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Relatório final da OEA sobre eleições na Bolívia cita 'manipulação dolosa'

Estatísticos divulgam carta em que contestam organização e dizem que resultado foi legítimo
O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, em uma entrevista coletiva na Cidade do México Foto: LUIS CORTES / REUTERS
O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, em uma entrevista coletiva na Cidade do México Foto: LUIS CORTES / REUTERS

WASHINGTON - O relatório final da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre as eleições presidenciais de 20 de outubro na Bolívia diz que o resultado eleitoral sofreu uma "manipulação maliciosa" e não pode ser validado.

“Houve ações deliberadas com o intuito de manipular o resultado da eleição. Foram ações maliciosas que pretendiam afetar o curso do processo eleitoral de acordo com o que foi planejado oficialmente”, disseram os especialistas em seu relatório final, divulgado na noite desta quarta-feira. Alegações de irregularidades no processo levaram o então presidente da Bolívia, Evo Morales, a renunciar em 10 de novembro, após sofrer pressões das Forças Armadas para fazê-lo.

O relatório diz que servidores secretos acessaram o resultado após a eleição e manipularam a contagem eleitoral; que ações deliberadas foram tomadas para impedir o controle da empresa de auditoria contratada; que  testes caligráficos apontam que as mesmas pessoas preencheram várias cédulas; e que os últimos 5% dos votos relatados mostraram uma tendência "altamente improvável", entre outros.

Morales, que se diz vítima de um golpe de Estado e está exilado no México, afirma que a OEA é corresponsável por sua saída do poder e que o relatório da organização é falho. Um manifesto divulgado nesta quarta-feira, assinado por mais de 100 especialistas internacionais em economia e estatística, endossa as alegações do ex-presidente e nega ter havido fraude na Bolívia.

O documento é assinado por economistas e acadêmicos de universidades como Harvard, Cambridge, e Toronto, entre outros, e pede que a OEA "retire suas declarações enganosas sobre as eleições".

Segundo esses especialistas, a explicação do aumento da margem nos 5% finais dos votos é "bastante simples" e "baseia-se no fato de que as áreas que contaram seus votos mais tarde foram mais pró-Morales do que as áreas que contaram seus votos anteriormente".

Os signatários dizem que "não é incomum que os resultados de uma eleição tenham um viés de localização geográfica, o que significa que os resultados podem variar dependendo de quando os votos nas diferentes áreas são contados".

"Isso foi demonstrado através da análise estatística e também através de uma análise mais simples das diferenças entre as preferências políticas das áreas que informaram seus votos antes e as que foram relatadas posteriormente", enfatizam.

Outro estudo independente de um especialista em fraudes eleitorais da Universidade de Michigan questiona a avaliação da OEA.

Morales renunciou em 10 de novembro depois de perder o apoio das Forças Armadas e da polícia e foi substituído provisoriamente pela senadora de direita Jeanine Áñez, que se autoproclamou presidente três dias depois.

De acordo com os resultados finais divulgados em 25 de outubro, Morales foi declarado vencedor com 47,08% dos votos, contra 36,51% para o adversário Carlos Mesa. Sob o sistema eleitoral boliviano, ele foi declarado eleito para um novo mandato sem a necessidade de segundo turno.