Mundo Guerra na Ucrânia

Ucrânia entra em longa fase da guerra, diz ministro da Defesa, que promete armar um milhão de combatentes

No Facebook, Oleksiy Reznikov diz que nova fase é possível porque a Ucrânia forçou a Rússia a reduzir seus objetivos para níveis operacionais e táticos
Policial ucraniano é visto dentro de quadra de esportes de escola onde, segundo moradores, soldados russos usavam como base na vila de Vilkhivka, perto de Kharkiv Foto: DIMITAR DILKOFF / AFP
Policial ucraniano é visto dentro de quadra de esportes de escola onde, segundo moradores, soldados russos usavam como base na vila de Vilkhivka, perto de Kharkiv Foto: DIMITAR DILKOFF / AFP

KIEV — O ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksiy Reznikov, disse nesta sexta-feira que seu país está entrando em uma "longa" fase da guerra, prometendo armar um milhão de combatentes com as novas armas e equipamentos militares doados pelos EUA e por outros países do Ocidente nas duas últimas semanas.

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Segundo sua declaração no Facebook, a nova fase é possível porque a Ucrânia forçou a Rússia a reduzir seus objetivos para níveis operacionais e táticos.

"O Exército ucraniano e a população ucraniana inteira repeliram as forças de ocupação e coibiram seus planos", escreveu, referindo-se ao que descreveu como expectativa de Moscou de que Kiev capitularia em poucos dias após a invasão, em 24 de fevereiro, permitindo o estabelecimento de um novo sistema russo no país.

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O ministro disse que, durante o início da guerra, " voluntários foram extremamente úteis", afirmando que foi graças à sua mobilidade que "rapidamente solucionamos várias questões desafiadoras".

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O ministro tambem apontou que outra importante mudança ocorreu em nível internacional.

"Em um mês, a Ucrânia alcançou uma integração no campo da defesa, que não pôde ser conquistada durante 30 anos. Recebemos armas pesadas de nossos parceiros. Em particular, os [canhões] howitzers americanos já estão destacados no front. Há três meses, isso era considerado impossível."

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Reznikov disse que, para ganhar, a Ucrânia "precisa planejar os recursos cautelosamente, evitar erros, projetar nossa força para que o inimigo, no fim, não seja capaz de nos enfrentar".

Também afirmou que o governo está avaliando as linhas de produção ucranianas para "assegurar a estabilidade e a frequência do fornecimento".

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Em sua declaração, ele disse que a Ucrânia vinha recorrendo a ações de caridade dos cidadãos, voluntários e organizações civis para conseguir uma proporção significativa de seu equipamento militar.

Segundo ele, no fim do mês passado, o Ministério da Defesa do país contava como doações para 50% dos coletes à prova de balas usados nos combates.

Mas, a partir desta segunda-feira, a Ucrânia conseguiu elevar sua produção para fornecer 57% dos coletes a suas Forças Armadas, acrescentou.

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Novas ambições militares

As declarações do ministro da Defesa ocorrem dias depois de o chanceler da Ucrânia, Dmytro Kuleba, declarar ao jornal Financial Times que, após o recebimento de ajuda dos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte ( Otan ), o país expandiu seus objetivos na guerra e agora busca expulsar as forças russas de todo o território ucraniano.

Embora não tenha citado nominalmente a Península da Crimeia, que a Rússia anexou em 2014, nem as regiões do Leste controladas por separatistas pró-Moscou desde o mesmo ano, as declarações indicam que Kiev tem a ambição de retomar essas áreas.

Kuleba disse que “a imagem da vitória é um conceito em evolução”.

— Nos primeiros meses da guerra, a vitória para nós parecia a retirada das forças russas para as posições que ocupavam antes de 24 de fevereiro e o pagamento pelos danos infligidos — disse Kuleba na entrevista. — Agora, se formos fortes o suficiente na frente militar e vencermos a batalha de Donbass , que será crucial para a dinâmica seguinte da guerra, é claro que a vitória para nós será a libertação do resto de nossos territórios.

As declarações corresponderam à primeira vez em que a Ucrânia citou a ambição de retomar territórios perdidos em 2014, sobre os quais nunca deixou de reivindicar soberania.

As metas declaradas por Kuleba, assim como o comentário do ministro da Defesa de que Kiev entra numa fase longa do conflito, indicam que uma saída negociada está cada vez mais distante .

A Rússia, assim como a maior parte da população do país, considera a Crimeia parte integral de seu território, enquanto Kiev continua a reivindicar soberania sobre ele. Analistas entendem que nenhum governo russo vai ceder a península.

Nesta sexta-feira, os ministros das Relações Exteriores do G7 se reuniram na Alemanha em conversa com o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, que pressionou o grupo a tomar medidas para repassar ativos russos apreendidos a Kiev, de modo a financiar a reconstrução do país.

— Pedi aos países do G7 para que adotem legislações e implementem todos os procedimentos necessários para confiscar ativos soberanos russos e entregá-los à Ucrânia — disse Kuleba. — Para usar esse dinheiro para reconstruir nosso país depois de todos os danos infligidos a nós.

Kuleba disse que sentia que o G7 chegaria a esse ponto “mais cedo ou mais tarde”.