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Saiba quem são os porta-vozes dos coletes amarelos na França

De 22 a 33 anos, articuladores das marchas se declaram apartidários, mas parte deles demonstra afinidade com extrema direita
Priscilla Ludosky e Éric Drouet, dois porta-vozes dos coletes amarelos na França, falam à imprensa após reunião com governo em novembro Foto: JACQUES DEMARTHON / AFP
Priscilla Ludosky e Éric Drouet, dois porta-vozes dos coletes amarelos na França, falam à imprensa após reunião com governo em novembro Foto: JACQUES DEMARTHON / AFP

RIO — Protestando há três semanas contra o governo do presidente Emmanuel Macron na França , o movimento dos coletes amarelos tem oito porta-vozes que compõem uma "delegação oficial" desde 26 de novembro. Embora não sejam exatamente os líderes das marchas espalhadas pelo país, já que o movimento se diz horizontal e não partidário, eles são peça-chave na articulação dos protestos pelas redes sociais. Originários de várias regiões do país, alguns são moderadores de grupos na rede social Facebook, onde os protestos começaram a ser convocados em novembro. Parte deles demonstra afinidade  com as ideias do Reunião Nacional (antiga Frente Nacional), partido de extrema direita dirigido por Marine Le Pen.

Pedindo o fim do imposto carbono , uma taxa que começou a ser aplicada no ano passado sobre o diesel, o movimento dos coletes amarelos começou no interior e na periferia das grandes cidades francesas, regiões em que a população mais se locomove de carro para suas atividades diárias. Teve adesão sobretudo da classe média baixa, que ganha pouco, mas não tão pouco a ponto de se beneficiar de programas sociais. Conheça os porta-vozes do movimento:

Éric Drouet

Éric Drouet, o mais conhecido dos organizadores dos coletes amarelos Foto: Reprodução
Éric Drouet, o mais conhecido dos organizadores dos coletes amarelos Foto: Reprodução

Foi o organizador das marchas de 17 de novembro, que inauguraram a onda de protestos. Desde então, o motorista de caminhão de 33 anos aparece na imprensa para falar do movimento. Uma das suas ferramentas mais importantes de comunicação é a página que criou no Facebook, a chamada "La France Énervée" (algo como a "A França Revoltada"). Na seu perfil pessoal na rede social, aparece com uma máscara sobre a boca e um colete amarelo, que virou símbolo do movimento. É um fanático por carros e, depois de ganhar projeção, foi questionado por ter compartilhado vídeos contra a imigração irregular na página destinada às mobilizações contra o imposto carbono. Segundo Le Parisien, ele respondeu que não divulgava conteúdo contra imigrantes, mas sim "sobre motoristas sendo atacados por migrantes" nas estradas.

Priscilla Ludosky

Priscilla Ludosky em entrevista à televisão Foto: Reprodução
Priscilla Ludosky em entrevista à televisão Foto: Reprodução

Empresária do setor de aromaterapia e cosméticos orgânicos, ela vive a uma hora ao sul de Paris. Foi a francesa de 32 anos que criou uma  petição on-line para exigir a redução do preço dos combustíveis. Até o momento, já há 1.121.539 assinaturas. Mais discreta nas redes sociais do que seus companheiros, é a unica dentre os porta-vozes que parece ser mais engajada no tema da transição ecológica, defendido pelo governo como justificativa para o aumento do imposto carbono sobre o diesel, muito usado pelos franceses. "É muito honroso que busquemos soluções para poluir nosso ambiente o mínimo possível. Mas o aumento de impostos pelo governo não é a solução! Já estamos dependentes dos preços do petróleo e não há dúvida de que, além disso, estamos sujeitos a um aumento nos impostos!", diz a sua petição.

Jason Herbert

Jason Herbert em entrevista após reunião dos coletes amarelos Foto: Reprodução
Jason Herbert em entrevista após reunião dos coletes amarelos Foto: Reprodução

É um dos representantes do movimento que vêm de comunidades menores espalhadas pela França. De 25 anos, ele é originário de Angoulême, no departamento de Charente. Dentre as pautas que defende, estão a baixa dos impostos e também a criação de uma "assembleia cidadã" para examinar todos os projetos que busquem fazer reformas em temas sensíveis, como a ecologia e os transportes. Como ex-jornalista da mídia local, se encarrega da comunicação do movimento na sua região.

