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YouTube excluirá milhares de vídeos racistas e extremistas

Conteúdo que 'alega que um grupo é superior para justificar discriminação, segregação ou exclusão' e vídeos que negam a ocorrência de incidentes violentos serão removidos
Membro da Ku Klux Klan durante ato de supremacistas brancos em Charlottesville, na Virgínia, em 2017 Foto: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP 8-7-2017
Membro da Ku Klux Klan durante ato de supremacistas brancos em Charlottesville, na Virgínia, em 2017 Foto: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP 8-7-2017

NOVA YORK - O YouTube anunciou nesta quarta-feira que planeja remover milhares de vídeos e de canais que defendem o neonazismo , a supremacia branca e outras ideologias intolerantes, em uma tentativa de limpar o serviço do extremismo e do discurso de ódio.

A nova política proibirá "vídeos que alegam que um grupo é superior para justificar discriminação, segregação ou exclusão", disse a empresa em uma publicação na internet. A proibição também valerá para vídeos que negam a ocorrência de incidentes violentos, como o tiroteio em massa na Escola Elementar Sandy Hook, em Connecticut.

O YouTube não indicou o nome nenhum canal ou vídeo específico que seria banido.

"É nossa responsabilidade proteger e impedir que nossa plataforma seja usada para incitar o ódio, o assédio, a discriminação e a violência", comunicou a empresa.

A decisão do YouTube, que é de propriedade do Google, é a mais recente ação de uma empresa do Vale do Silício para conter a propagação do discurso de ódio e desinformação em seu site. Um mês atrás, o Facebook baniu sete de seus usuários mais polêmicos, incluindo Alex Jones, famoso teórico da conspiração americano, fundador da InfoWars. O Twitter já banira Jones no ano passado.

As empresas sofreram críticas intensas por sua reação tardia à disseminação de conteúdo odioso e falso. Ao mesmo tempo, o presidente Trump e outros alegam que as gigantes tecnológicas censuram opiniões de direita. As novas políticas adotadas pelas empresas inflamaram este debate.

A tensão ficou evidente na terça-feira, quando o YouTube disse que um conhecido Youtuber de direita que usou linguagem racista e insultos homofóbicos para assediar um jornalista em vídeos no YouTube não violou suas políticas. A decisão desencadeou grande insatisfação online, incluindo acusações de que o YouTube estava dando passe livre para que alguns de seus criadores populares fizessem o que bem entendessem.

Nos vídeos, o comentarista conservador Steven Crowder, que tem quase quatro milhões de assinantes do YouTube, insultou por repetidas vezes Carlos Maza, um jornalista da Vox. Crowder insultou Maza por sua origem cubana-americana e sua orientação seuxal. Crowder disse que seus comentários eram inofensivos e o YouTube determinou que eles não violavam as suas regras.

"As opiniões podem ser profundamente ofensivas, mas, se elas não violarem nossas políticas, permanecerão em nosso site", afirmou o YouTube em um comunicado sobre sua decisão sobre Crowder.

As decisões de terça e quarta-feira deixam claro um dilema central das empresas de mídia social: aplicar suas regras de uso.

— Esta é uma mudança importante e há muito esperada — disse Becca Lewis, membro de pesquisa da organização sem fins lucrativos Data & Society, sobre a nova política. — No entanto, o YouTube já aplicou suas diretrizes de maneira inconstante no passado, por isso, ainda é preciso ver o quanto essas atualizações serão eficazes.

A escala do YouTube — onde mais de 500 horas de novos vídeos são carregados a cada minuto — tornou difícil para a empresa rastrear violações de suas regras. E a abordagem historicamente frouxa da empresa em moderar vídeos extremos levou a uma série de escândalos, incluindo acusações de que o site promoveu vídeos perturbadores para crianças e permitiu que grupos extremistas se organizassem em sua plataforma.

O sistema de publicidade automatizada do YouTube associou vídeos ofensivos a anúncios de grandes empresas, o que levou vários anunciantes a abandonarem o site.

Nesta terça-feira, foi divulgado um estudo de Harvard feito com vídeos brasileiros que acusa o algoritmo do YouTube de alimentar pedofilia.