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Rodrigo Duterte, presidente filipino, anuncia que vai se retirar da política

Há especulações sobre a candidatura de sua filha, Sara Duterte-Carpio. Fazer o sucessor pode proteger Duterte de ações legais pela morte de milhares de filipinos
O presidente das Filipinas Rodrigo Duterte ameaçou, em pronunciamento televisionado, prender quem não tomar vacina Foto: LEAN DAVAL JR / Reuters
O presidente das Filipinas Rodrigo Duterte ameaçou, em pronunciamento televisionado, prender quem não tomar vacina Foto: LEAN DAVAL JR / Reuters

MANILA — O  presidente Rodrigo Duterte, das Filipinas, anunciou hoje a sua aposentadoriua  no lugar de buscar a vice-presidência no ano que vem. O anúncio foi considerado uma surpresa porque revira todo um plano que pretendia mantê-lo na política nacional após o término de seu mandato presidencial.

A Constituição das Filipinas limita os presidentes a um único mandato de seis anos. Mas Duterte anunciou que concorreria à vice-presidência na eleição de maio, e seu ex-assessor-chefe, o senador Christopher Lawrence Go, deveria concorrer à presidência.

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No sábado, entretanto, Go apresentou documentos declarando que ele, e não Duterte, se candidataria a vice-presidente. Os dois apareceram de mãos erguidas em uma demonstração de união.

Referindo-se a pesquisas de opinião que indicavam oposição pública a seu plano,  Duterte, 76, disse que “em obediência à vontade do povo, que afinal me colocou na presidência há muitos anos, agora digo a meus compatriotas que eu seguirei seus desejos". “Hoje, anuncio minha aposentadoria. Agradeço a todos ”, disse ele, sem dar nenhuma indicação de que planeja deixar o cargo antes do final de seu mandato em junho próximo.

O anúncio de Duterte pareceu deixar o campo aberto para sua filha, Sara Duterte-Carpio, que havia dito anteriormente que não concorreria à presidência se seu pai fosse candidato na eleição.

"Isso permite que Sara Duterte se apresente", afirma Antonio La Vina, professor de Direito e política na Universidade Ateneo de Manila. Mas La Vina disse que não pode descartar a possibilidade de que Duterte mude de ideia e seja o substituto de Go.


Os candidatos têm até sexta-feira para se inscrever, mas as retiradas e substituições são permitidas até 15 de novembro, deixando espaço para mudanças de última hora, como a entrada de Duterte nas eleições de 2016, que ele venceu por uma margem colossal.

O boxeador Manny Pacquiao também anunciou sua candidatura à presidência. Pacquiao, um senador filipino, já foi aliado de Duterte, mas recentemente criticou o presidente, acusando seu governo de corrupção.

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No mês passado, o Tribunal Criminal Internaciona autorizou uma investigação minuciosa sobre a sangrenta guerra de Duterte contra as drogas, que deixou milhares de pessoas mortas desde que ele assumiu o cargo em 2016. Os críticos de Duterte nas Filipinas viram seu plano de concorrer à vice-presidência - com um aliado próximo, Lawrence Go, como presidente - como uma forma de permanecer no poder e se proteger da acusação. Go não se desculpou por milhares de filipinos mortos a tiros por policiais e vigilantes, supostamente por estarem envolvidos com narcóticos. “Deixe o público julgar se seus filhos se sentem mais seguros agora, com menos viciados e crimes nas ruas”, disse Go.

Os analistas políticos afirmam que Duterte precisa conseguir fazer o sucessor para protegê-lo de ações legais (tanto nas Filipinas como em cortes internacionais).  O Tribunal Penal Internacional disse no mês passado que a guerra às drogas parecia ter sido um ataque sistemático contra a população civil. Um advogado de Duterte disse que representantes do Tribunal de Haia não teriam permissão para entrar nas Filipinas.