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GERADO EM: 05/07/2024 - 00:05

Prevenção da gravidez na adolescência

A gravidez na adolescência é um desafio social e de saúde pública, com falta de informação sobre métodos contraceptivos. A educação sexual é fundamental para prevenir gestações precoces e garantir o direito à informação dos jovens.

No passado longínquo, era comum pais de garotos adolescentes dizerem “prenda as suas cabras que meu bode está solto”, dando a entender que cabiam à mulher a iniciativa de se preservar e os cuidados com a prevenção da gravidez. Décadas mais tarde, tal expressão ainda faz parte de nosso inconsciente coletivo, principalmente quanto à responsabilização de uma gestação não planejada na adolescência.

A gravidez na adolescência é uma questão social e, segundo a Organização Mundial da Saúde, ocorre em jovens entre 10 e 20 anos, com mais riscos às meninas na faixa etária de 10 a 14. Na maioria das vezes, a gestação acontece sem preparo ou informação. Isso evidencia a necessidade de uma abordagem urgente, não limitada ao âmbito privado, mas na esfera das políticas públicas, que garanta aos jovens o direito à informação.

Não podemos naturalizar o assunto, tampouco excluir da conversa o pai, muitas vezes também adolescente. Numa perspectiva de gênero, é fundamental discutir a paternidade na adolescência, sobretudo num período em que ambos estão em pleno desenvolvimento físico, psicológico e social, sem condições de assumir uma criança.

Segundo dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos, no início de 2023, nasceram por hora 44 bebês de mães adolescentes no Brasil. Destes, dois eram filhos de meninas de 10 a 14 anos. Muitas gestações resultaram da falta de informação sobre os métodos para evitá-las.

Capa do audio - Bernardo Mello Franco - Conversa de Bastidor

O resultado da pesquisa realizada pelo Projeto Adolescentes Mães do Hospital Moinhos de Vento — com 1.177 mulheres das cinco regiões do Brasil no período de agosto de 2022 a maio de 2023 — mostra falta de informação a respeito dos métodos contraceptivos por parte dessas mães adolescentes. O recorte apenas com o grupo de adolescentes de 10 a 19 anos soma 49,5%. Desse percentual de mães tão jovens, 64,4% engravidaram sem planejamento e, delas, 20,4% desconheciam como evitar a gestação.

Além da falta de informação, alguns fatores explicam a gravidez na adolescência, como pressões sociais, necessidade de aceitação, dificuldade de usar um método contraceptivo com medo de que os pais descubram, pensamento mágico de que “isso não vai acontecer comigo” ou violência sexual, situação em que a menina ou adolescente precisa ser acolhida, e não criminalizada.

Tal vivência causa impacto nas questões sociais, biológicas e psicológicas e é um desafio não só à saúde pública, mas à sociedade e a toda a família. Do ponto de vista educacional, é comum as adolescentes não retornarem aos estudos após o parto, comprometendo seu futuro.

O que fazer? A educação sexual, em casa e na escola, pode contribuir satisfatoriamente. O conhecimento da sexualidade, dos direitos sexuais e reprodutivos e dos métodos contraceptivos é fundamental para informação e formação dos adolescentes, com escolhas mais assertivas, saber dizer “não”, ter boa autoestima, não se deixar levar apenas porque o outro quer e, quando chegar o momento, que seja com planejamento e prevenção.

*Marcos Ribeiro, mestre em educação sexual pela Unesp, é autor do livro “Adolescente: um bate-papo sobre sexo”

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