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Promotoria pede três anos de prisão para guarda de campo de concentração nazista

Setenta e cinco anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, Justiça alemã ainda julga possíveis criminosos do período em que Adolf Hitler governou o país
Aos 93 anos, Bruno Dey passa o julgamento cobrindo o rosto com uma pasta Foto: DANIEL BOCKWOLDT / AFP
Aos 93 anos, Bruno Dey passa o julgamento cobrindo o rosto com uma pasta Foto: DANIEL BOCKWOLDT / AFP

HAMBURGO, ALE — Um dos últimos julgamentos de uma pessoa responsável pelos crimes nos campos de concentração nazistas entrou nesta segunda-feira em sua fase final, com a acusação da promotoria contra um ex-guarda de 93 anos, apontado como cúmplice no assassinato de mais de 5 mil pessoas durante a Segunda Guerra Mundial.

Bruno Dey, ex-guarda da SS, a organização paramilitar nazista, é acusado de cumplicidade no assassinato de 5.230 pessoas enquanto trabalhava no campo de Stutthof, perto do que era então Danzig, hoje Gdansk na Polônia.

Dey está sendo julgado em um tribunal de menores porque tinha entre 17 e 18 anos na época dos eventos. O veredicto será anunciado em 23 de julho.

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O réu, agora padeiro aposentado, participou da audiência em cadeira de rodas acompanhado por uma enfermeira e cobrindo o rosto com uma pasta.

Dey nega qualquer culpa pelo que aconteceu no campo.

Sua defesa insistiu que ele não ingressou voluntariamente na SS antes de servir no campo de agosto de 1944 a abril de 1945 e que acabou designado para lá porque uma doença cardíaca o excluiu do serviço na linha de frente da guerra.

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Mas os promotores argumentam que seu envolvimento foi crucial para os assassinatos, pois seu tempo na SS coincidiu com a ordem da "Solução Final" de exterminar sistematicamente os judeus por meio de gás, fome ou negação de assistência médica.

'Figuras esqueléticas'

Durante seu testemunho em maio, Dey afirmou ao tribunal que queria esquecer seu tempo no campo.

— Não quero voltar ao passado — declarou ao tribunal de Hamburgo.

A juíza Anna Meier-Goering perguntou se Dey havia falado com seus filhos e netos sobre o tempo em que foi guarda em Stutthof.

— Não tenho culpa do que aconteceu naquela época — respondeu Dey. — Não contribuí com nada, além de ficar de guarda. Mas fui forçado a fazê-lo, era uma ordem.

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Dey reconheceu no ano passado que estava ciente das câmaras de gás do campo e admitiu ter visto "figuras esqueléticas, pessoas que sofreram", mas insistiu que não era culpado.

Os nazistas estabeleceram o campo de Stutthof em 1939, inicialmente usando-o para deter prisioneiros políticos poloneses.

No final, recebeu 110 mil detidos, incluindo muitos judeus. Cerca de 65 mil pessoas morreram nesse campo.

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Corrida contra o tempo

Dey, que agora vive em Hamburgo, tornou-se padeiro depois da guerra. Casado e pai de duas filhas, complementava sua renda trabalhando como caminhoneiro, antes de assumir um emprego na manutenção de edifícios.

Ele entrou na mira dos promotores depois de uma decisão histórica de 2011 contra o ex-guarda do campo de Sobibor John Demjanjuk, acusado de fazer parte da máquina de matar nazista.

Desde então, a Alemanha se esforçou para processar pela mesma razão os sobreviventes da SS.

O ucraniano-americano Demjanjuk foi condenado por participação no assassinato de quase 30 mil judeus no campo de extermínio de Sobibor e morreu enquanto aguardava o julgamento de sua apelação.

O tribunal decidiu que, como guarda do campo, estava automaticamente envolvido nos assassinatos realizados no local na época.

O caso estabeleceu um novo precedente legal e levou a várias condenações adicionais de oficiais nazistas, incluindo o do "contador de Auschwitz", Oscar Groening, que morreu aos 96 anos antes de ser preso.