões políticas”.  Ele afirmou que irá contestar veementemente a suspensão, que chamou de “intervenção política”.

O documento revela ter encontrado “falhas significativas na maneira como o Partido Trabalhista lidou com as queixas de antissemitismo nos últimos quatro anos”. “A análise aponta para uma cultura dentro do partido que, na melhor das hipóteses, não fez o suficiente para prevenir o antissemitismo e, na pior das hipóteses, pode ter aceitado a prática”, afirma o documento que veio à público depois de o atual líder dos Trabalhistas, Keir Starmer , ter pressionado internamente a Comissão de Igualdade e Direitos Humanos sobre o tema.

Contexto : Boris Johnson marca diferenças de outros líderes da nova direita global

A comissão afirma no documento que, com Corbyn, o Partido Trabalhista foi culpado por três infrações à Lei de Igualdade britânica de 2010 por interferência política nas denúncias, ao não fornecer o treinamento adequado aos que supervisionam casos de antissemitismo e por intimidação aos denunciantes.

Corbyn —   que deixou a liderança trabalhista depois da vitória do Partido Conservador na eleição de dezembro último —   disse que não aceita todas as conclusões do relatório e alega que a “dimensão do problema foi muito exagerada” por rivais políticos dentro e fora do partido.

Em nota, o ex-líder trabalhista disse que considera o antissemitismo “absolutamente abominável, errado e responsável pelos maiores crimes contra a Humanidade”, e que passou toda a vida apoiando “comunidades e pessoas judias”.

No entanto, apesar de admitir que poderia haver casos de antissemitismo no trabalhismo, Corbyn considerou que “a dimensão do problema foi dramaticamente exagerada por razões políticas, tanto por oponentes dentro e fora do partido, como por grande parte dos meios de comunicação”.

Estes comentários foram citados como razão para sua suspensão.

Análise : Eleição britânica e avanço do Brexit confirmam fim de uma era de comércio global

— À luz dos seus comentários e da sua incapacidade para se retratar, o Partido Trabalhista suspendeu Jeremy Corbyn enquanto se mantiver a investigação. Corbyn também foi suspenso do grupo parlamentar dos trabalhistas — declarou um porta-voz.

Starmer, por sua vez, afirmou aceitar as conclusões por completo e prometeu implementar todas as reformas recomendadas.

— É um dia de vergonha para o Partido Trabalhista. Nós falhamos com o povo judeu. Eu realmente sinto muito por toda a dor e sofrimento que foram causados — disse ele, que vem tentado marcar um rompimento com a era Corbyn. — Nunca mais deixaremos de combater o antissemitismo e nunca mais perderemos sua confiança.

Já Corbyn classificou sua suspensão de intervenção política:

— Eu deixei absolutamente claro que aqueles que negam que existe um problema de antisemitismo no Partido Trabalhista estão errados — disse. — Também é inegável que uma falsa impressão foi criada sobre o número de membros acusados de antissemitismo. Isso é o que foi exagerado, não a gravidade do problema.