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Colunistas convidados escrevem para a editoria de Opinião do GLOBO.

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Artigos escritos por colunistas convidados especialmente para O GLOBO.

O massacre por terroristas do Hamas despertou o antissemitismo que estava adormecido. Em meu livro “Combatendo o antissemitismo”, mostro a evolução histórica até a forma atual: negar o direito dos judeus a uma pátria e buscar sua eliminação física. As brutalidades vistas no massacre chegam a parecer ficção, tal o horror que associou fuzilamentos, estupros, decapitação, queima de seres humanos vivos, tortura — transmitido ao vivo por celular, acompanhado de risos. Mil e quatrocentos chacinados em menos de 24 horas. O massacre em Israel, por sanguinários que diziam “lutar por uma Palestina Livre”.

Com essa ação conseguiriam um Estado? Improvável. O verdadeiro intento era matar e sequestrar — daí bebês decepados, deficientes físicos fuzilados, famílias inteiras amarradas e queimadas vivas enquanto seus algozes se deliciavam transmitindo o “show macabro” pelo celular. Os terroristas se consideram mártires, e assim são tratados por milhares de simpatizantes na Jordânia e na Austrália, no Irã e até no Brasil, onde, infelizmente, as manifestações antissemitas foram de uma crueldade inimaginável numa sociedade progressista.

Membros das cúpulas de partidos como PCO, PSOL e PT usaram artimanhas semânticas para justificar o injustificável — tal como seus opostos da extrema direita. Nenhuma empatia com a dor de humanos torturados. Fica a pergunta, parafraseando Shakespeare:

— Se você furar judeus, eles não sangram? Se lhes fizer cócegas, não riem? Se os envenenar, não morrem? E se você os massacra, lhes é proibido reagir?

Disse o lorde e rabino Jonathan Sacks (1948-2020) no livro “Future tense”:

— Os judeus não podem combater o antissemitismo sozinhos. A vítima não pode curar o crime. O odiado não pode curar o ódio… As únicas pessoas que podem combater com sucesso o antissemitismo são as dispostas a agir nas culturas que abrigam os antissemitas.

A História mostra: o que ocorre aos judeus acabará ocorrendo no resto do mundo, como escreve Pilar Rahola. Ela chama os judeus de “canários dos mineiros”. O canário é mais sensível que o homem à falta de oxigênio e aos gases tóxicos. Caso falte oxigênio na mina, ele é o primeiro a morrer. Ao verem-nos asfixiados, os mineiros sabem que devem abandonar a mina a toda velocidade porque é o prelúdio da morte de todos.

Na História moderna os judeus são os “canários”. O primeiro sequestro de avião por terroristas foi a um avião de Israel — depois, aviões franceses, belgas, americanos, alemães, brasileiros e suíços. Homens-bomba se explodiam em Israel, depois em toda a Europa. O terror na Europa começou com alvos judaicos, depois foram metrôs, ônibus, teatros e museus. Atropelamentos intencionais, idem. O terror que hoje mata judeus em Israel é ameaça a todo o mundo, ainda que você não queira se dar conta disso.

Terroristas acham que morrem em troca de vida eterna no paraíso, mas mártir de verdade é o humanista que morre para salvar uma vida (Mouloud Benzadi), algo infelizmente comum na história dos judeus.

O terror antissemita do fatídico 7 de outubro de 2023 se transformará em terrorismo global. Justificar e aplaudir terroristas não dará imunidade a ninguém. O canário morreu. É hora de abandonar a mina.

*Marcos L. Susskind é ativista comunitário, guia de turismo e radialista

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