Mundo

'Representamos 4 anos de conquistas, mas elas não são suficientes', diz deputada portuguesa do Bloco de Esquerda

Joana Mortágua diz que Portugal ainda está muito frágil socialmente para ter superávit fiscal, como deseja o primeiro-ministro António Costa
Joana Mortágua: "Muita coisa que aconteceu nestes quatro anos em Portugal só foi possível por causa do Bloco de Esquerda" Foto: Paulete Matos / Divulgação
Joana Mortágua: "Muita coisa que aconteceu nestes quatro anos em Portugal só foi possível por causa do Bloco de Esquerda" Foto: Paulete Matos / Divulgação

LISBOA - Integrante da comissão política e do secretariado nacional do Bloco de Esquerda, que desde 2015 participa de uma coalizão informal com o Partido Socialista do primeiro-ministro português António Costa, Joana Mortágua comenta, em entrevista ao GLOBO, a possibilidade do fim da chamada Geringonça que governou Portugal nos últimos quatro anos. Deputada, ela é candidata à reeleição neste domingo.

A Geringonça continua?

Existe um acordo parlamentar que apoia o governo minoritário socialista. Este contexto irá se alterar radicalmente nas próximas eleições. Nada indica que a direita virá a ter a maioria. E, se o governo socialista tiver a maioria absoluta, não haverá chance ou contexto para um novo acordo parlamentar.

Qual a posição do Bloco de Esquerda?

Temos uma afirmação muito clara dentro de um projeto para a sociedade. E vamos querer discutir após as eleições.

Eleições em Portugal
O que apontam as pesquisas
em % de votos
38%
5%
28%
10%
9%
Centro Democrático Social (direita)
Partido Social- Democrata
(centro-direita)
Bloco de Esquerda
Outros
Partido
Socialista
(centro-esquerda)
7%
3%
Coligação Democrática Unitária (comunistas e verdes)
Pessoas- Animais-
Natureza
Como ficaria a composição do Parlamento
Em número de cadeiras (para a maioria, são necessários 116 deputados)
104 a 114 deputados
PS
PSD
BE
CDU
CDS
PAN
73 a 83 deputados
16 a 24 deputados
9 a 15 deputados
5 ou 10 deputados
2 a 5 deputados
Fonte:ISC/ISCTE para Expresso e SIC
Eleições em Portugal
O que apontam as pesquisas
em % de votos
38%
Partido Socialista
(centro-esquerda)
28%
Partido Social- Democrata
(centro-direita)
10%
Bloco de Esquerda
7%
Coligação Democrática Unitária
5%
Centro Democrático Social
3%
Pessoas-Animais-Natureza
9%
Outros
Como ficaria a composição
do Parlamento
Em número de cadeiras (para a maioria,
são necessários 116 deputados)
104 a 114
PS
PSD
BE
CDU
CDS
PAN
73 a 83
16 a 24
9 a 15
5 ou 10
2 a 5
Fonte:ISC/ISCTE para Expresso e SIC

O PS não parece convicto em reeditar o acordo.

Sobre as escolhas do PS, só o PS falará. Mas o que interessa agora é se o PS quer se libertar da esquerda e fazer uma política diferente da feita nestes quatro anos. Caso contrário, a esquerda não seria um obstáculo.

LEIA MAIS: 'Geringonça' que uniu esquerdas em Portugal corre risco de acabar após eleição deste domingo

Em uma Europa onde a direita cresce, encerrar um acordo das esquerdas não é abrir espaço?

O caminho iniciado há quatro anos tem contribuído para que Portugal tenha alguma resistência ao crescimento de movimentos de direita. Nós representamos e queremos representar este patrimônio dos últimos quatros anos de conquistas. Mas entendemos que elas foram insuficientes.

Como será possível manter as contas públicas em dia e atender aos apelos de reajustes para o funcionalismo?

É um compromisso do Bloco preservar e valorizar as carreiras dos funcionários públicos que foram maltratados. É preciso dignificar a carreira dos professores e dos médicos com escolas públicas e Sistema Nacional de Saúde de qualidade.

Existiu uma tentativa na campanha de tirar votos do Bloco para travar sua influência no futuro?

Nós sabemos que muitas das coisas que conseguimos fazer nestes quatro anos só aconteceram porque o Bloco de Esquerda foi capaz de propor medidas importantes, como a regularização de milhares de trabalhadores precários do Estado, por exemplo, e a redução do imposto sobre a potência de energia contratada. O PS não as queria. Se a esquerda agora é empecilho, o que querem fazer? O PS é o que é. É conhecido por não ter uma governação à esquerda do ponto de vista que consideramos essencial.

LEIA AINDA: Veja como os brasileiros se posicionam nas eleições em Portugal e como elas podem afetar suas vidas

O debate econômico sobressaiu na campanha com um tom de ajuste nas contas. Acredita serem possíveis mais investimentos públicos na próxima legislatura?

Estas contas são feitas de uma maneira um pouco errada, não é? Este governo tem uma estratégia, que é uma estratégia socialista, de conseguir superávits orçamentários expressivos, mas que não permitem investimentos públicos. E nós achamos que o país ainda está demasiado frágil no campo social para o governo ter ambição de apresentar superávit como se fosse um show off enquanto ainda há tanto a resolver em saúde, educação, transportes públicos e na própria capacidade de investimento na economia.

A redução da carga fiscal, reivindicação do Bloco, foi suficiente nesta legislatura? O que esperar na próxima?

Este governo, por conta dos acordos feitos à esquerda, retirou todos os aumentos de impostos realizados anteriormente. Houve uma redução sobre a taxa de imposto de renda. Mas ainda há acertos a fazer no ‎IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado) e nós temos propostas para mais possibilidades do ponto de vista fiscal em relação às grandes empresas e ao regime de vistos gold (permissão de residência a estrangeiros mediante investimento a partir de € 500 mil) que permitirão uma importante receita para o país.