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A consequência mais relevante da reunião de quatro horas do americano Joe Biden com o chinês Xi Jinping durante cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec) em San Francisco é a determinação de os dois continuarem conversando. A relação entre a superpotência ocidental e a potência emergente asiática está no pior momento em quatro décadas, e o mundo todo precisa que elas se entendam para evitar o cenário de confronto.

Nos Estados Unidos, a oposição aos chineses é um dos raros temas em que democratas e republicanos concordam. Biden pouco mudou as medidas protecionistas impostas pelo antecessor, Donald Trump. O sonho de que o comércio tornaria a China mais parecida com o Ocidente ficou distante no passado. Para Xi, o poder americano é declinante, por isso ele costuma repetir a frase dong sheng, xi jiang (o Leste sobe, o Oeste cai). Na sua visão, os americanos buscam “a contenção, o cerco e a supressão da China”.

Como era esperado, na Califórnia os dois líderes adotaram um tom conciliatório. Xi disse que o planeta era grande o bastante para Estados Unidos e China e que os dois países, mesmo distintos, devem ser capazes de superar as diferenças. Biden ressaltou a importância de não deixar a concorrência se transformar em conflito.

Do ponto de vista prático, o maior avanço foi a retomada dos canais de comunicação entre militares, rompidos pela China depois da visita da então presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan em agosto de 2022. A impossibilidade de contato gerava inquietação. Caças chineses têm voado a poucos metros de aviões de reconhecimento americanos no Mar da China. O maior temor era uma eventual colisão que acabasse tomando maiores proporções por falta de comunicação.

Biden e Xi não chegaram a nenhum acordo sobre as questões mais espinhosas, mas isso era previsível. A respeito de Taiwan, o líder americano mencionou o aumento da atividade militar chinesa perto da ilha. Xi questionou os Estados Unidos por venderem mais armas aos taiwaneses. Há preocupação com as eleições em Taiwan e nos Estados Unidos e a possibilidade de os vencedores criarem uma situação que leve a um conflito militar.

Xi reclamou da decisão americana de bloquear a venda de chips de alta tecnologia à China. O objetivo, disse ele, é diminuir a competitividade industrial de seu país. Biden contestou dizendo que não daria aos chineses nenhuma tecnologia que pudesse ser usada para fins militares. Também não houve avanço na discussão para proibir o uso de inteligência artificial nos sistemas de comando de arsenais atômicos. Nesse, como noutros pontos, ficou acertado que representantes de ambos os países continuarão conversando.

Depois do encontro, Biden criou uma rusga diplomática com os chineses ao voltar a chamar Xi de “ditador”. Nada que o diálogo agora restabelecido não possa consertar. Oxalá ele abra um novo capítulo na relação estremecida entre as duas potências.

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