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O Brasil durante muito tempo manteve um programa de vacinação visto como referência no mundo todo. Há sete anos, porém, os índices de imunização começaram a cair ou a estacionar em níveis preocupantes, insuficientes para manter o patamar de imunidade coletiva necessário para deter a circulação de vírus e outros patógenos. A situação se agravou com o governo Jair Bolsonaro, que promoveu, durante a pandemia de Covid-19, uma campanha de desinformação cujo alvo eram as vacinas.

Doenças antes controladas voltaram a ameaçar a população. Foi o caso do sarampo, que tornou a provocar mortes pouco tempo depois de as autoridades sanitárias internacionais certificarem sua erradicação em todo o território brasileiro. Felizmente a ameaça crescente começa a ser paulatinamente revertida, depois que o Programa Nacional de Imunizações (PNI) passou a ser devidamente apoiado em Brasília. Há pouco tempo o próprio sarampo voltou a ser dado como erradicado.

O Ministério da Saúde constatou, no ano passado, recuperação da cobertura vacinal para 13 dos 16 principais imunizantes do calendário infantil. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) destacou queda no número de crianças desprotegidas contra a poliomielite. Em 2022, de 2,56 milhões de nascidos, 243 mil não receberam a primeira dose da vacina contra a pólio. No ano passado, de 2,42 milhões, apenas 152,5 mil, ou 37% a menos. A cobertura, que mal chegava a 77% em 2022, alcançou 84,6%, mais perto da meta, de pelo menos 95%.

Além da pólio, houve melhora nas vacinas contra rotavírus, hepatite A, febre amarela, meningite, tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxumba), tríplice bacteriana (difteria, tétano e coqueluche) e na pentavalente (que, além dessas três doenças, protege também contra hepatite B e a bactéria H. influenzae tipo b). Dos 13 imunizantes cuja cobertura aumentou, o que apresentou maior crescimento foi a tríplice bacteriana, de 67,4% para 76,7%. É verdade que os patamares ainda não atingiram a cobertura almejada, mesmo assim o progresso deve ser celebrado.

Para chegar a esses resultados, houve conjugação de mais recursos e trabalho junto à rede de vacinação. Os R$ 6,5 bilhões gastos no ano passado na compra de vacinas deverão aumentar para R$ 10,9 bilhões neste ano, com o repasse de R$ 150 milhões a estados e municípios, para apoiar programas de comunicação específicos ao público local.

Um dos percalços a superar é a Covid-19. Continua baixa a vacinação entre crianças e adolescentes. Em fevereiro, segundo o Ministério da Saúde, a cobertura completa (três doses) de crianças e adolescentes de 3 a 11 anos estava em apenas 9,9%. Nas crianças e adolescentes de até 14 anos, ela era de 11,4%, próximo dos 14,9% dos adultos. As doses estão em falta por falhas do Ministério da Saúde na compra, e a procura despencou depois que passou o momento crítico da pandemia.

Não há segredo para manter a população vacinada. São necessárias campanhas periódicas de esclarecimento, somadas ao trabalho constante junto à rede escolar e à gestão competente para garantir a oferta dos imunizantes. A recuperação da cobertura vacinal da população merece ser comemorada. Mas basta um deslize das autoridades para a volta de doenças e mortes evitáveis. É preciso vigilância constante.

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