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Por Editorial

O ditador Nicolás Maduro despachou a vice-presidente, Delcy Rodríguez, para a III Reunião de Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE), em Bruxelas, certamente sem nada esperar do encontro a não ser declarações esporádicas em defesa da democracia. Provavelmente não contava que Argentina, Brasil, Colômbia e França, assim como a UE, divulgariam declaração conjunta na terça-feira pedindo que o governo e a oposição venezuelana retomem o “diálogo e a negociação” para chegar a um acordo e ter eleições em 2024 “justas para todos, transparentes e inclusivas”.

O documento também defende “a suspensão das sanções, de todos os tipos” impostas ao regime, com a finalidade de eliminá-las por completo a depender do desfecho do pleito, que precisa transcorrer de acordo com a lei e sob supervisão internacional. No dia anterior, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Alberto Fernández, Gustavo Petro e Emmanuel Macron tinham se reunido com a vice Delcy e um representante da oposição venezuelana, mas não era esperada uma declaração com linguagem tão direta.

A participação de Lula foi digna de nota. Depois de recepcionar Maduro com todas as honras em Brasília e de recusar-se a admitir a natureza ditatorial do regime venezuelano, chegando até, em defesa de Caracas, a considerar democracia “um conceito relativo”, o presidente brasileiro foi um dos que estabeleceram na reunião, como condição para o reconhecimento do vitorioso nas urnas no ano que vem, que o processo eleitoral seja aceito por todas as partes envolvidas. Para quem propagou o discurso de “integração” incondicional da ditadura venezuelana ao continente sul-americano desde que reassumiu o Planalto, afirmar que as eleições presidenciais na Venezuela precisam ter o respaldo da oposição foi um avanço.

É uma incógnita como o regime venezuelano reagirá nos próximos meses. Maduro certamente tem interesse no fim das sanções, mas as negociações já foram retomadas outras vezes, sem chegar a lugar algum. Um indicador a ser acompanhado é o tratamento dado a políticos da oposição perseguidos pela ditadura. Um dos casos mais gritantes é o da ex-deputada María Corina, inabilitada para disputar qualquer cargo eletivo por 15 anos, quando despontava nas pesquisas eleitorais e reunia multidões em comícios. Também estão com os direitos políticos cassados os oposicionistas pré-candidatos a presidente Henrique Capriles e Freddy Superlano. São políticos experientes e conhecidos. Capriles é ex-governador, já foi candidato à Presidência, lidera o partido Primeira Justiça e foi cassado em 2017, também por 15 anos. O mesmo período da inabilitação decretada contra Superlano em 2021, do partido Vontade Popular, do ex-autoproclamado presidente interino Juan Guaidó.

Ao se comprometer com a lisura das eleições venezuelanas, Lula pode se valer da proximidade de Maduro para convencê-lo de que a melhor forma de sair de uma ditadura é pela negociação. Pode usar o exemplo da ditadura militar brasileira, bem conhecida por ele.

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