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A opinião do GLOBO

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A opinião do GLOBO.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfim se convenceu — ou foi convencido — de que a grave crise de segurança que o país atravessa não permite hesitação. Dias depois de afirmar que, enquanto fosse presidente, não decretaria uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) com presença das Forças Armadas, Lula anunciou um plano de segurança em que uma das principais medidas é justamente a GLO. Melhor assim. Qualquer iniciativa que possa contribuir para combater o crime organizado merece ser considerada, especialmente quando argumentos técnicos se sobrepõem aos político-ideológicos.

A GLO decretada por Lula traz um sinal de maturidade: os militares não subirão morros nem enfrentarão o crime no corpo a corpo, missão que já deu errado no passado. Desta vez, cumprirão seu papel de zelar pelas fronteiras. Atuarão nos portos do Rio, Itaguaí (RJ) e Santos (SP), além dos aeroportos de Guarulhos (SP) e do Galeão (RJ), em conjunto com Polícia Federal (PF) e Receita Federal. Terão prerrogativas de polícia, poderão revistar passageiros e inspecionar aeronaves, embarcações, bagagens e contêineres. Além disso, a Marinha intensificará o patrulhamento nas baías de Guanabara, de Sepetiba e na parte brasileira do Lago de Itaipu. Exército e Aeronáutica ampliarão a vigilância nas fronteiras em conjunto com PF e Polícia Rodoviária Federal (PRF), principalmente no Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Grandes carregamentos de drogas e armas transitam por portos e aeroportos brasileiros e apenas eventualmente são interceptados. Costumam passar livremente pelas fronteiras. Daí a importância de reforçar o patrulhamento. O trabalho integrado entre as diversas forças de segurança é a melhor forma de combater as facções criminosas que controlam as rotas do tráfico.

Tão importante quanto as ações em portos, aeroportos e fronteiras é a ideia de criar uma força-tarefa para asfixiar financeiramente essas organizações. A guerra contra drogas empreendida há décadas pelas polícias estaduais não tem trazido resultados satisfatórios, e os índices de violência se mantêm elevados. A melhor maneira de enfraquecer o crime é cortar sua fonte de recursos. Tal tarefa demanda investigação, tempo e dinheiro. Também depende da integração de bases de dados coordenada por autoridades federais.

Não há dúvida de que o combate ao crime organizado é desafiador. Ontem, no mesmo dia em que a GLO tinha início, moradores da comunidade da Muzema, Zona Oeste do Rio, acordaram com saraivadas de tiros disparados por milicianos e traficantes que disputam de forma sangrenta o controle da região. Essa é a realidade.

Embora necessárias, as medidas anunciadas pelo governo ainda são insuficientes, considerando que grupos criminosos estão espalhados por todo o Brasil. Falta um plano de segurança que contemple o país como um todo, integrando governos federal e estaduais. É verdade que a segurança pública é tarefa constitucional dos estados, mas está claro que eles não têm dado conta de enfrentar facções que usam armas de guerra e atuam internacionalmente. A ajuda federal, dentro dos limites legais, é essencial. Ao apresentar um plano, ainda que modesto, ao menos a União reconhece também ter responsabilidade pela crise no país. Mas que ninguém se iluda. Para enfrentar o poderio das organizações criminosas, será preciso muito mais que isso.

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