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Secretário de Estado de Trump promete 'nova ordem liberal mundial'

Pompeo questiona valor de instituições como ONU, OMC e União Europeia, diz que multilateralismo 'tornou-se fim em si mesmo' e exalta a Otan
O secretário de Estado americano Mike Pompeo discursa em Bruxelas nesta terça-feira Foto: FRANCISCO SECO / AFP
O secretário de Estado americano Mike Pompeo discursa em Bruxelas nesta terça-feira Foto: FRANCISCO SECO / AFP

BRUXELAS - Em discurso em Bruxelas nesta terça-feira, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, prometeu uma "nova ordem mundial liberal", na qual alguns tratados e instituições internacionais serão reforçados, enquanto outros serão enfraquecidos. O chefe da diplomacia do governo Trump criticou instituições como as Nações Unidas, a União Europeia, a Organização Mundial do Comércio, o Fundo Monetário Internacional e a União Africana, ao mesmo tempo em que exaltou a Otan, descrita como uma “instituição indispensável”.

Ao tentar explicar como os Estados Unidos pretendem conciliar sua liderança internacional com o nacionalismo da política de "América Primeiro" de Trump, o secretário de Estado afirmou que o presidente americano está reformando a ordem liberal mundial, e não destruindo essa ordem, como é acusado de fazer, inclusive por aliados históricos dos Estados Unidos. Em sintonia com o discurso contra o "globalismo" feito por Trump na Assembleia Geral da ONU em setembro deste ano, quando o presidente americano atacou a "burocracia global", Pompeo afirmou que a nova ordem se baseará em “Estados soberanos, não em instituições multilaterais”:

— Nas melhores tradições de nossa grande democracia, estamos reunindo as nações nobres para construir uma nova ordem liberal que impeça a guerra e alcance maior prosperidade — disse Pompeo a diplomatas e autoridades, citando o Brexit como um sinal de que as organizações supranacionais são ineficazes. — Estamos agindo para preservar, proteger e avançar um mundo justo, transparente e livre de Estados soberanos.

Este projeto, ele disse, exigirá a “restauração real, não fingida, da ordem liberal entre as nações”. A “liderança assertiva” dos EUA será necessária para tal, ao lado de “democracias em todo o mundo".

O secretário de Estado, que discursou em uma conferência de um instituto de pesquisa americano para uma plateia que o recebeu com ceticismo, disse que a ordem internacional criada em grande parte pelos Estados Unidos depois do fim da Guerra Fria “falhou e fracassou”. Ele se perguntou se a ONU, criada com o objetivo principal de garantir a paz, ainda “cumpre a sua missão com fidelidade”:

— Quanto mais tratados assinamos, mais seguros nós supostamente estamos. Quanto mais burocratas tivermos, melhor será o trabalho. Isso foi realmente verdade? A questão central que enfrentamos é a questão de saber se o sistema configurado como está hoje, como o mundo existe hoje, funciona? Funciona para todas as pessoas do mundo? — perguntou.

Pompeo disse que há instituições internacionais que “trabalham para os interesses americanos e a serviço de nossos valores compartilhados”, mas listou apenas três desses órgãos: a Otan, a Iniciativa de Segurança Contra a Proliferação (PSI) e a Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, serviço de transferências bancárias que é conhecido como Swift.

Trump, ele afirmou, exerce pressão sobre o Banco Mundial e sobre o Fundo Monetário Internacional para que parem de financiar países como a China, dizendo que eles já tiveram acesso aos mercados financeiros para levantar capital.

Quando questionou se a União Europeia, baseada em Bruxelas, estava colocando os interesses dos países acima dos de seus funcionários, alguém na plateia gritou: “Sim”, mas Pompeo ignorou a resposta. A porta-voz da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, explicou como funciona o órgão executivo da UE e arrematou: "Estou simplificando  para aqueles que não nos conhecem".

Líderes europeus estão preocupados com Trump e dizem que suas decisões de retirar os EUA do Acordo do Clima de Paris e do acordo nuclear assinado em 2015 com o Irã vão contra as prioridades europeias.

Em referência a políticas de Trump em discurso na segunda-feira nos EUA, a chefe de política externa da União Europeia, Federica Mogherini, havia alertado que a "lei da selva" tem substituído o estado de direito internacionalmente.

Pompeo disse que os Estados Unidos estão agindo corretamente.

— Nosso governo está deixando legalmente ou renegociando tratados desatualizados ou prejudiciais, acordos comerciais e outros acordos internacionais que não servem aos nossos interesses soberanos, ou ao interesse de nossos aliados — disse.

Retirada de tratado nuclear

Sob pressão de Washington, a Otan deve declarar nesta terça-feira que a Rússia viola um tratado de controle de armas nucleares, abrindo caminho para que Trump se retire do acordo da época da Guerra Fria. Os membros europeus da Otan pressionaram Trump a não seguir com sua ameaça de deixar o tratado sobre Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) com Moscou, assinado 1987, ainda durante a Guerra Fria, mas em vez disso trabalhar para colocar a Rússia em conformidade com o pacto.

No entanto, os diplomatas disseram que agora estão tentando limitar as consequências da decisão, adiando a esperada retirada dos EUA para o próximo ano e primeiro acusando formalmente a Rússia de quebrar o acordo INF, que levou à retirada de mísseis nucleares antes instalados na Europa. A Rússia nega a violação do pacto.