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Trump desiste de isolar Nova York frente à pandemia do coronavírus

Mais cedo, governador criticou presidente e disse que fechar estado seria 'contraproducente e antiamericano'; país tem mais de 121 mil casos e 2 mil mortes
Presidente dos EUA, Donald Trump, durante entrevista coletiva diária da força-tarefa da Casa Branca contra o Covid-19 Foto: JONATHAN ERNST / REUTERS
Presidente dos EUA, Donald Trump, durante entrevista coletiva diária da força-tarefa da Casa Branca contra o Covid-19 Foto: JONATHAN ERNST / REUTERS

WASHINGTON — O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump ,  desistiu da possibilidade de isolar por duas semanas Nova York, epicentro da pandemia do novo coronavírus , no país. Mais cedo, o presidente havia cogitado a hipótese, mas foi criticado pelo governador Andrew Cuomo, que afirmou que fechar Nova York seria 'contraproducente e antiamericano".

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Nova York é, hoje, o estado dos EUA mais afetado pela pandemia de Covid-19: até a tarde deste sábado, havia 52.318 casos da doença registrados, com 728 mortes. Com isso, os casos no país ultrapassaram os 121 mil, mais que qualquer outra nação , com mais de 2 mil mortos.

"Um isolamento não será necessário", escreveu o presidente no Twitter cerca de oito horas depois de levantar a possibilidade.

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Mais cedo, na Casa Branca, o presidente havia cogitado a medida, que poderia, inclusive, ser estendida a Nova Jersey e partes de Connecticut.

— Nós estamos pensando em algumas coisas. Algumas pessoas gostariam de ver Nova York isolada porque é um epicentro. Nós não temos que fazer isso, mas há a possibilidade de fazermos hoje, em algum momento, uma quarentena  curta, duas semanas, em Nova York — disse, na manhã de sábado, se referindo a um cordão sanitário.

Trump discursava na Casa Branca ao mesmo tempo que Cuomo dava uma entrevista coletiva. O governador confirmou que havia conversado com o presidente pela manhã, mas disse que os dois não discutiram a ideia de isolamentoa. Desde o dia 20 de março, o estado está sob quarentena.

— Eu nem sei o que isso significa —  disse ao ser questionado. — Não sei como isso pode ser legalmente aplicável.

Em entrevista à rede CNN, na noite deste sábado, Cuomo foi ainda mais enfático:

— Se você começar a fechar áreas em todo o país, seria totalmente bizarro, contraproducente e antiamericano. Não faz sentido e não acho que nenhum governo ou autoridade profissional séria apoie isso.

Na terça-feira, o presidente repetiu em diversas ocasiões que pretende que os Estados Unidos tenham encerrado até a Páscoa as medidas de confinamento, buscando aliviar os impactos econômicos da pandemia, um objetivo que os principais profissionais de saúde consideram muito arriscado. O feriado da Páscoa termina em 12 de abril, daqui a menos de três semanas. Questionado sob isto neste sábado, o presidente foi menos incisivo:

— Vamos ver o que vai acontecer.

Adiamento das primárias

Entre sexta e sábado, foram contabilizados mais de 6 mil novos casos da doença e 125 mortes no estado de Nova York. Os cinco distritos da cidade de Nova York, onde há falta de leitos, respiradores e os materiais de proteção são escassos, estão entre os mais afetados . Em apenas duas semanas, a doença matou mais pessoas na cidade do que todo o número de homicídos registrados no ano passado.

Em sua entrevista diária, Cuomo, que vem sendo elogiado pela maneira com a qual vem lidando com a crise, afirmou que a estimativa é que casos na região continuem a crescer por mais duas ou três semanas, quando deverão atingir seu pico. De acordo com o governador, em 13 dias, o número de internações no estado aumentou mais de 13 vezes em 10 dias, mas o ritmo vem diminuindo: entre quinta e sexta-feira, o número de internados reduziu em 307, passando de 1.154 para 847. Segundo o governador, isto pode significar uma redução na taxa de contágio, sinal de que as medidas de restrição impostas pelo governo local estão dando certo.

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Seguindo a tendência de outros governadores, Cuomo anunciou o adiamento das primárias para as eleições presidenciais de novembro, que deveriam acontecer daqui a um mês, em 28 de abril, para 23 de junho. Ele disse também que, após uma conversa com o presidente Donald Trump na manhã deste sábado, a Casa Branca aprovou quatro novos hospitais de campanha no estado, com 4 mil leitos adicionais.

Boa parte dos governos estaduais e municipais dos EUA, inclusive o de Nova York , vem emitindo ordens para seus cidadãos ficarem em casa, enquanto o governo federal emitiu uma recomendação, sem a imposição da norma. Pelas normas do sistema federalista americano, Trump não tem poderes para impôr o fim da quarentena aos governos estaduais. Analistas, no entanto, avaliam que Trump acredita que a maioria da população concorda com ele, e quer transferir o ônus do impacto econômico do confinamento aos estados.