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Trump usa lei de guerra para obrigar General Motors a fabricar respiradores

Pelo Twitter, ele criticou GM por diminuir quantidade de equipamentos que seriam fornecidos a hospital; país supera os cem mil casos
Presidente americano, Donald Trump Foto: JONATHAN ERNST / REUTERS
Presidente americano, Donald Trump Foto: JONATHAN ERNST / REUTERS

WASHINGTON — O presidente americano, Donald Trump , assinou uma ordem executiva exigindo que a General Motors (GM) comece a fabricar respiradores para serem usados no combate ao novo coronavírus nos Estados Unidos. No memorando, a Casa Branca afirma que o secretário de Saúde, Alex Azar, vai determinar o número de equipamentos a serem entregues pela empresa.

A ordem é baseada na Lei de Produção de Defesa, dos anos 1950, que autoriza o governo a intervir na indústria para reorientar sua produção em tempos de guerra.

Em comunicado, o presidente disse que as negociações com a GM "estavam sendo produtivas", mas que não poderia seguir o processo natural de contratação de serviço por conta da urgência da situação. "A GM estava perdendo tempo. A ação de hoje vai permitir a produção rápida de respiradores que permitirão salvar vidas americanas", escreveu Trump.

Em outra ordem executiva, que nos EUA equivale a um decreto presidencial, Trump autorizou a convocação de reservistas para se juntarem ao combate à epidemia.

Mais cedo, ele havia sinalizado que poderia tomar a medida. Pelo Twitter, o chefe da Casa Branca instou a General Motors e a Ford a produzirem esses equipamentos com mais agilidade.  Os EUA são agora o país com o maior número de casos da Covid-19, mais de cem mil . O número de mortes chegou a 1.433. Em alguns pacientes, o coronavírus provoca manifestações agudas de pneumonia, que exigem o uso de respiradores artificiais.

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Em tom agressivo, Trump disse que as duas companhias devem começar a produção imediatamente. Ainda nesta sexta-feira, o governo dos EUA deve anunciar as demais companhias e quantidade prevista de equipamentos que deverão ser fabricados segundo a lei.  "A General Motors deve abrir imediatamente sua fábrica estupidamente abandonada de Lordstown, em Ohio, ou alguma outra fábrica, e começar a fazer respiradores agora! Ford, comece a fazer respiradores rápido!", escreveu o presidente americano na rede social.

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As duas empresas haviam anunciado recentemente que estavam trabalhando para produzir os equipamentos. Trump ainda criticou a GM alegando que a montadora diminuiu o número de respiradores que iria fornecer a hospitais para atender os pacientes doentes com o coronavírus.

"Como sempre com 'essa' General Motors, as coisas nunca parecem dar certo", disse Trump no Twitter. "Eles disseram que nos dariam 40 mil respiradores que são muito necessários, 'muito rapidamente'. Agora eles estão dizendo que serão apenas 6 mil, no final de abril, e querem um preço alto."

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As declarações de Trump vieram depois que uma matéria do New York Times sugeriu, na quinta-feira, que a Casa Branca recuou de anunciar um grande acordo de produção de respiradores com a GM e a Ventec Life Systems porque o preço era muito alto. Isso atraiu críticas da oposição democrata.

Em resposta, a GM, junto com a parceira Ventec, disse que vai produzir os respiradores na fábrica de Kokomo, Indiana, e os enviará no próximo mês. Uma fonte próxima da montadora disse que a empresa começará a construir protótipos dentro de duas semanas e vai enviar números "significativos" do equipamento até o final de abril, quando aumentará a produção. Já a Ford disse que está acelerando seus esforços de fabricação.

Outras montadoras disseram que estão trabalhando na produção dos respiradores. Na sexta-feira, a Toyota Motor Corp disse que "estava finalizando acordos para começar a trabalhar com pelo menos duas empresas que produzem ventiladores pulmonares e respiradores para ajudar a aumentar sua capacidade".

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Inicialmente, Trump se mostrou relutante em usar a Lei de Produção de Defesa,  mas, no início desta semana, a invocou para anunciar que planeja produzir 60 mil testes para a Covid-19 .

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Muitos democratas tinham criticado o presidente por não ter usado imediatamente a legislação e ordenado que empresas industriais produzissem equipamentos médicos. Entre os críticos estava a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e o governador de Nova York, Andrew Cuomo, cujo estado é o mais afetado no país. Até o momento, 539 pessoas morreram em Nova York por causa da Covid-19 — sendo 134 nas últimas 24h.

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Nova York pode ter um pico na demanda hospitalar em três semanas devido ao novo coronavírus. O estado, o mais afetado do país, tem 44.600 pessoas com Covid-19, sendo que 6.481 estão hospitalizadas e, destas, 1.583 recebem tratamento intensivo. Cuomo anunciou, nesta sexta-feira, que planeja construir oito hospitais temporários para atender ao aumento dos pacientes.

O governador também disse que as escolas devem permanecer fechadas por mais duas semanas até 15 de abril. Ele fez uma entrevista coletiva na unidade médica improvisada no Centro de Convenções Jacob K. Javits, em Manhattan.

Cuomo se tornou uma importante liderança na luta contra a pandemia do coronavírus nos EUA, já que o estado representa cerca de um terço do número de mortos no país e metade do número conhecido de casos.

Ele disse ainda que o estado estava tentando construir outros quatro hospitais provisórios temporários para adicionar mais 4 mil leitos, o que chamou de parte do plano B para tentar compensar a escassez de recursos médicos. Cuomo anunciou que iria pedir à Casa Branca que concedesse o pedido de construção desses recursos adicionais.