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Por Editorial

A decisão da Justiça de Goiás de aceitar a denúncia do Ministério Público contra 14 acusados de manipular resultados da Série B do Campeonato Brasileiro de 2022, com o intuito de favorecer apostas fraudulentas, é um passo fundamental para preservar a saúde do futebol brasileiro. Entre os réus, estão oito jogadores — à época nos clubes Vila Nova, Tombense e Sampaio Corrêa — e quatro suspeitos de atuar como aliciadores de atletas e apostadores no esquema ilegal. As investigações não apontaram envolvimento das empresas de apostas.

O escândalo veio à tona no início deste ano, depois que o presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, denunciou a fraude e apresentou o clube como vítima. Atletas de equipes diferentes haviam sido subornados para cometer três pênaltis no primeiro tempo das partidas da última rodada do Brasileiro, beneficiando o líder da quadrilha, que receberia R$ 2 milhões se as penalidades ocorressem.

O acaso frustrou o plano. Um jogador do Vila Nova que já recebera R$ 10 mil (de um total de R$ 150 mil) para derrubar um adversário na área não foi escalado para a partida. Tentou convencer colegas a participar da fraude, mas eles não aceitaram. Nos jogos Tombense x Criciúma e Sampaio Corrêa x Londrina, os pênaltis aconteceram.

As denúncias deram origem à Operação Penalidade Máxima, conduzida pelo Ministério Público de Goiás. Os oito atletas acusados foram denunciados com base no Estatuto de Defesa do Torcedor, que pune quem “aceitar ou solicitar vantagem ou promessa de vantagem para qualquer ato destinado a alterar ou falsear o resultado de uma competição esportiva”. A pena prevista é de dois a seis anos de prisão, além de multa.

Com a proliferação de apostas, o futebol fica exposto a esquemas de manipulação de resultados. Isso não acontece só no Brasil. A CBF afirma que monitora sites de apostas para detectar movimentações atípicas. Os casos suspeitos no Brasil subiram de 89 em 2021 para 239 no ano passado. No mundo, de 697 para 776. Mas a vigilância não é infalível, como mostra o caso de Goiás. Ele só foi descoberto porque o esquema não deu certo e vazou.

Qualquer manipulação é fatal para o futebol. Primeiro, porque pode selar o destino de um clube. A Série B contou em 2022 com gigantes do futebol brasileiro que, numa disputa acirrada, lutavam para voltar à elite. Em segundos, um pênalti armado põe a perder o planejamento de um ano. Segundo, porque mexe com a essência do esporte: a competição saudável entre adversários dentro de regras preestabelecidas. Nos últimos anos, o futebol tem incorporado ferramentas como o VAR justamente para tornar os resultados mais justos.

É fundamental que a CBF aprimore seus sistemas de monitoramento e que se punam com rigor os envolvidos nos esquemas de manipulação. É a melhor forma de desestimular a ação dos fraudadores. A confiança nos resultados depende disso. Se o torcedor descobre que o placar foi arranjado, por que ele irá ao estádio ou se postará diante da TV para assistir aos jogos?

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