KIEV — O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse nesta sexta-feira que há um alto risco de encerrar as negociações de paz com Moscou. Segundo ele, todo o processo em torno de um acordo de paz está ocorrendo com muita lentidão.
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— Os riscos de fechar completamente qualquer diálogo com os russos são muito altos — disse o líder ucraniano, segundo o site Ukrainska Pravda.
Ainda assim, Zelensky afirmou que continua pronto para conversar com seu homólogo russo, Vladimir Putin, apesar das atrocidades cometidas em cidades como Bucha e Mariupol, entre outras, pelas tropas russas.
Zelensky ressaltou que queria se encontrar com Putin porque "um homem decide tudo". Segundo ele, no entanto, é alto o risco de fracasso nas negociações com Moscou porque, "depois de Bucha e Mariupol , as pessoas (do seu país) só querem matá-los”.
— E quando há tal atitude, é difícil falar sobre qualquer coisa — complementou.
O presidente ucraniano disse, esta semana, que se os moradores na cidade sitiada de Mariupol forem mortos pelo Exército russo, e se a Putin organizar "referendos" em territórios ocupados, seu governo interromperá as negociações de paz.
Crematórios móveis
Por outro lado, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, garantiu que Moscou manterá o diálogo com os ucranianos, embora tenha dito que a "a boa vontade tem seus limites", acusando Kiev de apenas "aparentar" disposição para conversar.
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Ainda de acordo com o Ukrainska Pravda, Zelensky também comentou sobre as fossas comuns encontradas em cidades ucranianas que foram ocupadas pelas tropas russas.
— Os vestígios estão sendo removidos. Mas foram tantas as mortes que, apesar de os muitos corpos terem sido queimados, encontramos sepulturas de 900 pessoas na região de Kiev — reforçou.
Segundo o presidente ucraniano, "os russos usam crematórios móveis” e, por isso, "será difícil investigar” seus possíveis crimes de guerra, já que ninguém sabe quantas pessoas foram mortas:
— Haverá um censo porque nós não sabemos quantas pessoas poderiam ter morrido.
Cimeira do G20
Apesar do conflito, o presidente indonésio Joko Widodo informou, também nesta sexta-feira, que convidou Zelensky para a cúpula do G20, marcada para ocorrer novembro em Bali, na Indonésia. Putin já confirmou sua participação no encontro.
— Convidei o presidente Zelensky para participar da cúpula do G20 — disse o líder indonésio, sugerindo que chegou, assim, a uma solução diplomática sobre a participação da Rússia no encontro, após pressões dos países ocidentais para excluir Moscou do grupo em retaliação à invasão da Ucrânia.
Jacarta justificou que sua posição obrigava-a a ser "imparcial". O presidente americano, Joe Biden, propôs, então, a participação da Ucrânia, para que houvesse um equilíbrio.
Em um tuíte publicado na quarta-feira, Zelensky confirmou ter sido convidado para a cúpula, após uma conversa por telefone com o presidente indonésio. No dia seguinte, Widodo também conversou com o líder russo.
— Nesse momento, o presidente Putin agradeceu à Indonésia pelo convite para a cúpula do G20 e disse que participaria — declarou o anfitrião.
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Os EUA criticaram nesta sexta a presença de Putin na reunião de cúpula.
— Não se pode fingir que nada está acontecendo em relação à participação da Rússia no seio da comunidade internacional e das instituições internacionais — disse a vice-porta-voz do Departamento de Estado, Jalina Porter.