Tropas russas chegam a Kiev, e governo da Ucrânia convoca toda a população para se alistar

Militares estão posicionadas no distrito de Obolon, cerca de 9 km ao norte do Parlamento da capital; presidente da Ucrânia diz estar disposto a desistir da entrada na Otan
Prédio residencial no subúrbio de Kiev foi destrupido após ser atingido por projétil militar Foto: DANIEL LEAL / AFP

KIEV — Apenas um dia após o presidente Vladimir Putin ordenar uma invasão militar em larga escala da Ucrânia , tropas russas alcançaram Kiev, a capital do país vizinho. Segundo o Ministério da Defesa ucraniano, militares russos estão posicionados no distrito residencial de Obolon, cerca de 9 km ao norte do Parlamento ucraniano, no centro da cidade.

Ao mesmo tempo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que está disposto a adotar um status de neutralidade e desistir do pedido de entrada na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança militar comandada pelos EUA — a grande demanda russa para parar a invasão. Moscou, inicialmente, recebeu a declaração com frieza e disse que o ucraniano mente. Mais tarde, o porta-voz do Kremlin disse que Putin está disposto a mandar uma delegação a Minsk para negociar com o governo local.

As forças russas convergiram sobre Kiev após avançarem rapidamente de três eixos de direções diferentes, no Norte, Sul e Leste da Ucrânia. As duas primeiras colunas dirigiram-se à capital no início da ofensiva, segundo autoridades de inteligência ucranianas.

Segundo a AFP, o ataque a Kiev começou com helicópteros, pouco antes das 4h locais (23h de quinta em Brasília). Sirenes de ataque aéreo soaram na  cidade de 3 milhões de habitantes, onde muitos se abrigavam em estações de metrô subterrâneas.

Um alto funcionário ucraniano disse que as forças do país defendem a capital em quatro frentes e estão em menor número. Autoridades locais disseram que um avião russo foi derrubado e colidiu com um prédio em Kiev durante a noite, incendiando-o e ferindo oito pessoas.

Em um prédio de 10 andares de um conjunto habitacional perto do principal aeroporto de Kiev, uma bomba explodiu pouco antes do amanhecer e deixou uma cratera de dois metros. Um policial disse que várias pessoas ficaram feridas, mas não houve mortes.

— Como podemos sobreviver a isso em nosso tempo? O que devemos pensar. Putin deveria ser queimado no inferno junto com toda a sua família — disse Oxana Gulenko, limpando cacos de vidro de seu quarto.

Um vizinho, o veterano do Exército soviético Anatoliy Marchenko, de 57 anos, não conseguiu encontrar seu gato que havia fugido durante o bombardeio.

— Conheço pessoas lá, são meus amigos — disse ele sobre a Rússia. — O que eles precisam de mim? Uma guerra chegou até a minha casa e é isso.

Ataques continuam também em várias outras cidades ucranianas. Grandes explosões foram ouvidas em Kharkiv, a segunda maior cidade do país e mais próxima, de grande porte, da fronteira com a Rússia. A prefeitura pediu para a população procurar abrigo.

Em Lviv, no Oeste, sirenes de ataque aéreo soaram. As autoridades relataram fortes combates na cidade oriental de Sumy.

A Ucrânia disse que mais de mil soldados russos já morreram até agora, mas essa informação não pôde ser confirmada de forma independente.

