Artigos
PUBLICIDADE
Artigos

Colunistas convidados escrevem para a editoria de Opinião do GLOBO.

Informações da coluna

Artigos

Artigos escritos por colunistas convidados especialmente para O GLOBO.

Por e

RESUMO

Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 13/07/2024 - 00:05

Importância dos tubarões no ecossistema marinho

O artigo destaca a importância dos tubarões no ecossistema marinho, ressaltando que são essenciais para controlar as populações de peixes e evitar superpopulação. Também aborda a ameaça que os tubarões enfrentam devido à pesca predatória e destaca iniciativas de conservação, como o Projeto Tubarões da Baía da Ilha Grande. A narrativa busca desconstruir estigmas sobre esses animais e promover a preservação das espécies.

Quase 50 anos depois de seu lançamento, o filme “Tubarão”, de Steven Spielberg, ainda mexe com os corações da plateia. Para a maioria, o animal é fonte de pânico, terror, medo, onda em que a indústria cinematográfica segue surfando. Às vésperas da Olimpíada de Paris, chega às plataformas de streaming o filme “Sob as águas do Sena”, sobre um tubarão no rio que corta a capital francesa. “Desespero profundo” conta a história de um avião que leva passageiros de férias e cai num mar infestado de tubarões. Mais dois shark movies que retratam esses animais como feras indomáveis, comedoras de gente, que criam estigmas irreversíveis sobre a espécie.

Na véspera do 14 de julho, Dia Mundial de Tubarões e Raias, o filme que será contado tem outro roteiro. Ataques de tubarão são um risco que, sim, deve ser considerado por qualquer um que entre no ambiente marinho. Como em qualquer atividade recreativa, o participante precisa reconhecer que certos perigos são parte do esporte: correr pode causar dores nas canelas; acampar, levar a picadas de carrapatos e mosquitos; e assim por diante.

Há outras situações que ameaçam vidas humanas muito mais que a possibilidade de encontro fatal com um tubarão. O risco de ser atingido por um raio é maior. Os acidentes de trânsito matam muito mais. As doenças causadas por estilo de vida inadequado também. Mais informações sobre essas estatísticas podem ser encontradas no site do Museu da Flórida (https://shre.ink/DoOC).

É, portanto, importante refletir sobre quem de fato representa ameaça. É de 63 a média anual de incidentes não provocados com tubarões — não são chamados ataques porque humanos não estão no “cardápio” deles, eles mordem como forma de compreender algo estranho. No ano de 2023, foram registrados 69 incidentes, e dez foram fatais. Em contrapartida, cerca de 80 milhões de tubarões são mortos por ano, e 25 milhões são de espécies ameaçadas de extinção. O Brasil atualmente é o líder mundial no consumo de carne de tubarão. É também um país com grande diversidade desses animais, com mais de cem espécies.

Os tubarões, por serem predadores de topo de cadeia, sofrem com um fenômeno chamado biomagnificação — o acúmulo gradativo de metais tóxicos, ao longo da vida do indivíduo. Isso representa uma grande ameaça ao metabolismo humano, podendo causar diversas consequências, principalmente complicações endócrinas, relacionadas a glândulas e hormônios.

Eles estão na Terra há mais de 400 milhões de anos e são organismos fundamentais para o ecossistema marinho. Um oceano sem tubarões não é um ambiente saudável. Esses animais controlam as populações de peixes, impedindo a superpopulação e o colapso por falta de recursos. Isso não apenas contribui para a saúde do ambiente marinho, mas também para um pescado de qualidade, com peixes maiores e mais saudáveis.

Iniciativas de pesquisa que promovem a conservação e incentivam a criação de políticas públicas, como o Projeto Tubarões da Baía da Ilha Grande, são fundamentais para a preservação desses imponentes predadores. O projeto é uma realização do Instituto Brasileiro de Conservação da Natureza, patrocinado pela Shark Conservation Fund e apoiado por Instituto Mar Urbano, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Divers for Sharks e OceanPact. A iniciativa, contemplada neste mês com o edital Petrobras Socioambiental, tem como objetivo o monitoramento dos tubarões galha-preta, que se aglomeram na região nos períodos entre maio e julho. Coordenada pelo biólogo Leonardo Mitrano Neves, do Laboratório de Ecologia Marinha e Costeira, ligado à UFRRJ, a pesquisa tem o objetivo de entender o comportamento desses animais, sempre para preservá-los. Cientistas do projeto já podem garantir que os galhas-pretas tendem a ser mais pacíficos e evitam qualquer tipo de interação, seja com embarcações, seja com mergulhadores. Alô, Spielberg, está na hora de mudar a narrativa.

*Nathan Lagares, biólogo, é mestrando em ecoturismo e conservação pela Unirio e gerente de projetos do Instituto Mar Urbano, Ricardo Gomes, cinegrafista e mergulhador, é biólogo marinho e diretor do Instituto Mar Urbano

Mais recente Próxima IA a serviço do capital natural brasileiro