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Separatismo catalão perde capacidade de mobilização na Espanha

Diminuição ficou clara com menor comparecimento à manifestação anual pela independência da Catalunha em Barcelona nesta quarta

Manifestam seguram uma gigantesca “Estelada“, a bandeira separatista da Catalunha, na manifestação desta quarta: polícia estimou comparecimento em cerca de 600 mil pessoas, contra mais de 1 milhão nos protestos de 2018 e 2017
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ALBERT GEA/REUTERS
Manifestam seguram uma gigantesca “Estelada“, a bandeira separatista da Catalunha, na manifestação desta quarta: polícia estimou comparecimento em cerca de 600 mil pessoas, contra mais de 1 milhão nos protestos de 2018 e 2017 Foto: ALBERT GEA/REUTERS

BARCELONA – A capacidade de mobilização do separatismo catalão está em queda, como mostra a grande manifestação convocada para esta quarta-feira em ocasião do Dia da Catalunha , a poucas semanas da sentença judicial contra 12 de seus líderes implicados na tentativa de secessão de 2017.

A marcha é a oitava organizada consecutivamente desde 2012 pela chamada “Diada do 11 de setembro”, festa regional da Catalunha que recorda a queda de Barcelona ante as tropas do rei Felipe V em 1714, durante a Guerra da Sucessão Espanhola.

A participação no protesto desta quarta, estimada em “cerca de 600 mil pessoas” pela polícia barcelonesa, é a menor desde que a Diada tomou um caráter separatista há sete anos. Tanto em 2018 como em 2017, a participação ficou em aproximadamente 1 milhão de pessoas, segundo fontes policiais.

Isto, no entanto, não desanimou os líderes do separatismo catalão.

— Voltamos a ser centenas de milhares de pessoas que enchem as ruas de Barcelona — comemorou Elisenda Paluzie , presidente da Assembleia Nacional Catalã (ANC), organizadora do ato.

A dirigente, no entanto, reconheceu que “esta é a Diada mais difícil das que organizamos”, e pressionou os outros atuais líderes da região, afirmando que “não só não avançamos mas estamos dando passos para trás” na luta pela independência.

Com o lema “Objetivo independência”, la manifestação começou às 17h14 no horário local (12h14 no horário de Brasília) na Praça de Espanha de Barcelona.

— Ainda que os políticos estejam desunidos, nós estamos aqui, preparados e juntos — disse à AFP Lourdes Vilardaga, professora de 55 anos, logo no início do ato.

Também participando do protesto, o estudante Rubén Sáez, de 20 anos, usava uma bandeira independentista de Catalunha amarrada no pescoço como uma capa.

— Todos sabemos que a república [catalã] não se dará em um ou dois dias, isso não acontecerá — admitiu. — Ano a ano temos que demonstrar que estamos aqui, que podemos reivindicar e no auto-organizar.

A última pesquisa pública do governo regional da Catalunha, feita em julho, mostrou que 48,3% dos entrevistados não queria a independência, frente a 44% que querem se separar da Espanha. Contando com esta superioridade , o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez desejou que “chegue o dia que a Diada seja a festa de todos os catalães, e não só de uma parte”, os separatistas.

A manifestação anual é considerada um termômetro do poder mobilizador do separatismo catalão para quando em outubro será publicada a sentença contra os 12 dirigentes do movimento em julgamento este ano no Tribunal Supremo da Espanha pela tentativa de secessão de 2017 . Alguns já estão há quase dois anos em prisão preventiva por suposta rebelião e correm o risco de serem submetidos a duras penas. No caso do principal acusado, o ex-vice-presidente regional Oriol Junqueras , a promotoria espanhola pede 25 anos de detenção.

Os retratos dos presos eram onipresentes na manifestação, e um dos lemas mais presentes foi o de “voltaremos a fazê-lo”, numa referência à tentativa de secessão.

— Qualquer direito que nos seja negado, voltaremos a exercer inclusive o direito à autodeterminação — afirmou o presidente regional catalão, o separatista Quim Torra .

Já para a presidente da Assembleia Nacional Catalã, Elisenda Paluzie, “às portas da sentença” dos líderes separatistas é cada vez mais “importante que sejamos vistos com força e mobilizados de forma maciça”.

O ânimo, porém, é muito distinto do visto em outubro de 2017, quando os separatistas promoveram um referendo de autodeterminação considerado ilegal pelo governo central espanhol. Marcada por violenta repressão policial , a votação levou à proclamação de uma efêmera república nesta região de 7,5 milhões de habitantes.

De lá para cá, os líderes separatistas estão presos ou exilados, como o ex-presidente regional da Catalunha Carles Puigdemont . Refugiado na Bélgica, ele escreveu nesta quarta em sua conta no Twitter: “Hoje voltaremos a mostrar ao mundo que persistimos, apesar da repressão”.

Mas as diferenças também se multiplicam entre os dois grupos separatistas que compartilham o atual governo regional sobre como impulsionar novamente o movimento de secessão. O “Juntos por Cataluña”, de Puigdemont e seu sucessor Quim Torra, chama à “confrontação” com Madri se o Supremo emitir uma sentença condenatória.

Por seu lado, o partido de Junqueras, o “Esquerda Republicana” (ERC), aposta no diálogo com o governo socialista espanhol. O vice-presidente regional Pere Aragonés , do ERC, por exemplo, alertou na terça que “quanto mais dura for a sentença” contra os líderes separatistas sendo julgados, “maior será a necessidade de voltar a canalizar politicamente este assunto”.

Enquanto isso, as bases mais radicais do separatismo se impacientam com o que consideram uma “inação” dos atuais líderes catalães. Assim, nesta quarta, houve momentos de tensão em frente ao Parlamento regional catalão quando entre 200 e 300 jovens lançaram garrafas, pedras e latas contra a polícia catalã. Os manifestantes, no entanto, acabaram se dispersando sem necessidade de que a polícia sequer avançasse contra eles.