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Por André Rodrigues e Antônio Gonzaga

“Não te culpa pela violência do destino, não há força que nos defenda do defeito que — pra eles — carregamos, mas lutaremos inspirados em cada mulher, que forma cada outra mulher negra, corpos que fundaram essa nação.” O trecho acima está na sinopse do enredo da GRES Portela para o carnaval que virá em 2024, história que será inspirada em uma das mais importantes obras da literatura negra contemporânea, “Um defeito de cor", de autoria da escritora Ana Maria Gonçalves.

O título foi preservado da obra para desenvolvimento da narrativa do desfile porque ainda nos é muito caro o debate dos espaços que podemos ocupar, transitar ou simplesmente viver, sem que a violência no julgamento da cor que carregamos seja a única via de impossibilitar nossa perspectiva de continuidade.

No período colonial, um decreto impedia aos negros e mestiços de assumirem cargos ou mesmo exercer funções que fossem reservadas para os brancos. Sendo assim, para ocupação destes, era necessário o pedido da dispensa do “defeito” da própria cor. Muito próximo do que vivemos com a perpetuação da cultura racista impregnada no amedrontado olhar do branco brasileiro. Quase que diariamente nós, a escola de samba, ainda que tenhamos carregado nas costas toda a formação de identidade do que se diz ser brasileiro a partir — inclusive — da espoliação alva, necessitamos pedir licença para existir em um país que não nos reconhece.

Nem mesmo a medalha que trazia no peito, de uma homenagem que recebera no Congresso Nacional por sua notória contribuição para a arte nacional, impediu que Vilma Nascimento, o Cisne da Passarela, fosse abordada e acusada de roubo no aeroporto. Afetando mãe e filha, fica o trauma do julgamento da cor, da suposta fragilidade da idade e do desconhecimento da figura. Esse mérito é mesmo seu? Tem como comprovar a origem? — o não dito que ficou explícito.

A Portela, através do olhar afetuoso de Luiz Gama, honrará o papel das mulheres negras que fundaram e carregaram este país, personificadas na figura de sua mãe, Kehinde — Luiza Mahim. Procura refletir na atualidade a necessidade deste afeto para o setor que mais sofre na formação social brasileira.

“...Que elas ouçam e se inspirem nos teus passos, ainda que no futuro entendam que o maior defeito que não podem corrigir por seus filhos é o único que carregam de nascença, o defeito da cor. Um defeito para o olho de quem vê, que cerceará o destino delas, jogando sobre seus ombros todo o peso de uma sociedade inteira que julga os que assim vieram à terra”, diz o enredo, que finaliza: “Eu honro a tua maior façanha que foi SOBREVIVER.”

Este artigo-desfile é um afetuoso abraço em Vilma e Daniele Nascimento, Sônia Capeta, Bianca Monteiro, Squel Jorgea e todas as mulheres que fazem as escolas de samba do Brasil: porta-bandeiras, passistas, cantoras, coreógrafas, carnavalescas, diretoras, musicistas, baianas e tudo que desejarem ser.

*André Rodrigues e Antônio Gonzaga são carnavalescos da Portela

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