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Saiba mais sobre as últimas grandes guerras na Europa: Bálcãs e Geórgia

Conflitos tiveram relação com o status de minorias e ajudaram a moldar posições, inclusive da Rússia, sobre o papel da Otan na Europa
Georgianos observam prédio atingido por bombardeios russos na cidade de Gori, no dia 9 de agosto de 2008 Foto: DIMITAR DILKOFF / AFP
Georgianos observam prédio atingido por bombardeios russos na cidade de Gori, no dia 9 de agosto de 2008 Foto: DIMITAR DILKOFF / AFP

O início da operação militar russa na Ucrânia evoca os dois grandes conflitos ocorridos na Europa depois do fim da Guerra Fria e do desmantelamento da União Soviética e do antigo bloco socialista no Leste do continente. Em ambas, foi marcante a oposição entre a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), representando os vencedores da Guerra Fria, e a Rússia, herdeira da URSS.

O primeiro deles foi a Guerra dos Bálcãs, que começou com a violenta divisão da Iugoslávia e terminou com uma intervenção militar da Otan contra a Sérvia — sem autorização do Conselho de Segurança da ONU — e o surgimento de um novo país, Kosovo, antes província sérvia. Anos depois, na Geórgia, uma disputa em regiões separatistas de maioria russa levou a uma intervenção militar de Moscou, tendo como pano de fundo a pretensão do governo georgiano de aderir à Otan.

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A morte de Josip Broz Tito, fundador da República Federal Socialista da Iugoslávia, em 1980, fez acenderem disputas entre as seis repúblicas que formavam a federação multiétnica que durante a Guerra Fria optou pelo não alinhamento entre os blocos capitalista e comunista. Reivindicações das repúblicas de maior autonomia em relação a Belgrado sofreram a resistência da Sérvia, governada pelo nacionalista Slobodan Milosevic.

Em 1991, Eslovênia e Croácia declararam suas independências. No caso esloveno, o conflito durou só dez dias. Na Croácia, morreram 20 mil pessoas nos combates envolvendo nacionalistas croatas, pró-independência, e forças ligadas à minoria sérvia na república. A guerra, encerrada em 1995, teve a intervenção de forças de paz da ONU.

Já a independência da Bósnia-Herzegovina foi marcada pelo massacre de 8 mil bósnios muçulmanos em Srebrenica e por um cerco de 1.425 dias à capital local, Saravejo — quase 14 mil pessoas morreram. O conflito teve fim após a intervenção armada da Otan, e a subsequente assinatura dos Acordos de Dayton, em 1995.

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Anos depois, já no fim  da década de 1990, grupos de albaneses étnicos começaram uma insurgência na região do Kosovo, que integrava o território da Sérvia, aliada da Rússia. Após o desfecho inconclusivo de negociações de paz, a Otan deu início a ataques aéreos contra posições sérvias na frente de guerra em Kosovo e contra cidades sérvias — incluindo o bombardeio da embaixada chinesa em Belgrado, em maio de 1999.

O conflito terminou em junho de 1999, com as forças sérvias aceitando a retirada de Kosovo e a entrada de forças da ONU. O território declarou sua independência em 2008, mas é reconhecido por apenas 97 países no mundo.

Roteiro 'ucraniano'

Ainda sob os ecos das guerras nos Bálcãs, e em meio à deterioração das relações entre Moscou e o governo georgiano liderado por Mikheil Saakashvili, os dois países se viram em meio a uma crise diplomática cujo pano de fundo era o desejo de Tbilisi de se aproximar do Ocidente, incluindo a adesão à Otan. Como forma de pressão, Putin decidiu pelo estreitamento das relações com as repúblicas da Abcásia e da Ossétia do Sul, partes integrantes da Geórgia.

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A crise, iniciada em março de 2008 contou com alguns dos mesmos elementos vistos antes da invasão da Ucrânia, como o pedido da Duma para que o Kremlin reconhecesse a independência das duas repúblicas.

A situação saiu de controle em agosto daquele ano, com confrontos entre as tropas georgianas, os separatistas e as forças de manutenção de paz russas, presentes na área desde 1992. No dia 8, teve início uma intervenção da Rússia em solo georgiano, com ataques coordenados terrestres e aéreos — os militares russos chegaram a ficar a menos de 60 km de Tbilisi.

No dia 22, as forças russas retornaram para posições na Abcásia e na Ossétia do Sul, que teriam suas independências reconhecidas pelo Kremlin quatro dias depois. Além dos grandes estragos na infraestrutura georgiana, o conflito foi o primeiro no pós-Guerra Fria em que tropas russas avançaram sobre uma nação independente.