A ameaça da mudança climática se converteu em realidade, na forma de uma crise social e ambiental que exerce influência sobre nós, ficando evidente a necessidade de criarmos cadeias produtivas responsáveis em todas as suas etapas. Esse é o propósito do 12º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU: “Assegurar padrões de consumo e produção mais sustentáveis”.
A indústria do plástico é interlocutora fundamental nessa conversa. Não apenas como parte interessada, mas consciente das consequências negativas associadas à má gestão de resíduos. Mas a conversa precisa se dar sobre bases reais. Dados da WWF International e da Plastic Free Foundation, amplamente divulgados, pecam nesse sentido.
As ONGs afirmam que o Brasil produz “mais de 430 milhões de toneladas de plástico virgem” e que “60% deste volume é de uso único”. Segundo o último levantamento do IBGE, isso corresponde a 40% (não a 60%) do material comercializado no país. Os descartáveis (copos, canudos, embalagens de talheres etc.), segundo a mesma fonte, são apenas 1,85% desse montante.
Outro dado equivocado mostra que o mundo só recicla 9% do plástico. Se considerarmos todo o material produzido em um ano versus o montante reciclado, a percentagem está correta, mas ela ignora a distinção entre plásticos de ciclos curto, médio e longo. O plástico que está no interior de um automóvel ou numa geladeira não será reciclado nos próximos 12 meses. Na verdade, é difícil prever quando será descartado.
Pesquisa da MaxiQuim revelou que mais de 25% dos resíduos plásticos pós-consumo foram reciclados. Na ânsia de proibir produtos descartáveis, acabaram por incluir na lista de banimentos produtos essenciais, sem que tenhamos tecnologia de outros materiais disponível para substituição. Esse é o espírito do Projeto de Lei 2.524/2022, apelidado de economia circular do plástico, que, na verdade, não propõe uma visão sistêmica e, na prática, prevê apenas o banimento.
Defensores de propostas desse tipo precisam responder a duas questões: que material substituiria o plástico no caso das embalagens para proteína animal ou para medicamentos, que não podem ser armazenados com segurança de outra maneira? E quão poluente é a cadeia produtiva desse novo material?
A discussão da análise de ciclo de vida dos produtos — exemplificada na pesquisa “Impacto climático dos plásticos”, da McKinsey & Company, em 2022, e no estudo realizado pela Universidade de Sheffield, em abril — mostra que substituir plásticos por papel, vidro e metal resulta em aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE). O estudo analisou 16 aplicações, revelando emissões de GEE mais baixas em 15 casos quando comparadas às alternativas de papel, vidro e metais.
A falta de respostas satisfatórias evidencia como o debate sobre o plástico está excessivamente concentrado na ponta do descarte, ignorando o todo e carecendo de avaliação técnica e científica. Ignorar a complexidade desse desafio pode nos levar a soluções que não ataquem a raiz do problema e, consequentemente, perpetuem os mesmos padrões insustentáveis de consumo.
*José Ricardo Roriz e Paulo Teixeira são, respectivamente, presidente do conselho e presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do Plástico