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Salman Rushdie condena ataque ao ‘Charlie Hebdo’: ‘A sátira é uma força contra a tirania’

Perseguido por causa do romance ‘Os versos satânicos’, escritor denuncia escalada do fundamentalismo islâmico

O escritor Salman Rushdie, durante participação na Flip, em Paraty, em 2010
Foto: André Teixeira/4-8-2010
O escritor Salman Rushdie, durante participação na Flip, em Paraty, em 2010 Foto: André Teixeira/4-8-2010

Protagonista de um dos principais casos de perseguição religiosa das últimas décadas, o escritor Salman Rushdie condenou o ataque contra o semanário francês “Charlie Hebdo”, que deixou até agora 12 mortos, entre eles quatro cartunistas. Em texto publicado no site do Pen Centre inglês, Rushdie, que foi condenado à morte pelo regime iraniano em 1989 por causa de seu romance “Os versos satânicos” e precisou passar anos sob proteção policial, disse que o atentado mostra as “trágicas consequências” do extremismo islâmico.

— A religião, uma forma medieval de insensatez, quando combinada com armamentos modernos se torna uma ameaça real a nossas liberdades. O totalitarismo religioso causou uma mutação fatal no coração do Islã e vemos as trágicas consequências disso hoje em Paris. Eu apoio o “Charlie Hebdo”, assim como todos devemos apoiar, para defender a arte da sátira, que sempre foi uma força a favor da liberdade contra a tirania, a desonestidade e a estupidez. “Respeito pela religião” se tornou um código para “medo da religião”. Religiões, como todas as outras ideias, merecem críticas, sátira e, sim, nosso desrespeito sem medo — disse o escritor.

SIMON SCHAMA: ‘A liberdade de expressão é sagrada, não a teologia’

Além de Rushdie, outros escritores e intelectuais se manifestaram sobre o atentado. O historiador britânico Simon Schama usou sua conta no Twitter para declarar solidariedade ao “Charlie Hebdo”. Autor de livros como “Cidadãos”, sobre a Revolução Francesa, e “O poder da arte”, ele exaltou o valor da sátira:

— A sátira é a mãe da verdadeira liberdade política. Desde que surgiu, no século XVIII, ela é o terror dos intolerantes e dos tiranos. Vamos lamentar pelos mortos, mas saibam que Kalashnikovs nunca matarão o riso, e merecem ser ridicularizadas - escreveu Schama.

Schama citou uma frase do pensador francês Voltaire (“O fanatismo é um monstro que finge ser filho da religião”) para criticar o extremismo islâmico:

— Podemos medir a fraqueza de uma ideologia pelo grau de violência que ela precisa para se impôr, dependendo de coerção e não persuasão. A liberdade de expressão é sagrada, não a teologia. A batalha agora é entre liberdade de consciência e tirania da teocracia.