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Por Editorial

O principal item na pauta da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Brazzaville, prevista para o mês que vem, é a aliança entre países com grandes áreas de floresta tropical, ativo valorizado em razão do combate às mudanças climáticas. A iniciativa, cujo objetivo é unificar o discurso e os compromissos de preservação perante os países ricos, vem sendo chamada informalmente de “Opep das florestas”, numa referência ao cartel que controla os preços do petróleo.

Comparecerão à cúpula na capital da República Democrática do Congo países de América do Sul, África Central e Sudeste Asiático. Apenas três dos presentes — Brasil, Congo e Indonésia — concentram 52% das florestas tropicais do planeta. Lula faz questão de levar também Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Guiana, Suriname e Venezuela — integrantes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) —, além de outros países africanos e asiáticos de grande cobertura florestal, de modo a reunir 80% das florestas tropicais do planeta.

A agenda oficial prevê a troca de experiências na preservação e exploração das florestas úmidas na Bacia Amazônica, na Bacia do Congo e na região do Bornéu-Mekong, no Sudeste Asiático. De acordo com o governo congolês, a proteção e o desenvolvimento das florestas precisam se assentar sobre três pilares: cooperação científica, cadeias de produção sustentáveis e mecanismos inovadores de financiamento para a biodiversidade.

Parece evidente que este último objetivo é o mais relevante para Brasil, Congo e Indonésia. Apresentando-se como um grupo unido, o novo cartel das florestas terá sem dúvida maior poder de barganha diante de países ricos que poderão depender da preservação de florestas para cumprir suas metas na redução de emissões de gases.

No caso do Brasil, o pedido de ajuda financeira vem desde o governo passado, que não tinha credibilidade para receber apoio. Com a troca de comando no Planalto, a Casa Branca anunciou no mês passado que pedirá ao Congresso US$ 500 milhões para o Fundo Amazônia, destinado a financiar projetos ambientais. O Reino Unido prometeu recentemente mais € 80 milhões. Dinheiro começa a aparecer, mas ainda é pouco. Sem falar na necessidade de aplicá-lo com eficiência para evitar que se perca nos ralos da corrupção e do desperdício.

Não há dúvida de que, se vingar a tal “Opep das florestas”, ela terá muito mais trabalho para protegê-las que os produtores de petróleo para manipular os preços de óleo e gás. Não é difícil viajar, fazer reuniões e assinar atas de lançamento de tratados e entidades. Mas é preciso que funcionem, indo além das citações retóricas em pronunciamentos políticos.

É indiscutível a necessidade de iniciativas que disseminem pelo planeta as boas práticas de preservação florestal, capazes de ocupar e sustentar de outra forma as populações que hoje vivem da derrubada de árvores e da devastação. Só na hora em que se transformar em medidas concretas veremos se a promessa de transformar as florestas em pé numa mercadoria tão valiosa quanto o petróleo tem chance de se tornar realidade.

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