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Rádio independente russa fecha após pressão por cobertura da Ucrânia

Outro canal de TV independente e opositor ao governo de Putin também anunciou interrupção "temporária" das operações
Editor-chefe da Eco de Moscou, Aleksei Venediktov. A rádio, importante na mídia russa, anunciou a dissolução após pressão do governo sobre a cobertura da invasão da Ucrânia Foto: - / AFP
Editor-chefe da Eco de Moscou, Aleksei Venediktov. A rádio, importante na mídia russa, anunciou a dissolução após pressão do governo sobre a cobertura da invasão da Ucrânia Foto: - / AFP

MOSCOU — A estação de rádio Eco de Moscou (Ekho Moskvy, no original), um dos últimos meios de comunicação liberais da Rússia, foi dissolvida por seu conselho após ficar sob pressão por sua cobertura da guerra na Ucrânia, disse seu editor nesta quinta-feira.

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A estação, um dos principais canais de notícias e assuntos atuais da Rússia, foi retirada do ar na terça-feira, embora ainda estivesse transmitindo no YouTube nesta quinta, após o anúncio da decisão do conselho.

O desaparecimento da Eco de Moscou das ondas de rádio foi um grande golpe para a mídia independente na Rússia após anos de intensificação da pressão das autoridades.

— O conselho de direção da Eco de Moscou decidiu por maioria de votos liquidar o canal de rádio e o seu site — disse o editor-chefe Alexei Venediktov no aplicativo de mensagens Telegram.

Venediktov disse à Reuters no início desta semana que a estação não abandonaria a linha editorial independente que tem sido sua marca registrada por três décadas, declarando que as “políticas editoriais não mudarão”.

Outro canal independente e opositor ao governo de Putin, a TV Chuva (Dojd, no original), também anunciou nesta quinta a interrupção temporária de suas operações.

A decisão do conselho da Eco de Moscou veio depois que o gabinete da Procuradoria Geral bloqueou os sites da rádio e também da TV Chuva por causa da cobertura do conflito. A medida, segundo o gabinete, foi motivada pela “publicação sistemática e direcionada de seus sites de informações pedindo atividades extremistas, violência e informações deliberadamente falsas sobre as ações das forças russas como parte de uma operação especial na Ucrânia”.

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A Rússia rejeita o termo “invasão” e diz que as ações que lançou em 24 de fevereiro não foram projetadas para ocupar território, mas para destruir as capacidades militares da Ucrânia e capturar aqueles que considera como “nacionalistas perigosos” — um pretexto rejeitado pela Ucrânia e pelo Ocidente como propaganda infundada.

— Precisamos de força para entender como podemos trabalhar daqui — disse a diretora geral da TV Chuva, Natalya Sindeeva, em comunicado anunciando a suspensão de sua produção. — Nós realmente esperamos que voltemos à transmissão e continuemos nosso trabalho.

Natalya acrescentou que o canal nunca teve uma “decisão tão difícil pela frente”, insistindo que o bloqueio será apenas “temporário”.

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Ambiente difícil

A Eco de Moscou afirmou na terça-feira que as acusações contra ela eram infundadas e ofensivas, e que iria combatê-las nos tribunais.

Os jornalistas russos enfrentaram um ambiente cada vez mais difícil nos últimos anos, com muitos sendo designados pelas autoridades como “agentes estrangeiros”, um status que os expõe à aversão pública.

A pressão aumentou desde que o presidente Vladimir Putin ordenou a invasão da Ucrânia, com a maioria dos principais meios de comunicação e organizações controladas pelo Estado aderindo à linguagem usada pelo Kremlin para descrever a guerra.

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O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, recusou-se a comentar diretamente sobre a situação da Eco de Moscou, dizendo que a decisão de fechar foi tomada por seu conselho de administração.

— A estação de rádio violou a lei. O direito do gabinete do procurador-geral de tomar as medidas apropriadas foi usado — disse ele em comunicado.

Questionado se a Eco de Moscou poderia retomar as operações no futuro, Peskov disse que isso dependia dos proprietários da estação.

Simultaneamente, o Kremlin se prepara para reforçar seu arsenal repressivo. Isso por meio de um projeto de lei, que prevê até 15 anos de prisão para qualquer publicação de “fake news” sobre o Exército russo, cujo texto será examinado na sexta-feira na Duma (Câmara baixa do Parlamento).