Thomas Miralles

Thomas Miralles, de origem catalã; ele já foi filiado tanto ao Partido Socialista quanto à Reunião Nacional, de extrema direita Foto: Reprodução
Thomas Miralles, de origem catalã; ele já foi filiado tanto ao Partido Socialista quanto à Reunião Nacional, de extrema direita Foto: Reprodução

Aos 27 anos, Thomas Miralles  é empreendedor e tem breve experiência política em nível local, tendo se candidatado em duas eleições municipais da sua cidade do departamento de Pirineus Orientais. De origem catalã, já foi filiado tanto ao Partido Socialista quanto à Frente Nacional (hoje Reunião Nacional), segundo reporta a imprensa francesa. Questionado, ele disse que cometeu "erros da juventude" com essa última decisão. Segundo o jornal La Croix, Miralles relata ter recebido ameaças nas redes por se expor enquanto líder dos coletes amarelos e também ter recebido convites da Reunião Nacional para voltar ao partido. Mas afirma que não aceitou.

Marine Charrette-Labadie

Marine Charrette-Labadie, a segunda mulher da delegação de porta-vozes dos coletes amarelos Foto: Reprodução
Marine Charrette-Labadie, a segunda mulher da delegação de porta-vozes dos coletes amarelos Foto: Reprodução

A outra mulher do grupo é Marine Charrette-Labadie, uma garçonete de 22 anos que vem de Brive-la-Gaillarde, no departamento de Corrèze. Foi ela quem comunicou à prefeitura local que haveria uma manifestação, além de ter sido responsável pela articulação do movimento no Facebook. Dentre suas queixas, ela reclama por gastar 200 euros ao mês com combustível para ir e voltar do seu trabalho, a 25 quilômetros de distância de sua casa.

Maxime Nicolle

Maxime Nicolle, um dos porta-vozes dos coletes amarelos na França Foto: Reprodução
Maxime Nicolle, um dos porta-vozes dos coletes amarelos na França Foto: Reprodução

Francês de 31 anos com um trabalho de contrato temporário, é crítico ferrenho do presidente francês nas redes sociais. No Facebook, ele demonstra que tem ideias alinhadas à plataforma de ultradireita de Marine Le Pen. Por exemplo, ele curtiu uma publicação da página "Macron Dégage" ("Fora Macron") que sugeria que o atual presidente é mais próximo do nazismo do que a líder da Reunião Nacional. À época, Macron e Le Pen disputavam o segundo turno das eleições presidenciais.  Ele também compartilhou publicações que soam favoráveis a plataformas contra a imigração em massa para a França.

Julier Terrier

Julien Terrier, à esquerda, na sua foto do Facebook Foto: Reprodução
Julien Terrier, à esquerda, na sua foto do Facebook Foto: Reprodução

Um pai de 31 anos que adota discurso agressivo, que inclui frases como: "É hora de partir para o ataque, o período pacifista acabou, porque não estamos mais em um Estado de direito". Embora tenha apagado todas as fotos do seu Facebook, a sua imagem de capa mostra uma foto do jogo de videogame Assassin's Creed. Segundo o jornal Le Parisien, as suas publicações mostravam que, poucas horas depois dos ataques terroristas do Estado Islâmico em 13 de novembro de 2015 em Paris, ele pediu "liberdade deste governo covarde" e "segurança para nossas famílias e nosso país".

Mathieu Blavier

Mathieu Blavier em vídeo com colete amarelo Foto: Reprodução
Mathieu Blavier em vídeo com colete amarelo Foto: Reprodução

Estudante de 21 anos originário do departamento de Bocas do Ródano. Assim como outros dos seus colegas porta-vozes, seu perfil no Facebook revela que ele se engajou com publicações contra a imigração clandestina que haviam sido primeiro publicadas pela deputada Marion Maréchal-Le Pen, sobrinha da candidata derrotada à Presidência da França, Marine Le Pen.