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'Você é um grande líder', diz Trump a Kim na segunda cúpula sobre desnuclearização, no Vietnã

Líder norte-coreano diz estar 'certo' de que novo encontro dará resultado concreto; presidente americano destaca que 'já houve muito progresso'
Presidente dos EUA, Donald Trump, cumprimenta líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, no seu segundo encontro frente a frente, desta vez no Vietnã Foto: SAUL LOEB / AFP
Presidente dos EUA, Donald Trump, cumprimenta líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, no seu segundo encontro frente a frente, desta vez no Vietnã Foto: SAUL LOEB / AFP

HANÓI — O presidente dos EUA, Donald Trump , e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un , se encontraram cara a cara pela segunda vez em Hanói, capital do Vietnã , nesta quarta-feira. A nova cúpula, que continua amanhã, acontece oito meses após o histórico encontro em Cingapura, onde firmaram um vago compromisso pela desnuclearização da Península Coreana.

Kim e Trump se cumprimentaram com um aperto de mãos em frente a uma fileira de bandeiras dos dois países no Hotel Sofitel Legend Metropole, da era colonial francesa, por volta de 8h30 (horário de Brasília).

Logo na chegada para a reunião, os líderes concederam uma entrevista coletiva. Trocaram sorrisos e manifestações de celebração pelo encontro, repetindo o tom que marcara a cúpula do ano passado.

coreia_2702 Kim afirmou que os dois países superaram obstáculos e precisaram ter paciência até organizarem o encontro no Vietnã, cuja realização atribuiu a uma "corajosa decisão política" de Trump. Segundo o líder de Pyongyang, "o mundo de fora" não compreendeu a relação entre os dois governos depois de Cingapura.

— Estou certo de que um resultado será alcançado desta vez, e será bem recebido por todas as pessoas — disse Kim. — Eu farei o meu melhor para que isso aconteça.

Trump afirmou que era "uma honra" estar na presença do líder norte-coreano, a quem classificou como "grande líder". O chefe da Casa Branca destacou que o os dois países tiveram "uma primeira cúpula de muito sucesso" e que esperava uma segunda "igualmente bem-sucedida". Na visão do presidente americano, Washington e Pyongyang se ajudarão para "fazer acontecer" o processo de desnuclearização da Península Coreana.

— É ótimo estar com você — disse Trump a Kim, com intermediação de uma tradutora. —Seu país tem um potencial econômico tremendo. Você terá um futuro tremendo para seu país. Você é um grande líder. Vamos ajudar.

Depois de um encontro de 20 minutos, a portas fechadas, os dois líderes seguiram para um jantar na companhia de seus assessores. À mesa, sentaram-se lado a lado e trocaram mais sorrisos e gestos de cortesia, ao lado do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, e do chefe de gabinete em exercício, Mick Mulvaney.

— Nada como ter um bom jantar privativo — brincou Trump enquanto poucos jornalistas registravam os líderes à mesa. Alguns jornalistas foram barrados de cobrir o jantar.

O presidente pediu que os fotógrafos fizessem ele e Kim "saírem bem" nas fotos e classificou o contato com o líder norte-coreano como um "relacionamento muito especial". Trump deixou o hotel após uma hora e 42 minutos de jantar. Pelo Twitter, ele destacou que teve "ótimas reuniões" e um "diálogo muito bom" com o norte-coreano nesta quarta-feira.

Nesta quinta-feira, os dois chefes de Estado voltam a se encontrar "em uma série" de reuniões, informou a Casa Branca. Trump disse na rede social que está ansioso para retomar as negociações no dia seguinte.

Diante da pressão de sair de Hanói com um acordo mais substantivo que o anterior, Trump e Kim ajustaram as estratégias e redefiniram as delegações de negociação. Mas apostaram sobretudo no encontro cara a cara, cuja imprevisibilidade deixa em alerta o establishment diplomático de Washington. A nova cúpula servirá para testar o compromisso do líder norte-coreano e a impulsividade do presidente americano, que não raro contradiz informes da inteligência e de assessores. Kim sabe que é Trump quem tem a caneta na mão e, segundo analistas, tentará se aproveitar disso para conseguir concessões em meio às resistências de Washington, que em boa parte continua cética sobre suas intenções.

