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GERADO EM: 25/07/2024 - 00:05

Rituais Olímpicos: Paris 2024 e a Trégua Renovada

Os Jogos Olímpicos como uma ilha ritual de paz em meio a crises, destacando a importância dos rituais e da trégua olímpica. Paris 2024 renova cerimônias e evita crises, ressaltando a conexão com o público e a dramaturgia dos Jogos. A narrativa ritual protege o evento, valoriza conquistas dos atletas e consagra a paixão do público, mesmo em um mundo conflituoso.

Paris 2024 renova o ritual olímpico da cerimônia de abertura, a primeira nas ruas da cidade anfitriã e, ao mesmo tempo, fortalece todos os outros rituais que sustentam o olimpismo. Não seria um exagero definir os Jogos Olímpicos como uma ilha ritual cercada de esportes e fãs por todos os lados. Basta uma lista rápida: abertura, apresentação dos atletas nas provas, competições, cerimônia de premiação, cerimônia de encerramento...

No mundo olímpico, até os discursos se enquadram na narrativa ritual. Falam do esporte, dos atletas que inspiram a juventude, da união dos povos pela paz, do barão Pierre de Coubertin, fundador do olimpismo moderno, do time de refugiados e das tradições gregas. Nenhuma fala pública nos Jogos escapa desse roteiro. Em síntese, a Olimpíada nos mostra a beleza do extraordinário no mundo ordinário de todo dia.

Numa preparação de raro sucesso, os franceses conseguiram desviar os Jogos de Paris de um dos rituais mais comuns na Olimpíada, as crises. Tivemos debate sobre a segurança das cerimônias, sobre a sede das provas de surfe em Teahupoo, no Taiti, a mais de 15 mil quilômetros de distância, sobre a remuneração das forças de segurança em regime de “horas extras” por vários meses e sobre a limpeza do Rio Sena. Nenhuma dessas discussões, porém, evoluiu como uma crise. Que os deuses do esporte protejam Paris. Seria novo, e raro, uma edição dos Jogos Olímpicos sem crises de comunicação.

A narrativa ritual confirma seu protagonismo no universo comunicacional dos Jogos, boa notícia. No mundo da overdose de informação, com as redes sociais ávidas por polêmicas, um evento tão grandioso, até agora vacinado contra as crises, é muito positivo. O destaque dessa fase pré-olímpica talvez tenha sido a maneira como o Comitê Olímpico Internacional (COI), a França e a ONU lidaram com o ritual da trégua olímpica com duas guerras importantíssimas a pleno vapor (a invasão russa à Ucrânia e o conflito entre Israel e Hamas). Mesmo sem impor a trégua, que nasceu na Grécia, a ONU foi enfática na opção pela paz e, com isso, o COI cumpriu sua missão. Apesar de ser uma trégua simbólica, fica evidente a importância de um discurso sobre a pax olímpica num mundo conflagrado.

A constatação de que Paris conseguiu superar todos os obstáculos da preparação sem passar por crise valoriza demais a festa olímpica. Não custa lembrar que os Jogos só devem atingir o auge de sua conexão com o público depois da cerimônia, sempre o evento de maior audiência na TV e no planeta digital. Mesmo com o noticiário dominado pela eleição presidencial dos Estados Unidos e pelas guerras, a Olimpíada começa a se impor como a grande atração global do ano.

Por mais que soe anacrônica a sugestão da trégua olímpica num mundo com duas guerras em curso, nos parece importante notar como a estrutura ritual do mundo olímpico protege o festival de esportes que veremos em Paris. Além de servir como âncora conceitual dos Jogos, os rituais produzem as experiências que o público busca quando acompanha um evento dessa magnitude.

Os rituais olímpicos contribuem para a dramaturgia dos Jogos. Uma vitória ou uma derrota em Paris são capazes de marcar para sempre a vida dos atletas. O fato de a Olimpíada acontecer a cada quatro anos potencializa o valor de uma conquista e, também, de um fracasso. Valoriza também o espetáculo, já que um triunfo terá quatro anos de validade na memória popular. A Olimpíada funciona tão bem por uma coleção de fatores. E a experiência ritual se configura como pilar da narrativa que consagra ao mesmo tempo a paixão do público e as conquistas dos melhores atletas do planeta.

*Paulo Nassar, professor titular da USP, é diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, Mario Andrada, mestre em ciências da comunicação pela USP, foi diretor executivo de comunicação dos Jogos Olímpicos Rio-2016

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