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Saiba quem são as deputadas que Trump quer mandar de volta para seus 'países de origem'

As parlamentares têm posições progressistas, pertencem a grupos minoritários e vão contra as políticas do presidente
Alexandria Ocasio-Cortez e Ilhan Omar, duas das deputadas que foram alvo das críticas de Trump Foto: SAUL LOEB / AFP
Alexandria Ocasio-Cortez e Ilhan Omar, duas das deputadas que foram alvo das críticas de Trump Foto: SAUL LOEB / AFP

RIO — Em uma série de tuítes postados no domingo e nesta segunda-feira , o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que um grupo de deputadas democratas deveria voltar a seus países de origem e ajudar "a consertar os lugares totalmente falidos e infestados de crime".

Acusado de racismo e xenofobia por opositores e alguns aliados, o líder americano provavelmente se referia a quatro deputadas de primeiro mandato que defendem plataformas progressistas, favoráveis aos direitos dos imigrantes e que, além de criticarem a Casa Branca, têm entrado em choque com a atual presidente da Câmara, a veterana deputada democrata Nancy Pelosi.

Saiba quem são as quatro legisladoras que emergiram como lideranças em um Partido Democrata fragmentado e sem estratégia definida para enfrentar Trump nas eleições de novembro de 2020.

Alexandria Ocasio-Cortez

Alexandria Ocasio-Cortez Foto: ERIN SCOTT / REUTERS
Alexandria Ocasio-Cortez Foto: ERIN SCOTT / REUTERS

A mais popular entre as quatro deputadas ofendidas pelo presidente americano, Alexandria Ocasio-Cortez, de 29 anos, é a mulher mais nova a ocupar uma cadeira no Congresso dos Estados Unidos e uma estrela em ascensão no Partido Democrata. Eleita por um distrito de Nova York que inclui partes dos bairros do Bronx e do Queens, a popularidade de Ocasio-Cortez é tamanha que ela é cotada como uma futura candidata à Presidência dos EUA.

Nascida no Bronx, a descendente de porto-riquenhos — sua mãe e seus avós paternos são originários do Estado associado aos Estados Unidos — estudou economia e relações internacionais na Universidade de Boston, mas só começou sua carreira política em 2016, quando trabalhou na campanha presidencial de Bernie Sanders.

Em 2018, para concorrer à cadeira no Congresso, Ocasio-Cortez desafiou em primárias o democrata veterano Joe Crowley, que acumulava dez mandatos no Legislativo. A jovem política, que trabalhava como garçonete no início da campanha, ganhou a indicação democrata para concorrer pelo distrito novaiorquino com mais de 15 pontos percentuais de diferença, tornando-se uma sensação.

Com mais de 4,8 milhões de seguidores no Twitter, a deputada, conhecida pela sigla AOC, ficou bastante popular por saber se comunicar virtualmente e por sua desenvoltura.

Entre as plataformas defendidas por AOC estão um sistema de saúde público, o fim do Serviço de Imigração e Alfândega, universidades públicas gratuitas e uma taxação de 70% sobre fortunas que ultrapassem US$ 10 milhões.

Ilhan Omar

Ilhan Omar Foto: KEREM YUCEL / AFP
Ilhan Omar Foto: KEREM YUCEL / AFP

Ilhan Omar é, de fato, a única dos alvos de Trump que nasceu fora dos Estados Unidos. Eleita por um distrito do estado de Minnesota, a deputada de 37 anos nasceu na Somália, onde viveu até os 12 anos. Mais nova de sete irmãos, Omar foi criada pelo pai e pelo avô após o falecimento de sua mãe, quando tinha dois anos. Para fugir da guerra, sua família ficou por quatro anos no campo de refugiados de Dadaab, no Quênia, antes de se mudar para os Estados Unidos.

Ilhan Omar recebeu asilo nos Estados Unidos em 1995, dois anos após chegar ao país, e se estabeleceu na cidade de Minneapolis. Ela se tornou cidadã americana em 2000, aos 17 anos. Formada em ciências políticas e relações internacionais pela Universidade de Minnesota, trabalhou como educadora antes de ingressar na vida política, organizando campanhas municipais e estaduais e aconselhando legisladores.

Em 2016, Omar foi eleita para o Legislativo estadual de Minnesota, derrotando um político que ocupava o cargo havia 44 anos.

