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Presidente interina da Bolívia anuncia que Justiça emitirá mandado de prisão contra Morales

Áñez diz que Morales 'nunca respeitou nada, nem mesmo a própria Constituição'; ele seria investigado por supostos crimes de sedição e terrorismo
Jeanine Áñez participa de cerimônia militar em Tarija Foto: JORGE BERNAL / AFP
Jeanine Áñez participa de cerimônia militar em Tarija Foto: JORGE BERNAL / AFP

LA PAZ —  A presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, anunciou no sábado um mandado de prisão iminente contra o ex-presidente Evo Morales , refugiado na Argentina , por supostos crimes de sedição e terrorismo. Sem dar mais detalhes, Áñez disse a jornalistas, durante um ato militar em Tarija, que Morales “nunca respeitou nada, nem mesmo a própria Constituição”, por isso, se ele retornar à Bolívia “sabe que precisa dar respostas ao país, (já que) tem contas pendentes na Justiça”.

— Nos próximos dias, um mandado de prisão será emitido porque fizemos as queixas pertinentes — disse Áñez, que se autoproclamou presidente interina há um mês.

No Twitter, o ex-presidente reagiu: “A golpista Áñez, assim como nas ditaduras, ordena e anuncia um mandado de prisão contra mim, por terrorismo e sedição. Quando aqueles que cometeram sedição, terrorismo e genocídio foram ela, (Luis Fernando) Camacho e (Carlos) Mesa, matando, assassinando e sequestrando minhas irmãs e irmãos”.

No mesmo dia, o senador oficialista Óscar Ortiz detalhou uma investigação contra um conglomerado de empresas supostamente ligadas ao ex-presidente e a seu vice, Álvaro García Linera.  As empresas envolvidas são as redes de televisão ATB e PAT, o jornal La Razón, a empresa Gravetal e a administradora dos fundos de aposentadoria ProVida.

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— O Ministério Público tem que investigar esse grupo de empresas para que possamos conhecer a essência da verdade sobre quem eram os verdadeiros donos e onde eles teriam conseguido os recursos para controlá-los — disse o legislador a jornalistas. — Obviamente, nesses casos, os nomes dos verdadeiros donos não aparecem.

Para Ortiz, o caso “demonstra o abuso de poder, transformado em benefícios econômicos”. Segundo ele, já existe um mandado de prisão contra o executivo da rede ATB, Marcelo Hurtado, por lucros ilegais e crimes financeiros.

Hurtado é representante legal apenas da ATB, mas, mesmo que não apareça oficialmente como sócio das outras “se presume” que seja seu proprietário, segundo o senador. Em comunicado, o empresário, no entanto, negou a denúncia e disse que não tem nenhum relacionamento com o empresário Carlos Gill (dono do jornal La Rázon), com Morales ou Linera, ou com as empresas La Razón, Gravetal e a rede PAT. Seu único relacionamento comercial é com a rede ATB “como um dos sócios e formalmente como representante legal executivo”, diz a nota.

O ex-presidente, por sua vez, disse que não foram apresentadas provas contra ele. “Aqueles que me acusam de possuir um conglomerado de empresas, não apresentaram uma única prova de que sou sócio ou proprietário delas. É outra mentira vil, montada pelo governo de fato (...) em seu plano de perseguição e acosso”, escreveu.

Morales está na Argentina como refugiado desde quinta-feira, onde tenta finalizar os detalhes da candidatura à Presidência do Movimento ao Socialismo (MAS), após se exilar por um mês no México. De lá, o ex-presidente vêm tuitando com frequência. Neste domingo, Santiago Cafiero, chefe de gabinete do novo presidente Alberto Fernández, contradisse o ministro das Relações Exteriores Felipe Solá, que afirmara ter pedido a Morales que se abstivesse de fazer declarações políticas.

— O refugiado tem os mesmos direitos que um cidadão argentino, como a liberdade de se expressar, de declarar, de pensar e decidir o que quiser. Nós não vamos restringir suas liberdades — afirmou Cafiero ao jornal La Nación.

Dentre os possíveis candidatos do MAS, que deve ser definido até o fim de dezembro, estão o do jovem líder cocaleiro e cientista político Andrónico Rodríguez, de apenas 30 anos; o ex-ministro de Finanças Luis Arce Catacora, que se exilou no México há uma semana; e o ex-chanceler David Choquehuanca. Luis Fernando Camacho, presidente do poderoso Comitê Cívico de Santa Cruz e o ex-presidente Carlos Mesa já anunciaram que participarão da disputa. Añez, por sua vez, desconversa sobre seu interesse em participar das eleições, mas nunca negou com todas as letras que será candidata.

Esta semana, devem ser definidos os seis novos porta-vozes do Tribunal Supremo Eleitoral, órgão que foi acusado de fraude durante a votação que deu vitória a Morales, mas acabou sendo contestada pela Organização de Estados Americanos (OEA), desencadeando uma série de protestos que levaram à renúncia do ex-presidente. Eles se unirão a Salvador Romero, já designado para o cargo pela presidente interina.