Editorial
PUBLICIDADE
Editorial

A opinião do GLOBO

Informações da coluna

Editorial

A opinião do GLOBO.

Por

Concessionárias de energia e autoridades precisam se adaptar urgentemente aos eventos extremos impostos pelas mudanças climáticas. Não bastassem os danos provocados por inundações e deslizamentos cada vez mais devastadores e letais, os brasileiros têm sido obrigados a conviver com cortes de energia que duram horas, por vezes dias, depois dos temporais. Ainda que transtornos e prejuízos sejam inevitáveis em certas circunstâncias, o país precisa estar preparado. As empresas precisam dispor de planos de contingência e equipes treinadas para agir rapidamente e restabelecer os serviços. E os governos precisam cuidar da poda de árvores e da manutenção necessária para evitar danos à rede elétrica. Não dá para apenas pôr a culpa nas intempéries, por mais excepcionais que sejam.

Em novembro, as fortes chuvas que castigaram São Paulo deixaram mais de 500 mil moradores sem luz. Muitas árvores foram derrubadas sobre a fiação, provocando apagões. Parte da população ficou às escuras por mais de 72 horas. Em janeiro, mais de 200 mil moradores de Porto Alegre e cidades vizinhas se desesperaram ao permanecer mais de três dias sem energia. A demora no restabelecimento do serviço ensejou protestos de consumidores e do governador Eduardo Leite (PSDB). No Rio, chuvas recentes deixaram moradores sem luz por mais de 40 horas. Na Ilha do Governador, os cortes têm sido frequentes, e a eletricidade depende de geradores. São apenas alguns exemplos de uma situação que se repete país afora.

As empresas não podem apenas alegar que as tempestades têm sido excepcionais. Serão cada vez mais. Ou que não puderam agir de imediato porque dependiam de outros órgãos para retirar árvores e postes derrubados sobre a rede elétrica. E o governo não pode empurrar toda a responsabilidade às concessionárias. A população não tem nada a ver com a falta de coordenação dos serviços públicos. Diante de episódios sucessivos, concessionárias e governos já deveriam ter desenvolvido rotinas para atuar em situações de emergência, reduzindo sofrimento e prejuízos.

O secretário nacional do Consumidor, Wadih Damous, disse que aplicará multas às concessionárias e recomendará à Aneel a cassação da concessão de empresas que interrompam o serviço por longos períodos. Em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) defendeu que a Aneel não renove o contrato de concessão com a Enel, que vencerá em 2028. O prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), foi a Brasília exigir auditoria no contrato com a concessionária. No Rio, o prefeito Eduardo Paes (PSD) afirmou que recorrerá à Justiça contra a Light. A luz se tornou tema da campanha eleitoral deste ano.

O problema não será resolvido com discursos ou medidas espalhafatosas. Até porque não diz respeito a apenas uma empresa ou região. As falhas estão por toda parte. Concessionárias e autoridades alegam que enterrar a fiação para evitar danos à rede aérea é caro, e o custo acabaria sobrando para o cidadão. No longo prazo, seria a solução mais sensata. No curto, é preciso exigir das empresas planos de contingência para lidar com emergências e dos governos o zelo pela rede de fios. O consumidor, que paga contas em dia, não pode passar horas ou até dias sem energia, enquanto ouve o surrado “estamos trabalhando para restabelecer o serviço”.

Mais recente Próxima Governo esvazia Carf para tentar aumentar arrecadação tributária