Mundo Guerra na Ucrânia

Putin adverte presidente finlandês que abandonar a neutralidade e aderir à Otan é um erro

Líderes conversaram ao telefone após a Finlândia oficializar a intenção de se juntar à aliança militar; para governo da Rússia, atitude é uma ameaça de segurança que demandará respostas
Presidente da Rússia, Vladimir Putin Foto: SPUTNIK / via REUTERS
Presidente da Rússia, Vladimir Putin Foto: SPUTNIK / via REUTERS

MOSCOU — O presidente russo, Vladimir Putin , advertiu neste sábado o presidente finlandês, Sauli Niinisto, que abandonar a neutralidade e aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte ( Otan , aliança militar liderada pelos EUA), medida que corresponderia a uma mudança de posição histórica, é um erro que pode prejudicar as relações entre os dois países.

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Os líderes conversaram por telefone dois dias após a Finlândia oficializar a intenção de se juntar à aliança militar . O governo da Rússia descreveu a atitude como uma ameaça de segurança que demandará respostas.

Neste sábado, a Rússia suspendeu o fornecimento de eletricidade ao país um dia após a operadora RAO Nordic, subsidiária com sede em Helsinque do grupo estatal de eletricidade russo InterRAO, ter justificado o corte citando problemas com pagamentos. A Finlândia informou que a Rússia fornece apenas uma pequena porcentagem da eletricidade do país, que pode ser substituída por fontes alternativas.

A Rússia compartilha uma fronteira de 1.300 km com a Finlândia. Assim, se Helsinque realmente entrar na Otan, mais que dobrará a fronteira entre a organização ocidental e a Rússia, com os soldados da aliança a algumas horas de carro da periferia norte de São Petersburgo.

De acordo com o porta-voz de Niinisto, o presidente disse a Putin "que as demandas russas feitas no final de 2021 contra adesão dos países à Otan e a invasão da Ucrânia alteraram o ambiente de segurança da Finlândia", afirmando, porém, que a Finlândia quer manter relações de "maneira correta e profissional" com Moscou.

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Em resposta, Putin “reforçou que abandonar a política tradicional de neutralidade militar seria um erro, uma vez que não há ameaças à segurança da Finlândia. Tal mudança na política externa do país pode ter um impacto negativo nas relações russo-finlandesas”, afirmou o Kremlin.

A ligação foi descrita como uma “troca franca de pontos de vista”.

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No dia do anúncio, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que os finlandeses serão "calorosamente recebidos" na aliança e prometeu um processo de adesão "suave e rápido".

O governo da Suécia também indicou que uma adesão à Otan seria benéfica para o país. A decisão dos dois países nórdicos de abandonar a neutralidade militar que mantiveram durante a Guerra Fria constitui uma das maiores mudanças na segurança europeia em décadas.

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No entanto, o governo russo afirmou que será forçado a “tomar medidas de retaliação, tanto de natureza militar-técnica quanto de outra natureza, a fim de impedir que surjam ameaças à sua segurança nacional".

A candidatura de adesão da Finlândia deve ser oficializada neste domingo.

Antes do telefonema entre Putin e Niinisto, o vice-chanceler da Rússia, Alexander Grushko, afirmou que Moscou tomará medidas de precaução adequadas se a Otan destacar forças nucleares e infraestrutura perto da fronteita russa.

— Seria necessário responder... adotando medidas adequadas de precaução que garantiriam a viabilidade da dissuasão — disse Grushko citado pela Interfax.

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Guerra híbrida total

Também neste sábado, o chanceler russo, Sergei Lavrov, disse que Moscou era alvo de uma "guerra híbrida total" do Ocidente, mas que resistirá às sanções ao forjar parcerias mais profundas com a China , Índia entre outros países.

Em um discurso para marcar o 80º dia desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, Lavrov apontou para a série de sanções impostas pelo Ocidente em uma tentativa de retratar a Rússia como alvo, e não como perpetrador da agressão.

Ministro russo fez discurso no Conselho de Diplomacia e Defesa
Ministro russo fez discurso no Conselho de Diplomacia e Defesa

— O Ocidente coletivamente declarou uma guerra híbrida total contra nós, e é difícl prever por quanto tempo tudo isso vai durar, mas é claro que as consequências serão sentidos por todos, sem exceção — disse. — Fizemos tudo para evitar um confronto direto, mas agora que esse desafio foi lançado, obviamente o aceitamos. As sanções não nos são estranhas: sempre estiveram lá, de uma forma ou de outra.

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As sanções contra as principais companhias russas, bancos e elite política foram impostas para punir o país por uma guerra que deixou milhares de mortos, forçou o deslocamento de milhões , desequilibrou os mercados de energia e exacerbou uma crise alimentar global ao aumentar o preço dos grãos, óleos de cozinha e fertilizantes.

Lavrov citou as sanções, que incluíram o confisco de quase metade de seus US$ 640 billhões em reservas externas, como evidencia de que ninguém está a salvo contra expropriação e "pirataria do Estado", assim como da necessidade de os paises diminuírem sua dependência em relação aos EUA e seus aliados.

Os esforços do Ocidente para isolar a Rússia estão fadados ao fracasso, disse.

De volta de uma viagem recente ao Oriente Médio, ele citou, além da China e da Índia, importantes laços da Rússia com o Egito, Argélia e nações do Golfo, assim como Ásia, África e América Latina.

Em um exemplo de um efeito colateral das sanções, a Rússia vendeu duas vezes mais petróleo para a Índia nos dois meses posteriores a 24 de fevereiro, quando teve início a invasão, do que em todo o ano de 2021, já que Nova Délhi viu uma oportunidade de comprar o produto com desconto à medida que os países do Ocidente cortaram as importações.

Mas apesar de benefícios pontuais, a economia russa deve encolher de 8,8% a 12,4%, de acordo com um documento do Ministério da Economia visto pela Reuters, sem possibilidade de retornar para seu tamanho anterior à invasão antes de 2026.

A inflação anual chegou em abril a 17,83%, o maior nível desde 2002.