Pessoas participam de exercício militar para civis conduzido por veteranos do batalhão da Guarda Nacional Ucraniana Azov, em meio a ameaça de invasão russa, em Kiev Foto: GLEB GARANICH / REUTERS
Preparados para guerra. Ucranianos aprendem técnicas de sobrevivência e autodefesa: em uma floresta nos arredores de Kiev Foto: GLEB GARANICH / REUTERS
Veteranos do batalhão Azov da Guarda Nacional Ucraniana realizam exercícios militares para civis em meio à ameaça de invasão russa em Kiev, na Ucrânia Foto: GLEB GARANICH / REUTERS
Por medo da ameaça russa, civis participam de treinamento militar Foto: GLEB GARANICH / REUTERS
Treinamento envolve a construção de abrigos Foto: GENYA SAVILOV / AFP
Civis ucranianos aprendem a construir um abrigo na neve como parte de um curso intensivo de técnicas de sobrevivência, em uma floresta nos arredores de Kiev Foto: GENYA SAVILOV / AFP
Treinamento de sábado reuniu cerca de 70 moradores Foto: GLEB GARANICH / REUTERS
Alguns com equipamento completo de infantaria com rifles de caça e experiência de combate; outros voluntários receberam rifles de madeira simulados Foto: GLEB GARANICH / REUTERS
Esperança é que reservistas possam proteger áreas civis concentradas como Kiev no meio de qualquer conflito Foto: GLEB GARANICH / REUTERS
Um instrutor militar ensina civis segurando réplicas de madeira de fuzis Kalashnikov, enquanto eles participam de uma sessão de treinamento em uma fábrica abandonada na capital ucraniana de Kiev Foto: SERGEI SUPINSKY / AFP
Nervoso com a ameaça de cerca de 120 mil soldados russos reunidos perto da fronteira ucraniana, Kiev lançou uma nova força de Defesa Territorial este ano, que quer transformar em um corpo de até 130 mil pessoas Foto: GLEB GARANICH / REUTERS
Veterano do batalhão da Guarda Nacional Ucraniana Azov realiza exercícios militares para civis em Kiev, Ucrânia Foto: GLEB GARANICH / REUTERS
Instrutor militar ensina civis segurando réplicas de madeira de fuzis. Treinamento inclui aulas de tática, de primeiros socorros e exercícios em pista de obstáculos Foto: SERGEI SUPINSKY / AFP
Ucranianos aprendem técnicas de sobrevivência e autodefesa Foto: GLEB GARANICH / REUTERS
Veteranos do batalhão Azov da Guarda Nacional Ucraniana realizam exercícios militares para civis em meio à ameaça de invasão russa Foto: GLEB GARANICH / REUTERS
Civis participam de treinamento com réplicas de madeira de fuzis Foto: GLEB GARANICH / REUTERS

 

Convocação geral

O Exército da Ucrânia fez uma convocação para todos os civis se alistarem:

"Precisamos de todos os recrutas, sem restrições de idade", disse uma primeira mensagem publicada em rede social. A convocação, presumivelmente, vale também para menores de idade, e alcança homens e mulheres. Desde dezembro, todas as mulheres ucranianas "aptas ao serviço militar" entre 18 e 60 anos fazem parte da reserva em tempos de guerra.

Pouco depois, houve uma segunda convocação: "Hoje, a Ucrânia precisa de tudo. Todos os procedimentos de adesão são simplificados. Traga apenas seu passaporte e número de identidade".

O governo encorajou moradores a resistirem, enquanto também aconselham outros a procurarem abrigo.

"Pedimos aos cidadãos que nos informem sobre os movimentos de tropas, façam coquetéis molotov e neutralizem o inimigo", afirma um texto.

Segundo o presidente Volodymyr Zelensky, 137 pessoas morreram e 316 ficaram feridas no primeiro dia de operações, incluindo dezenas de civis.

"Moradores pacíficos: tomem cuidado. Não saiam de casa!", dizia o comunicado.

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Bombardeios em 33 áreas civis

O Ministério do Interior da Ucrânia informou ter registrado bombardeios russos em 33 alvos civis  no primeiro dia de ofensiva.

— Os russos dizem que não estão atacando civis, mas 33 locais civis foram atingidos nas últimas 24 horas — disse Vadym Denysenko à agência de notícias Reuters.

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Durante discurso na noite de quinta-feira, o presidente Zelensky se comprometeu a permanecer em Kiev, enquanto suas tropas combatem os invasores russos. Ele assinou um decreto de mobilização geral . Conforme o texto, estão convocados todos os recrutas e reservistas aptos para o serviço, que devem se apresentar a alguma das instituições militares do país.