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Artigos escritos por colunistas convidados especialmente para O GLOBO.

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Quantas vezes você embarcou num avião, sentou-se, ouviu a mensagem de fechamento de portas dentro do horário previsto, mas permaneceu parado no pátio do aeroporto ou em longas filas de táxi até que pudesse decolar? Ou, ainda, ouviu o comandante dizer que aguardava autorização para o pouso?

O governo federal apresentou um plano de investimentos para os próximos anos em portos e aeroportos para ampliar a capacidade e competitividade das estruturas brasileiras.

A Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) há muito recomenda iniciativas para maximizar a capacidade operacional das infraestruturas físicas dos aeroportos. Entre essas medidas, destacam-se centralizar a gestão do pátio de aeronaves, tradicionalmente compartilhada de forma pouco eficiente entre a Torre de Controle e o Operador Aeroportuário, por meio de Centros de Gestão de Pátio; e adotar tecnologias de vigilância de superfície para promover maior nível de consciência situacional compartilhada.

Ainda assim, é possível que em horários de pico a demanda ultrapasse a capacidade operacional. Nesses casos, é razoável recorrer a programas nacionais ou regionais para a gestão de fluxo e capacidade do tráfego aéreo, baseados em restrição de demanda. É o conceito operacional chamado CDM (Collaborative Decision Making), cujo princípio básico é restringir a demanda, para adequá-la à capacidade operacional do sistema.

Obviamente, a adoção desse conceito em aeroportos com infraestrutura física subutilizada representa uma interferência precoce nas intenções de voo das companhias aéreas. Esse é um equívoco que ocorre com frequência na América Latina, que precisa ser corrigido para não submeter as companhias aéreas e os seus passageiros a limitações de demanda desnecessárias.

Esforços para o aumento de capacidade operacional da infraestrutura existente, mediante iniciativas como a Gestão Centralizada do Pátio e a adoção de tecnologias de vigilância de superfície, são ações urgentes para nossos aeroportos que proporcionam benefícios imediatos — agilidade nos procedimentos e previsibilidade dos processos — e viabilizam programas de restrição de demanda e redução de flexibilidade futuros, se necessário. Tais programas são inexequíveis em aeroportos que não tenham investido previamente na adoção das melhores práticas para aumento de eficiência, capacidade e previsibilidade operacional.

A implantação desses programas deve ser objeto de um amplo debate que inclua a opinião pública, já que todas as partes interessadas deverão estar preparadas para decidir se, nos momentos de maior tráfego, querem priorizar a eficiência da operação e do consumo de combustível, em detrimento da pontualidade.

O custo operacional de aeronaves com turbinas acionadas em grandes esperas, em superfície ou em voo, ameaça de forma severa o resultado financeiro das operações das companhias aéreas, sem mencionar o impacto ambiental, associado à emissão desnecessária de CO₂.

*Sergio Martins é diretor de vendas de Air Traffic Management na Saab Brasil e engenheiro com mais de 35 anos de experiência em gestão de tráfego aéreo

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