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A opinião do GLOBO.

Por Editorial

Fundado em 1952, o BNDES nasceu para impulsionar a industrialização. Agora planeja ser o principal agente de financiamento da transição energética, para substituir combustíveis fósseis por fontes de energia limpa. É verdade que o Brasil já dispõe de uma das matrizes energéticas menos poluídas do planeta, mesmo assim será necessário substituir no futuro próximo a frota automotiva e processos industriais que emitem gases poluentes.

Precisa ser essa a prioridade do banco, e não a “reindustrialização” da forma como se pensa em Brasília, com proteção aduaneira e reserva de mercado, pilares de todo programa de substituição de importações cujo resultado invariável são empresas improdutivas, incapazes de sobreviver à competição externa, e ineficiência econômica.

A diretora do BNDES responsável pelo setor de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática, Luciana Costa, estima que estarão disponíveis para projetos na área mais de R$ 50 bilhões, por meio do Fundo Clima, do Ministério do Meio Ambiente, que tem o BNDES como agente financeiro. Os empréstimos serão subsidiados, mas se espera que não como nos governos anteriores do PT, quando o Tesouro bancava o subsídio com generosas transferências de recursos ao banco (mais tarde o dinheiro teve de ser devolvido para aliviar a crise fiscal). O assunto está em discussão com o Ministério da Fazenda.

Uma das alternativas para financiar subsídios é lançar no mercado “títulos verdes”(green bonds) à taxa de juros de 8% no longo prazo, com vencimento em até 24 anos. Com juros na faixa dos 8%, diz Luciana Costa, o empréstimo “começa a fazer sentido para o investidor”. É mais caro que empréstimos nos Estados Unidos, “mas vai ficar abaixo do [juro cobrado pelo] mercado”.

As primeiras operações serão feitas ainda neste ano, para financiar a eletrificação do transporte urbano. O BNDES está em contato com 30 prefeituras para desenhar o modelo final dos empréstimos. A frota nacional de ônibus reúne 107 mil veículos, dos quais apenas 376 elétricos. O Rio tinha ônibus elétricos, aos poucos substituídos por veículos a diesel. Em São Paulo há linhas remanescentes, mas são poucas. Como no caso das ferrovias, o Brasil precisa retomar investimentos perdidos por falta de visão, num passado em que os preços do diesel e dos ônibus eram fatores imbatíveis para convencer o administrador público a aposentar os veículos elétricos. Luciana prevê que levará 13 anos para reciclar toda a frota, operação que custará R$ 214 bilhões.

O foco do BNDES está também em projetos no hidrogênio verde, na produção de energia eólica no mar, no combustível sustentável para aviação e noutras tecnologias de baixo carbono. Os R$ 50 bilhões, somados a R$ 2,3 bilhões do Fundo Clima, só darão para o começo. Trata-se, mesmo assim, de excelente missão para o banco público.

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