Donald Trump e Kim Jong-un se encontram, no Vietnã, em segunda cúpula sobre desnuclearização da Península Coreana. Kim diz estar 'certo' que novo encontro dará resultado concreto
Donald Trump e Kim Jong-un se encontram, no Vietnã, em segunda cúpula sobre desnuclearização da Península Coreana. Kim diz estar 'certo' que novo encontro dará resultado concreto

Desafio e pressão

O histórico aperto de mãos em Cingapura mudou o rumo de uma relação que parecia à beira da confrontação militar. Agora, pressionado pela elite e pelos militares, Kim buscará alívio das sanções econômicas impostas após os testes balísticos do regime, suspensos desde 2017. O establishment de Washington resiste em ceder sem antes verificar um progresso na desnuclearização, mas teme que Trump redefina a política americana por conta própria. Ao chegar para a reunião em Cingapura, o republicano respondeu a jornalistas que não abriria mão de pressionar pela desnuclearização.

O establishment dos EUA teme que a retirada de sanções leve a Coreia do Norte a não fazer mais concessões, enquanto Kim rejeita qualquer concessão “unilateral". Em seu discurso de Ano Novo, o líder de Pyongyang insinuou vai tomar um “caminho alternativo” se os EUA não cederem na pressão sobre o país.

Agora, o presidente americano vem argumentando que o Vietnã, sede do segundo encontro, é um exemplo a ser seguido, em referência ao processo de recuperação do país nas últimas quatro décadas, desde a saída das forças americanas do seu território.

"O Vietnã avança como poucos lugares no mundo. A Coreia do Norte faria o mesmo, e muito rapidamente, se decidisse se desfazer do seu arsenal nuclear", disse Trump em seu Twitter horas antes do encontro com Kim.

ENTENDA: Os projetos e as concessões que estarão sobre a mesa de Trump e Kim

O governo Trump pressiona a Coreia do Norte a abandonar o programa de armas nucleares, que, combinado ao desenvolvimento de suas capacidades balísticas, é visto como uma ameaça aos Estados Unidos. A Coreia do Norte, com o apoio da Coreia do Sul — que no ano passado articulou a aproximação entre Trump e Kim — quer um processo passo a passo, em fases, com concessões mútuas e graduais de lado a lado.

A Coreia do Norte conduziu seu mais recente teste nuclear, o sexto da série de exercícios do tipo, em setembro de 2017. Em novembro do mesmo ano, realizou o último teste de um míssil balístico intercontinental. Desde então, suspendeu os testes, mas continou o enriquecimento de combustível nuclear em bases secretas. Nesta semana, antes de embarcar para o Vietnã, Trump destacou que faria satisfeito — e sem pressa —com o andamento das negociações "contanto que não haja testes" balísticos.

Um porta-voz da Presidência da Coreia do Sul destacou a jornalistas em Seul que a cúpula do Vietnã pode render uma declaração formal do fim da guerra na Península Coreana. O conflito de 1950 a 1953 terminou em trégua e não em tratado que oficializasse a paz entre as Coreias. O Norte apela há tempos por um tratado de paz, que vê como grande passo para a normalização das relações diplomáticas intercoreanas, e por garantias de segurança.

Uma declaração formal do fim da guerra, que precisa ter o aval dos EUA, da ONU e da China, já seria visto por Pyongyang como uma das concessões esperadas de Trump. Washington poderá ainda oferecer a abertura de "escritórios de ligação", que serviriam como embaixadas de fato entre os dois países", e concordar com a retomada de projetos econômicos intercoreanos, diante do impasse sobre as sanções das Nações Unidas.É esperado que Pyongyang, por sua vez, acerte o fechamento do complexo de Yongbyon, sua principal instalação nuclear.