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Um mês após crise política, esquerda alemã derrota extrema direita em eleições na Turíngia

Aliança entre CDU e AfD em pleito cancelado gerou controvérsia que derrubou herdeira de Merkel
Bodo Ramelow, após ser eleito para comandar a Turíngia Foto: JENS SCHLUETER / AFP
Bodo Ramelow, após ser eleito para comandar a Turíngia Foto: JENS SCHLUETER / AFP

BERLIM — O candidato do partido alemão A Esquerda, Bodo Ramelow , foi eleito nesta quarta-feira para governar a região da Turíngia, pondo fim — ao menos temporariamente — à polêmica que gerou um terremoto político no país . Um mês atrás, o apoio da extrema direita para a formação do governo regional  derrubou Annegret Kramp-Karrenbauer , tida como herdeira política da chanceler Angela Merkel, da presidência da União Democrata Cristã (CDU).

Em fevereiro, a legenda da chanceler federal uniu-se à Alternativa para a Alemanha (AfD) para impedir que Ramelow fosse reeleito — quebrando uma regra assumida pela CDU ao fim da Segunda Guerra Mundial de não se aliar à extrema direita. Eles apoiaram Thomas Kemmerich , do Partido Democrático Liberal (FDP, na sigla em alemão), que se viu forçado a renunciar 24 horas depois frente à crise nacional desencadeada pela aliança entre a CDU e a AfD , fechada sem o aval de Merkel ou Kramp-Karrenbauer .

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Ramelow, que ocupava o cargo interinamente, foi eleito com 42 dos 92 votos do Parlamento do pequeno estado ao Leste da Alemanha, apoiado pelos social-democratas do SPD e pelos verdes. O político, que retorna ao cargo que ocupava antes das eleições de outubro do ano passado, teve como adversário Bjorn Höcke, da AfD, mas derrotou-o na terceira rodada de votações, após não atingir a maioria absoluta de 46 votos nas rodadas anteriores.

Assim como se opõe a alianças com a extrema direita, a CDU também não faz acordos com A Esquerda, especialmente devido ao fato de ter sido formado por quadros do antigo PC da Alemanha Oriental. Para evitar um dilema, Ramelow havia pedido para que o partido se abstivesse de votar, já que bastaria maioria simples para ser eleito na rodada derradeira. O FDP de Kemmerich também se absteve.

Höcke, 47 anos, comanda o setor mais radical da AfD, conhecido como "A Ala" e vigiado pela Inteligência do país. Xenófobo, o grupo questiona a cultura de arrependimento pelos crimes cometidos pelo Estado alemão durante o nazismo — espinha dorsal da identidade alemã no pós-guerra.

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A volta de Ramelow ocorre em meio à corrida para escolher o sucessor de Kramp-Karrenbauer, que também desistiu de concorrer ao governo alemão em 2021, em uma convenção partidária marcada para o dia 25 de abril. Os favoritos para sucedê-la são Friedrich Merz, identificado com a ala mais conservadora da CDU; Norbert Röttgen, atual ministro do Meio Ambiente; Armin Laschet, aliado próximo de Merkel; e Jens Spahn, também da ala direita do partido.

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As eleições, no entanto, correm risco devido ao novo coronavírus, o Covid-19: um membro do Parlamento estadual da Turíngia era um dos casos suspeitos de ter contraído a infecção no país, mas seu teste deu negativo. Caso seus exames tivessem acusado a presença do vírus, as eleições seriam adiadas por tempo indeterminado.