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Presidente da Ucrânia pede para Casa Branca e países ocidentais não difundirem ‘pânico’ sobre ameaça russa

Sem minimizar perigos, Zelensky diz que 'sadismo' não é novidade e que guerra não é iminente ou inevitável
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenksy, em entrevista coletiva nesta sexta-feira Foto: HANDOUT / AFP
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenksy, em entrevista coletiva nesta sexta-feira Foto: HANDOUT / AFP

KIEV — O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, enfaticamente pediu nesta sexta-feira para que os EUA, as outras potências ocidentais e a mídia internacional evitem exagerar em suas descrições dos riscos de uma invasão russa ao seu país.

— Não precisamos desse pânico — disse Zelensky. — Acho que tem que haver uma preparação militar silenciosa e uma diplomacia silenciosa.

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O pedido aconteceu em uma entrevista coletiva um dia após um telefonema entre o presidente ucraniano e o americano, Joe Biden, que provocou grande especulação na imprensa americana.

Citando um alto funcionário do governo ucraniano, muitos veículos informaram que Biden teria dito a Zelensky que uma invasão dos militares russos "era certa" e ocorreria assim que o solo da região congelasse. O site Axios, por exemplo, publicou que fontes confirmaram que os dois presidentes teriam discordado sobre a iminência da ameaça russa, com o lado ucraniano afirmando ter informações de inteligência que minimizavam o risco.

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Nesta sexta-feira, Zelensky disse que a Rússia quer intimidar a Ucrânia e exerce um “sadismo” e “um cinismo contundente”, mas reforçou a impressão de que não considera um ataque algo certo.

Zelensky disse que a situação de segurança nos limites de seu país — em cujas fronteiras há dezenas de milhares de soldados russos posicionados  — não se diferencia muito da mesma época no ano passado e, embora perigosa, não significa que uma guerra seja iminente ou inevitável.

— A probabilidade de ataque existe, não desapareceu e não foi menos grave em 2021 — afirmou. — Não é como se estivéssemos agindo como se fosse o nível mais alto de ameaça. Não vemos nenhum acirramento maior do que já existia.

O presidente não divergiu abertamente de Biden sobre a gravidade da ameaça russa, mas disse diferir no tom em que os comentários públicos sobre a situação devem se feitos, inclusive para atenuar os efeitos sobre a economia ucraniana. Zelensky criticou os relatos “da mídia internacional e mesmo de chefes de Estado respeitados” que sugerem que “já ocorre uma guerra”.

— Quanto esse pânico vai custar ao nosso país? — perguntou. — O maior risco para a Ucrânia é a desestabilização da situação interna.

Zelensky discordou das decisões dos Estados Unidos e do Reino Unido de retirar funcionários diplomáticos não essenciais da Ucrânia, o que ele indicou como uma ação indevidamente alarmante. Ele observou que a Grécia manteve em funcionamento seu consulado na cidade de Mariupol, perto da linha de frente com separatistas apoiados pelos russos.

— Você pode ouvir canhões disparando. Os gregos não tiraram ninguém. Os capitães não devem deixar o navio. Acho que isso daqui não é o Titanic — disse.

Vários representantes disseram nesta semana que esperam um ataque russo para a partir de meados de fevereiro, sem contudo citar a escala ou o objetivo da ação. Nesta sexta-feira, o Pentágono disse que, nas últimas 24 horas, mais forças russas foram movidas para a região.

Nesta sexta-feira, o governo da França comunicou que, em uma conversa entre o seu presidente, Emmanuel Macron, e o da Rússia, Vladimir Putin, o líder russo "não expressou nenhuma intenção ofensiva" contra a Ucrânia e "disse muito claramente que não buscava confrontos".

A Rússia apresentou uma lista de exigências aos Estados Unidos, que os EUA responderam em sigilo nesta semana. Nesta sexta, o chanceler russo, Sergei Lavrov, sugeriu haver uma abertura diplomática para destravar a situação a partir da resposta americana.