Dois anos depois, Omar recebeu o maior percentual de votos em seu distrito entre todas as mulheres que já concorreram à Câmara dos Estados Unidos. Mãe de três filhos, a deputada é a primeira mulher americana nascida na África a chegar ao Congresso americano e uma das duas muçulmanas a servir na Casa. Seu juramento foi feito sobre uma cópia do Corão que pertencia ao seu avô.

Assim como AOC, Ilhan Omar defende o fim do Serviço de Imigração e Alfândega, além do ensino superior gratuito para famílias com renda anual inferior a US$ 150 mil. Uma crítica de Israel, Omar é vocalmente oposta à ocupação da Faixa de Gaza e da Cisjordânia e seus ataques ao lobby pró-Israel no Congresso lhe renderam acusações de antissemitismo.

Em fevereiro de 2019, o FBI descobriu um plano para assassiná-la, em conjunto com vários jornalistas e figuras de esquerda.

Ayanna Pressley

Ayanna Pressley Foto: Zach Gibson / AFP
Ayanna Pressley Foto: Zach Gibson / AFP

Ayanna Pressley, de 45 anos, foi eleita deputada em 2018 pelo estado de Massachusetts, representando o mesmo distrito que um dia elegeu John Kennedy. Ela é a primeira mulher negra a representar o estado no Congresso americano.

Nascida em Ohio, mas criada em Chicago, Pressley é filha única de uma mãe que trabalhava como organizadora comunitária na Liga Urbana de Chicago e de um pai que superou o alcoolismo e diversas idas à prisão para se tornar professor universitário.

Pressley estudou na Universidade de Boston, mas precisou abandonar a faculdade para trabalhar após sua mãe ficar desempregada. Ela ocupou diversas posições no gabinete do deputado Joseph P. Kennedy II até se tornar diretora política e conselheira sênior do senador, ex-secretário de Estado e ex-candidato presidencial John Kerry.

Em novembro de 2009, ela foi eleita vereadora em Boston, sendo a primeira mulher negra a ocupar um assento no Legislativo da cidade em cem anos. Foi reeleita em 2011, 2013 e 2015.

Eleita para a Câmara em 2018 com 59% dos votos do seu distrito, Pressley defende um sistema de saúde público, direitos trabalhistas, o fim do Serviço de Imigração e Alfândega e a redução para 16 anos da idade de votar. Vítima de violência sexual, sua plataforma prioritária é combater agressões similares às que sofreu.

Rashida Tlaib

Rashida Tlaib Foto: Zach Gibson / AFP
Rashida Tlaib Foto: Zach Gibson / AFP

Filha de palestinos, Rashida Tlaib é a primeira palestina-americana a servir no Congresso dos EUA e, junto com Ilhan Omar, uma das duas primeiras congressistas muçulmanas da história do país.

Mais velha de 14 irmãos, Tlaib é advogada formada pela Universidade de Michigan Ocidental e começou sua carreira política em 2004, como estagiária do deputado estadual Steve Tobocman.

Em 2008, foi incentivada por Tobocman a concorrer a sua cadeira. Foi escolhida nas primárias democratas com 44% dos votos e, na eleição geral, derrotou o candidato republicano com mais de 90% dos votos. Ela foi reeleita em 2010 e 2012. Em 2015, concorreu ao Senado estadual, mas foi derrotada.

Tlaib foi a segunda deputada muçulmana a servir no Legislativo estadual de Michigan.

Mãe solteira de dois filhos, Tlaib tomou posse no Congresso americano vestindo um traje típico palestino. A deputada é favorável ao impeachment de Donald Trump pelo suposto envolvimento da Rússia na campanha presidencial de 2016, e defende boicotes a Israel. Tlaib também é a favor de um Estado palestino e da abolição do Serviço de Imigração e Alfândega.

Tlaib fez parte do grupo de congressistas que visitou os campos de detenção na fronteira com o México e se emocionou ao participar de uma sessão na Câmara sobre o assunto:

— Nós temos uma crise moral na nossa fronteira — disse. — Vemos essa estratégia ser implementada, intencionalmente e cruelmente, pelo governo do presidente Trump, que está focado em transmitir uma mensagem cheia de ódio que diz que aqueles que estão em busca de refúgio não são bem-vindos na nossa América e que a lei e os direitos humanos não os protegerão.

Assim como Alexandria Ocasio-Cortez, ela é membro do grupo Socialistas Democratas da América.