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Poucos na negação: Bolsonaro é um dos últimos líderes globais a ensaiar recuo em relação ao coronavírus

Enquanto presidentes de principais nações aderem abertamente às quarentenas, brasileiro minimizou a gravidade da doença, se colocando ao lado de governante da Bielorrússia
O presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada Foto: Jorge William / Agência O Globo
O presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada Foto: Jorge William / Agência O Globo

RIO — A maioria dos líderes mundiais, mesmo os que no início demonstraram relutância em adotar medidas duras contra a pandemia do novo coronavírus , agora vem pedindo à população dos seus países que fique em casa para frear o ritmo de aumento de casos da Covid-19 . Ao passar dias chamando a doença de “gripezinha” e tentar impedir o isolamento de parte da população que pode ficar em casa, alegando querer proteger a economia, o presidente Jair Bolsonaro tornou-se parte de um grupo pequeno de chefes de Estado ou de governo a minimizar a gravidade da doença — embora, no pronunciamento de terça-feira à noite, ele tenha ensaiado um recuo, dizendo que a epidemia “é o maior desafio de nossa geração”.

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O risco de o brasileiro ficar isolado em sua posição ficou claro na entrevista diária do seu aliado Donald Trump . Na terça-feira, questionado por um repórter se não pensava em impor medidas contra o Brasil , já que Bolsonaro “continua muito ativo” encontrando grupos de pessoas e isso poderia pôr em risco os esforços contra a Covid-19 nos EUA, Trump respondeu, sem dar detalhes, que poderá incluir o Brasil em uma lista de países com viagens suspensas para o território americano.

— Estamos observando muitos países e suas posições. O Brasil, por exemplo, você mencionou o presidente. O Brasil não tinha problemas até há pouco tempo. Agora estão com números subindo. E sim, estamos pensando em um veto — disse o americano.

Posições próximas às que Bolsonaro vem sustentando são verbalizadas por poucos chefes de Estado. Entre eles, Aleksandr Lukashenko , da Bielorússia, que chegou a dizer que frequentar saunas ou beber vodca poderiam ser eficazes no combate ao coronavírus; Gurbanguly Berdimukhamedov , do Turcomenistão, que baniu o uso da palavra coronavírus; e Daniel Ortega, da Nicarágua, que convocou a população à marcha “Amor nos Tempos da Covid-19”. Atualmente, mais de 3,38 bilhões de pessoas em 80 países estão confinadas em suas casas, por decreto ou voluntariamente.

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Mesmo líderes que num primeiro momento relativizaram a doença voltaram atrás. É o caso do próprio Trump . Em janeiro, quando o primeiro caso foi registrado nos EUA, ele disse não estar preocupado . Quando a epidemia cresceu na Europa, ainda minimizava a doença. Finalmente, quando seu país passou a liderar o número de infectados no mundo, acabou se rendendo .

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Boris Johnson , premier britânico, também reviu sua estratégia graças a um estudo que previu meio milhão de mortos no país caso não impusesse medidas mais rigorosas. A demora em agir na Itália, onde governos regionais impulsionaram uma campanha dizendo que a economia não poderia parar , provocou uma explosão de casos . No início de março, porém, o premier Giuseppe Conte impôs quarentena obrigatória. No México, o presidente Andrés Manuel López Obrador chegou a dizer que os mexicanos eram resistentes a calamidades , mas acabou ampliando o isolamento social nesta semana. Vladimir Putin, na Rússia, que fechou a fronteira com a China mas não tomou medidas internas, finalmente ordenou um confinamento que começou a valer ontem.

Entre os líderes que nunca questionaram os riscos da pandemia estão Benjamin Netanyahu, em Israel, e Cyril Ramaphosa, da África do Sul. Na China, depois da tentativa de líderes locais de esconder a doença, Xi Jinping adotou medidas draconianas , fechando a província de Hubei, berço da pandemia. Na Europa, o confinamento ajudou a salvar 59 mil vidas, segundo um estudo britânico. O coronavírus já deixou mais de 40 mil mortos no mundo.

Coronavírus representa desafio a líderes mundiais Foto: Arte O Globo
Coronavírus representa desafio a líderes mundiais Foto: Arte O Globo

Os três grupos

Líderes ao redor do mundo adotam estratégias diferentes frente à Covid-19 Foto: Arte O Globo
Líderes ao redor do mundo adotam estratégias diferentes frente à Covid-19 Foto: Arte O Globo

Líderes ao redor do mundo adotam estratégias diferentes frente à Covid-19 Foto: Arte O Globo
Líderes ao redor do mundo adotam estratégias diferentes frente à Covid-19 Foto: Arte O Globo
Líderes ao redor do mundo adotam estratégias diferentes frente à Covid-19 Foto: Arte O Globo
Líderes ao redor do mundo adotam estratégias diferentes frente à Covid-19 Foto: Arte O Globo

Negacionistas

“Quem tem menos de 40 anos de idade, a chance de óbito é quase zero. Então não tem porque não deixar esse pessoal trabalhar. Afinal de contas, se o vírus mata em alguns casos, a fome também mata”.
JAIR BOLSONARO (Presidente do Brasil)

