Editorial
PUBLICIDADE
Editorial

A opinião do GLOBO

Informações da coluna

Editorial

A opinião do GLOBO.

Por Editorial

Contém boas e más notícias a nova edição do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A boa é que o país registrou no ano passado o menor número de mortes violentas ( homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte, mortes decorrentes de intervenções policiais) da última década: 47.508. A taxa de mortalidade ficou em 23,4 por 100 mil habitantes, uma queda de 2,4% em relação ao ano anterior. A péssima é que em 2022 aconteceu o maior número de estupros da História. Foram 74.930 casos, um aumento de 8,2% em relação a 2021.

A tendência de queda nas mortes violentas vem desde 2018 e pode ser explicada por vários motivos: mudança no perfil da população brasileira, com diminuição do número de adolescentes e jovens, grupo de maior risco; políticas públicas implantadas por estados; períodos de armistício na guerra entre quadrilhas. Claro que qualquer redução da violência é bem-vinda, mas o Brasil ainda apresenta indicadores inaceitáveis. Basta dizer que, a cada hora, cinco brasileiros são assassinados.

Há que ressaltar ainda que as realidades são diferentes conforme o estado e a região. No Nordeste, houve redução de 4,5% na taxa de mortes violentas por 100 mil habitantes. Já as regiões Sul, Norte e Centro-Oeste apresentaram aumento (3,4%, 2,7% e 0,8% respectivamente). Segundo o Anuário, o Amapá, com 50,6 mortes por 100 mil habitantes (mais que dobro da média nacional), é o estado mais violento. São Paulo (8,4) e Santa Catarina (9,1) surgem como os menos violentos.

Na contramão de outros indicadores, o aumento no número de estupros é estarrecedor. A cada hora, oito vítimas foram estupradas em 2022. A maior parte (61,4%) tinha menos de 14 anos. Convém lembrar que essas estatísticas representam apenas os casos registrados em delegacias, e a subnotificação é alta nesse tipo de crime. Está claro que os governos precisam formular políticas públicas específicas para combater essa chaga que avilta o Brasil.

O combate à violência continua sendo um desafio. Os tiroteios constantes, as balas perdidas, os assassinatos a qualquer hora do dia e em qualquer lugar não dão aos brasileiros a sensação de que a situação está melhorando. É verdade que há experiências bem-sucedidas, mas de modo geral faltam políticas para enfrentar as quadrilhas. As que existem muitas vezes são equivocadas, baseadas mais na truculência do que na inteligência e no planejamento.

Está certo o presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, ao cobrar a implementação do Sistema Único de Segurança Pública (Susp). Aprovado em 2018, ele prevê uma integração maior entre os estados. O Brasil só conseguirá domar a violência quando tiver uma estratégia nacional, que envolva todas as forças de segurança. Sabe-se que as facções do Sudeste agem em todo o país — e até no exterior. Enquanto o problema não for tratado de forma distinta, o Brasil pode até obter reduções nas taxas de mortes, mas dificilmente conseguirá convencer o cidadão de que ele está mais seguro.

Mais recente Próxima Pressão sobre ditador Maduro representa avanço