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Turquia se opõe à entrada de Finlândia e Suécia na Otan

Erdogan retalia Estocolmo por manter diálogo com aliados de rebeldes curdos e sinaliza disposição para dificultar expansão da aliança militar
O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, no Palácio Presidencial em Ancara Foto: ADEM ALTAN / AFP
O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, no Palácio Presidencial em Ancara Foto: ADEM ALTAN / AFP

ANCARA — O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, manifestou-se contra a adesão de Finlândia e Suécia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em uma declaração que pode dificultar a entrada dos dois países na aliança militar.

A Finlândia oficializou a intenção de se candidatar à Otan na quinta-feira, e espera-se que a Suécia vá segui-la nos próximos dias. A entrada dos dois países significará a expansão da aliança militar ocidental que o presidente russo, Vladimir Putin , pretendia impedir ao invadir a Ucrânia.

A Turquia tem apoiado oficialmente a expansão da Otan desde que aderiu à aliança, há 70 anos. Qualquer decisão sobre a ampliação da organização exige apoio unânime dos seus membros.

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Em conversa com repórteres em Istambul, Erdogan citou preocupações com atividades em ambos os países de apoiadores de militantes curdos separatistas que lutam por autonomia no Sudeste da Turquia há décadas. Ele acrescentou que foi um erro da Otan aceitar a Grécia como membro no passado.

— Como Turquia, não queremos repetir erros semelhantes [ao da entrada da Grécia]. Além disso, os países escandinavos abrigam organizações terroristas. Eles são até parlamentares em alguns países. Não é possível para nós sermos a favor — afirmou. — A Suécia tornou-se o lar do PKK e de outros grupos terroristas. Não vemos a sua adesão à Otan positivamente.

O PKK, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, é um grupo de militantes e um movimento de guerrilha armada curta, e atualmente atua principalmente nas regiões montanhosas de maioria curda do Sudeste da Turquia e Norte do Iraque.

A Turquia e a Suécia passaram por episódios recentes de tensão envolvendo o grupo. Em abril do ano passado, o Ministério das Relações Exteriores da Turquia convocou o embaixador da Suécia em Ancara para uma reunião para protestar contra contatos entre dois ministros suecos e membros das Forças Democráticas da Síria (SDF), que Ancara considera uma extensão do PKK e um grupo terrorista.

O embaixador foi informado de que a Turquia "condenou fortemente" os contatos. O Ministério das Relações Exteriores da Suécia confirmou a convocação e disse que o governo não se reúne com organizações que estão na lista de grupos terroristas da União Europeia.

A Suécia ainda não se manifestou sobre a declaração turca. Já o ministro das Relações Exteriores finlandês, Pekka Haavisto, pediu "paciência" e acrescentou que se encontrará com seu colega turco em Berlim no sábado.

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É improvável que a Turquia seja capaz de conter a pressão de outros membros da Otan, sobretudo dos Estados Unidos, para impedir a entrada de Finlândia e Suécia na aliança. Por outro lado, Ancara retalia o diálogo sueco com seus adversários e pressiona o governo de Estocolmo a rever esse tipo de ação.

As declarações de Erdogan acontecem logo antes de uma reunião neste fim de semana dos ministros das Relações Exteriores da Otan. A organização afirma que a adesão está aberta a qualquer "estado europeu em posição de promover os princípios deste Tratado e contribuir para a segurança da área do Atlântico Norte".

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse repetidamente que espera que todos os aliados deem as boas-vindas aos dois países candidatos e que o processo de adesão seja rápido.

O presidente Putin discutiu com os membros do Conselho de Segurança russo a decisão de Finlândia e Suécia de aderir à Otan. O anúncio foi feito na sexta-feira pelo porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, que se limitou a dizer que houve “uma troca de pontos de vista sobre o tema da decisão da Finlândia e da Suécia de aderir à Otan e as potenciais ameaças à segurança da Rússia decorrentes disso", sem entrar em detalhes sobre a conversa.

Peskov também desmentiu uma reportagem do jornal finlandês Iltalehti de que a Rússia poderia cortar o fornecimento de gás para a Finlândia.

— Provavelmente, isso é outra farsa de jornal — disse Peskov, acrescentando que a Gazprom continua sendo um fornecedor confiável de gás. — A Gazprom está fornecendo gás para diferentes clientes, incluindo membros da Otan. A Gazprom mostrou sua credibilidade muitas vezes.

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Horas após a declaração de Peskov, a operadora RAO Nordic, subsidiária com sede em Helsinque do grupo estatal de eletricidade russo InterRAO, anunciou que a Rússia suspenderá o fornecimento de eletricidade à Finlândia no sábado.

"Somos forçados a suspender a importação de eletricidade a partir de 14 de maio", disse a empresa em comunicado, justificando que “não tem capacidade para efetuar pagamentos pela eletricidade importada da Rússia”.

Nesta sexta-feira, os ministros das Relações Exteriores do G7 se reuniram na Alemanha em conversa com o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, que pressiona o grupo a tomar medidas para repassar ativos russos apreendidos a Kiev, de modo a financiar a reconstrução do país.

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— Pedi aos países do G7 para que adotem legislações e implementem todos os procedimentos necessários para confiscar ativos soberanos russos e entregá-los à Ucrânia — disse o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba. — Para usar esse dinheiro para reconstruir nosso país depois de todos os danos infligidos a nós.

Kuleba disse que sentia que o G7 chegaria a esse ponto “mais cedo ou mais tarde”.

A União Europeia está trabalhando em novas ferramentas de investimento para financiar os gastos militares do bloco. De acordo com uma reportagem publicada pela revista alemã Der Spigel, o G7 prepara um pacote de ajuda financeira para a Ucrânia no valor de cerca de US$ 31 bilhões.

Os ministros das Finanças do G7 discutirão o plano na semana que vem, em reunião em Bonn. Segundo a Spiegel, a ajuda seria uma mistura de empréstimos e doações.