O eleitorado brasileiro exige novas vozes na política, e um exemplo disso foram os resultados das eleições de 2022, se firmando como marco significativo para a comunidade LGBT+ no Brasil. Candidaturas LGBT+ têm um rendimento eleitoral notável, em média 30% mais votos por real investido em suas campanhas, em comparação às demais candidaturas.
Esse desempenho não apenas reflete a demanda do eleitorado, mas também revela um potencial estratégico para os partidos. O sistema de financiamento público de campanhas no Brasil está intrinsecamente ligado aos votos recebidos pela legenda.
Partidos deveriam alocar mais recursos para candidaturas LGBT+, visando a maximizar votos e aumentar o financiamento na eleição subsequente. No entanto a realidade é diferente. Nas eleições municipais de 2020, elas receberam apenas 6% do teto de gastos, frequentemente alocados nos momentos finais da campanha.
Apesar das adversidades e da sabotagem dos partidos, as candidaturas LGBT+ emergiram como grupo sub-representado que mais cresceu em 2022, dobrando sua participação nas casas legislativas. Esse sucesso foi alcançado apesar dos partidos, e não por causa deles. Esse cenário demonstra a criatividade dos líderes LGBT+ e de suas equipes, mas também aponta a necessidade de mudanças estruturais no apoio partidário.
Olhando para 2024, o VoteLGBT conduz um levantamento abrangente de pré-candidaturas em todo o país. O objetivo é demonstrar aos partidos a força dessa mobilização histórica para as eleições. Até o momento, já foram contadas mais de 500 pré-candidaturas LGBT+ em 24 partidos, ilustrando o crescente engajamento e a representatividade da comunidade.
Essa articulação é também uma chamada à ação para os partidos. Investir em candidaturas LGBT+ não é apenas uma questão de justiça social, mas uma estratégia eleitoral inteligente. Ignorar esse potencial é desperdiçar a oportunidade de ampliar a base eleitoral e fortalecer a democracia.
A representatividade importa porque traz diversidade de pensamento, experiências e soluções inovadoras para os desafios sociais, além de dar voz às comunidades historicamente marginalizadas, permitindo que suas demandas e necessidades sejam ouvidas e atendidas, tornando a política mais inclusiva e equitativa.
Portanto os partidos precisam repensar as estratégias de financiamento e apoio às candidaturas LGBT+. O sucesso de 2022 serve como ponto de partida, e a mobilização para 2024 é uma oportunidade para corrigir falhas e avançar a um futuro em que a representatividade LGBT+ não seja a exceção, mas norma.
A participação política da comunidade é fundamental para a construção de uma sociedade igualitária. Para isso, é crucial que os partidos reconheçam e apoiem o potencial dessas candidaturas. Somente assim poderemos garantir que a democracia brasileira reflita verdadeiramente a diversidade e a riqueza de sua população.
*Gui Mohallem, artista visual, é diretor executivo da ONG VoteLGBT