“Você apenas tem que trabalhar, especialmente agora, no campo. Vá para a sauna, duas ou três vezes por semana, fará bem. Quando você sair da sauna, não apenas lave as mãos, mas também beba 100 mililitros de vodca. O pânico pode nos ferir mais do que o próprio vírus”.
ALEKSANDR LUKASHENKO (Presidente da Bielorrússia)

Aderiram depois de questionar medidas mais duras

“Para superar o impacto da COVID-19, escolhemos a opção de um distanciamento social em grande escala. Temos que tirar lições da experiência de outros países, mas não podemos copiá-la porque cada país tem suas próprias características”.
JOKO WIDODO (Presidente da Indonésia)

Presidente indonésio, Joko Widodo, durante pronunciamento público nos arredores de Jacarta Foto: WILLY KURNIAWAN / REUTERS
Presidente indonésio, Joko Widodo, durante pronunciamento público nos arredores de Jacarta Foto: WILLY KURNIAWAN / REUTERS

“Cada um de nós tem um papel para vencermos essa guerra. Cada cidadão, família e negócio pode fazer a diferença para parar o vírus. É nosso dever patriótico”.
DONALD TRUMP (Presidente americano)

“Todos devemos desistir de algo pelo bem da Itália. Temos que fazer isso agora, e só poderemos se colaborarmos e nos adaptarmos a essas medidas mais rigorosas. Foi por isso que decidi adotar medidas ainda mais severas para conter o avanço e proteger a saúde de todos os cidadãos”.
GIUSEPPE CONTE (Premier italiano)

Primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte anuncia ampliação de quarentena no país Foto: REMO CASILLI / REUTERS
Primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte anuncia ampliação de quarentena no país Foto: REMO CASILLI / REUTERS

“Precisamos ficar em nossas casas, precisamos manter uma distância saudável. É melhor prevenir do que lamentar”.
ANDRÉS MANUEL LÓPEZ OBRADOR (Presidente mexicano)

“Estas são medidas forçadas, são temporárias e forçadas. Mas serão mais curtas quanto mais eficientes forem, e francamente, quanto mais duras forem”.
VLADIMIR PUTIN (Presidente russo)

“Desde o início, nós buscamos implementar medidas corretas no momento certo. Não hesitaremos em ir além, se isso for sugerido por pareceres médicos e de cientistas. É importante para mim ser explícito: sabemos que as coisas vão piorar antes de melhorar”.
BORIS JOHNSON (Premier do Reino Unido)

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou novas medidas para conter o coronavírus Foto: LEON NEAL / Getty Images
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou novas medidas para conter o coronavírus Foto: LEON NEAL / Getty Images

Aderiram sem questionar gravidade da pandemia

“O coronavírus está se espalhando cada vez mais rápido apesar de todos os esforços. Não há outra maneira de permanecer seguro contra o coronavírus. Se temos que parar a propagação, temos que interromper o ciclo de infecção”.
NARENDRA MODI (Premier da Índia)

“Todas as medidas de prevenção e controle tomadas pelo Comitê Central do PCC contra o novo coronavírus têm como objetivo evitar a infecção de mais pessoas e salvar a vida de mais pacientes”.
XI JIPING (Presidente da China)

Xi Jinping, presidente da China Foto: Jorge William / Agência O Globo
Xi Jinping, presidente da China Foto: Jorge William / Agência O Globo

“Será um longo caminho, uma guerra contra um exército invisível. Mas tenho certeza de que faz muito sentido e que os resultados serão favoráveis”.
ALBERTO FERNÁNDEZ (Presidente da Argentina)

“Estamos em guerra. Uma guerra de saúde, mas o inimigo está lá. Invisível, escorregadio. Peço que sejam responsáveis e não entrem em pânico. A França está passando por um período muito difícil e teremos que nos adaptar, mas venceremos”.
EMMANUEL MACRON (Presidente da França)

“Nós, responsáveis públicos, devemos nos deixar guiar pelos especialistas, e apenas por eles, além de estar presentes e combater o único inimigo que nos ameaça: o vírus e seus estragos sanitários, econômicos e sociais. Cada dia que passa é um dia a menos”.
PEDRO SÁNCHEZ (Premier da Espanha)

Em foto divulgada pelo Palácio de Moncloa,o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, preside uma reunião com o comitê técnico encarregado da gestão de crises de coronavírus. Foto: JOSE MARIA CUADRADO JIMENEZ / AFP
Em foto divulgada pelo Palácio de Moncloa,o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, preside uma reunião com o comitê técnico encarregado da gestão de crises de coronavírus. Foto: JOSE MARIA CUADRADO JIMENEZ / AFP

“Digo isso da forma mais clara possível: você deve ficar em casa! Fique em casa, fique vivo. O perigo está à espreita para todos. Tenham cuidado”.
BENJAMIN NETANYAHU (Premier de Israel)

“Declaramos um estado de desastre nacional e vamos ter um mecanismo de gerenciamento integrado e coordenado que se concentrará na prevenção e redução do surto desse vírus”.
CYRIL RAMAPHOSA (Presidente da África do Sul)

“Esse estado (de catástrofe) visa a nos preparar para enfrentar o que está por vir”.
SEBÁSTIAN PIÑERA (Presidente do Chile)