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Por Editorial

A condescendência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com as barbaridades da ditadura venezuelana chegou ao absurdo. Ao tentar justificar seu apoio ao ditador Nicolás Maduro, Lula afirmou em entrevista à Rádio Gaúcha que a Venezuela tem mais eleições do que o Brasil e que “o conceito de democracia é relativo”.

A declaração é ainda mais inaceitável depois de uma campanha eleitoral em que a promessa de defender a democracia, ameaçada por Jair Bolsonaro, atraiu para Lula o apoio de diversas tendências ideológicas. Lula venceu, e felizmente as instituições brasileiras têm se encarregado de punir Bolsonaro pelos arroubos golpistas — o TSE já o tornou inelegível por oito anos. Permanece no ar, porém, a pergunta: Lula teria reunido frente tão ampla se as declarações sobre a democracia “relativa” tivessem vindo à tona na época?

O regime chavista comandado por Maduro não passa nem perto de ser democrático. Nem um dia depois da declaração estapafúrdia de Lula, a ex-deputada venezuelana María Corina Machado, principal nome da oposição ao chavismo, foi inabilitada politicamente. Com mais de 50% das intenções de voto nas primárias, ficou inelegível por 15 anos sem ter feito nada que justificasse a punição. A Controladoria de Justiça, aparelhada pelo governo, tem se incumbido de abrir caminho à “democracia” de Maduro determinando a cassação de uma extensa lista de opositores, que inclui, além dela, Henrique Capriles e o ex-deputado Juan Guaidó.

É ridículo dizer que na Venezuela há mais eleições que no Brasil para justificar o injustificável. Primeiro, número de eleições não é termômetro de democracia. Segundo, todo mundo sabe como são as eleições venezuelanas, organizadas para dar aparência de democracia a um jogo de cartas marcadas. Ou alguém duvida que o chavismo só faz eleição para se perpetuar no poder?

Lula ascendeu politicamente no período pós-ditadura, elegeu-se deputado constituinte e três vezes presidente pelo voto direto. Deveria saber que democracia não é conceito relativo ou elástico. Ou é ou não é. Não pode ser considerado democracia um país que mantém presos políticos, persegue opositores, sufoca a imprensa livre, despreza a independência dos Poderes e aparelha as instituições para eliminar qualquer foco de resistência.

Uma coisa é manter relações diplomáticas e comerciais com a Venezuela. Outra, bem diferente, é a bajulação inexplicável ao ditador de um regime cujas violações de direitos humanos estão fartamente documentadas. A recepção a Maduro em Brasília durante reunião de chefes de Estado em maio foi vergonhosa. Nenhum outro presidente foi tratado com tamanha deferência. Pior: num discurso repleto de equívocos, criticado até por líderes de esquerda, Lula referiu-se ao encontro como “momento histórico” e chamou de “narrativa” a constatação de que a Venezuela não vive sob regime democrático.

É conhecida a benevolência com que o PT trata as ditaduras amigas de Venezuela, Cuba e Nicarágua. Lula precisa mudar o tom, especialmente à luz dos últimos eventos na Venezuela. É incoerente quem foi eleito empunhando a bandeira democrática chamar de democracia um regime cujo retrocesso autoritário é repudiado no mundo todo.

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