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GERADO EM: 24/08/2024 - 00:06

Risco planetário: controle populacional para combater aquecimento global.

O aumento populacional e o consumo de energia exacerbado colocam em risco o planeta. Controlar o crescimento demográfico é visto como a solução para conter o aquecimento global. A recomendação de duas crianças por mulher é considerada uma medida eficaz, porém subestimada. A inércia em abordar essa questão pode resultar em consequências devastadoras para os mais vulneráveis. É urgente agir antes que a natureza imponha suas próprias medidas de forma implacável.

As enchentes no Rio Grande do Sul causaram cerca de 200 mortes e deixaram 600 mil desalojados. Quase ao mesmo tempo, chuvas no Quênia provocaram danos comparáveis. Não há mais dúvidas de que o aquecimento global levará a eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes. Ondas de calor com picos de temperatura acima dos 50 oC e incêndios florestais imensos têm sido registrados cada vez mais, sem falar em países insulares, como Tuvalu, na Oceania, que estão desaparecendo pelo aumento do nível do mar. Mais que números frios, as mudanças climáticas escondem histórias pessoais de grande sofrimento.

O problema está claro. Mas as soluções apresentadas pelos fóruns mundiais — ainda que meritórias — mostram-se extremamente ineficazes. Nos últimos 50 anos, a temperatura da Terra subiu continuamente e hoje está além de 1 oC acima da média do período pré-industrial. Pior que isso é não haver nenhuma evidência de quando e em que ponto isso se reverterá.

Precisamos encarar o problema, se não quisermos continuar chorando por aqueles que tudo perdem e não têm mais idade ou energia para recomeçar. O cerne dele é que viver demanda energia — e com conforto exige muito mais. Segundo a Our World in Data, baseada na Universidade de Oxford (Reino Unido), europeus e americanos consomem per capita mais de dez vezes a energia consumida por africanos.

É assustador imaginar o que aconteceria se os países em desenvolvimento passassem a consumir no mesmo ritmo dos desenvolvidos. A população da China aumentou apenas 20% nos últimos 30 anos, mas seu gasto de energias fósseis aumentou 300%, em linha com seu crescimento econômico.

Mais preocupante ainda é que a população mundial duplicou nos últimos 50 anos, passando de 4 bilhões para 8 bilhões — e as projeções de quando e em que patamar estabilizará são incertas. As populações do Paquistão e da Nigéria já superaram a do Brasil e crescem a taxas anuais de 2% a 3%.

Precisamos ser realistas: as pessoas têm aspirações legítimas de melhorar seu padrão de vida, mas o planeta não suportará desenvolvimento econômico indefinido com crescimento demográfico ilimitado.

Parece haver só uma saída verdadeiramente eficaz para reverter o aquecimento do planeta: implantar políticas de controle demográfico que mantenham a população do planeta em níveis sustentáveis com a tecnologia existente — e não com a que gostaríamos que existisse. Uma taxa da ordem de duas crianças por mulher, que não soa terrivelmente restritiva, já seria suficiente para frear o crescimento da população mundial.

Infelizmente, poucas organizações veem o crescimento demográfico com preocupação. Até mesmo as Nações Unidas ignoram olimpicamente o tema em sua lista de ações para reduzir o impacto humano no ambiente.

Em meio à nossa inércia, o relógio do Armagedom climático continua a tiquetaquear. Se nada de efetivo for feito, as maiores vítimas serão, como sempre, os mais pobres dos países mais pobres.

É hora de sairmos do estado de negação e entendermos que esse é um problema de todos. Sem medidas que mantenham o tamanho da população mundial em níveis compatíveis com o que o planeta suporta, a natureza fará isso por nós — e, receio dizer, da maneira mais insensível.

*George Matsas é professor titular do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista e integrante titular da Academia de Ciências do Estado de São Paulo

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