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Quem são os radicais das Farc que anunciaram o retorno às armas

Márquez, Santrich e El Paisa, líderes guerrilheiros ficaram insatisfeitos com rumos do processo de paz após o acordo de 2016

Imagem de vídeo no YouTube divulgado nesta quinta mostra o ex-número 2 das Farc, Ivan Márquez (esquerda) e o colega rebelde Jesus Santrich (direita) anunciando a volta às armas em razão do que chamou de ‘traição’ do Estado colombiano ao acordo de paz de 2016
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PEDRO UGARTE/AFP
Imagem de vídeo no YouTube divulgado nesta quinta mostra o ex-número 2 das Farc, Ivan Márquez (esquerda) e o colega rebelde Jesus Santrich (direita) anunciando a volta às armas em razão do que chamou de ‘traição’ do Estado colombiano ao acordo de paz de 2016 Foto: PEDRO UGARTE/AFP

BOGOTÁ - Seguindo uma linha dura e com forte influência sobre os ex-combatentes da antiga guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Iván Márquez , Jesús Santrich e Hernán Darío Velásquez , conhecido como El Paisa , anunciaram nesta quinta-feira o retorno às armas depois de participarem das negociações para a assinatura de um acordo de paz aplaudido pelo mundo em 2016 que tentava acabar com um conflito de meio século na Colômbia .

Márquez, o líder

Iván Márquez, ex-número dois das Farc, fala durante entrevista de abril de 2018 em Bogotá Foto: LUIS ACOSTA/AFP/10-04-2018
Iván Márquez, ex-número dois das Farc, fala durante entrevista de abril de 2018 em Bogotá Foto: LUIS ACOSTA/AFP/10-04-2018

Seu nome verdadeiro é Luciano Marín, tem 64 anos e, antes de pegar em armas pela primeira vez, na década de 1980, foi seminarista, estudou filosofia e militou no Partido Comunista. Márquez foi o principal negociador dos rebeldes no processo de paz iniciado há sete anos pelo governo do ex-presidente Juan Manuel Santos. À época, era o segundo das Farc, atrás de Rodrigo Londoño (Timochenko), hoje presidente do partido que emergiu do acordo.

Em seu livro “Revelações no final de uma guerra”, o negociador do governo, Humberto de la Calle, afirma que a nomeação de Márquez como protagonista do lado rebelde nas negociações era uma estratégia de Londoño para que Marquéz se comprometesse com o acordo, diante de seu ceticismo e militarismo.

Márquez desapareceu há um ano depois de denunciar descumprimentos do acordo de paz pelo Estado. Ele nunca ocupou a cadeira de senador que lhe cabia como parte do pacto e desde então liderou uma divisão política dentro do novo partido. Contra ele pesam dezenas de mandados de prisão por crimes e atentados. Além disso, os Estados Unidos o acusam de usar a política das Farc para direcionar e controlar a produção e distribuição de “toneladas” de cocaína.

Santrich, o braço direito

Ex-guerrilheiro Jesus Santrich fala a imprensa após ser libertado em aio de 2019 Foto: REUTERS/30-05-2019
Ex-guerrilheiro Jesus Santrich fala a imprensa após ser libertado em aio de 2019 Foto: REUTERS/30-05-2019

Jesús Santrich, um dos negociadores em Havana, era desconhecido dos colombianos antes da assinatura do pacto. Seu nome ficou famoso quando os diálogos começaram e ele começou a mostrar atitudes desafiadoras e contundentes.

Nascido em 1967, Seusis Pausivas Hernández, seu nome real, sofre de uma deficiência visual aguda que o obriga a usar óculos escuros. Cresceu em uma casa de professores, estudou direito, formou-se como professor de ciências sociais e militou na juventude comunista antes de se armar aos 21 anos. Artista amador, escreve, declama poesia e pinta.

Santrich conseguiu assumir seu assento no Congresso, mas foi preso em 2018 por suspeita de conspiração para traficar cocaína para os Estados Unidos. Ele ficou detido por um ano e desapareceu em julho após ser libertado por ordem judicial. Santrich sempre alegou inocência e chamou as acusações de “montagens”. Contra ele há um mandado de prisão internacional .

Considerado como braço direito de Márquez, sua situação desencadeou a clandestinidade do líder rebelde e provocou críticas aos oponentes do acordo. Ele aparece ao lado de Marquéz no vídeo em que anunciam seu retorno às armas com um rifle na mão e o pescoço coberto por um lenço palestino.

El Paisa, o temido

Hernán Darío Velásquez Saldarriaga, o 'El Paisa', comandou por mais de duas décadas a principal força de elite da guerrilh Foto: Reprodução
Hernán Darío Velásquez Saldarriaga, o 'El Paisa', comandou por mais de duas décadas a principal força de elite da guerrilh Foto: Reprodução

Hernán Darío Velásquez Saldarriaga ficou famoso na Colômbia pela dureza de suas ações armadas. El Paisa, como é conhecido, comandou por mais de duas décadas a principal força de elite da guerrilha, conhecida como coluna Teófilo Forero, e foi membro da liderança das Farc.

Velásquez tem dez condenações por homicídio e terrorismo e 27 por sequestro. Além disso, é acusado de estar envolvido no pior ataque urbano das Farc: a explosão de um carro-bomba no clube social El Nogal, em Bogotá, que deixou 36 mortos e dezenas de feridos em fevereiro de 2003.

Também participou das negociações em Havana. Desapareceu em meados de 2018, junto com Iván Márquez, de uma área de selva no Sul do país onde estava realizando seu processo de reintegração.