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Socialistas e Podemos chegam a acordo preliminar para governo de coalizão na Espanha

Pablo Iglesias, do partido de esquerda, será vice-premier
Foto: SERGIO PEREZ / REUTERS
Foto: SERGIO PEREZ / REUTERS

MADRI  - O que foi impossível durante seis meses na Espanha se concretizou em menos de 48 horas, diante do temor provocado nas forças de esquerda e centro-esquerda pelo crescimento da extrema direita, que, representada pelo Vox, se tornou a terceira maior força política da Espanha na eleição do último domingo, com 52 parlamentares eleitos.

O Partido Socialista Operário Espanhol (Psoe), do primeiro-ministro interino Pedro Sánchez , anunciou nesta terça-feira ter chegado a um acordo preliminar com o Podemos , de esquerda, para a formação do novo governo. Após reunião com Pablo Iglesias ,  líder do Podemos, Sánchez anunciou o pré-acordo e disse que é preciso "desbloquear o impassse político" no país, que passou por sua quarta eleição em quatro anos. Iglesias será vice-premier, uma demanda que Sánchez havia rejeitado em tentativas anteriores.

No entanto, a soma dos 120 assentos dos socialistas e dos 35 do Podemos, obtidos na eleição de domingo, não será suficiente para assegurar os 176 votos necessários para chegar à maioria no Parlamento, de 350 cadeiras. Para governar, os dois partidos terão que encontrar aliados em partidos menores.

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A eleição deixou o Parlamento espanhol ainda mais fragmentado do que na votação anterior, em abril. O PSOE ficou na liderança, mas longe de alcançar a maioria para governar sozinho. O acordo abre caminho para o primeiro governo de coalizão na Espanha desde o retorno do país à democracia, após a morte do ditador Francisco Franco , em 1975.

— É um acordo para quatro anos — disse Sánchez, após assinar o pacto, ao lado de Iglesias. — A Espanha precisa de um governo estável, um governo sólido — afirmou, acrescentando que já nesta terça-feira irão convocar outros partidos a se juntarem ao acordo.

Governo progressista

Os dois líderes, que recentemente trocaram acusações duras após o fracasso das negociações para a formação de uma coalizão depois da eleição de abril, sorriram e se abraçaram nesta terça-feira.

— Chegamos a um acordo preliminar para criar um governo de coalizão progressista na Espanha, que combina a experiência do PSOE com a coragem do Podemos — disse Iglesias.

Pablo Casado, líder do conservador Partido Popular (PP), criticou o acordo e pediu a renúncia de Sánchez, dizendo que “um governo radical é exatamente o oposto do que a Espanha precisa neste momento”.

O Cidadãos, da centro-direita liberal e que conquistou 10 assentos, disse que não irá apoiar o acordo, pedindo em vez disso uma grande coalizão entre o próprio partido, os socialistas e o PP.

Fontes do Psoe explicaram ao jornal espanhol El País que o partido buscaria o apoio de forças que em 2018 apoiaram a moção de censura contra o então premier Mariano Rajoy, do PP, o que levou Sánchez ao Palácio de La Moncloa. Entre os aliados da moção estavam os separatistas catalães. Segundo o jornal El Diario, os dois líderes irão mirar a obtenção de apoio do Más País, da extrema esquerda, e do nacionalista basco PNV.

Juntos, o Psoe e o Podemos somam 155 assentos. É provável que os dois partidos consigam apoio dos sete deputados do PNV, dos três do Más País e do deputado do Bloco Nacionalista Galego. Além disso, há possibilidade de mais um assento do Partido Regionalista de Cantábria e mais um do Terual Existe. No total, seriam 168 deputados, calcula El País.

Por isso, para que Sánchez seja confirmado como chefe do governo, seriam necessárias abstenções, de modo que os votos contra sua coalizãoe não superem a maioria de 176. As 13 abstenções de deputados da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e dos cinco do basco Bildu seriam suficientes para desbloquear a situação.

O ECR já afirmou que, "neste momento", não irá apoiar a coalizão entre o Psoe e o Podemos. Em entrevista coletiva, a porta-voz Marta Villalta Torres ressaltou que, apesar de terem conseguido superar um impasse de meses, os dois partidos "nos levaram a eleições desnecessárias e, infelizmente, os que mais se beneficiaram são a direita e a extrema direita".

— Se eles querem algo de nós, eles precisam sentar e conversar para resolver um conflito político — disse, em referência ao movimento pela independência da Catalunha.

PSOE e Podemos haviam tentado e não conseguiram fechar um acordo de governo após a eleição de abril, o que fez com que Sánchez convocasse novas eleições.