Editorial
PUBLICIDADE
Editorial

A opinião do GLOBO

Informações da coluna

Editorial

A opinião do GLOBO.

Por

A guerra entre Ucrânia e Rússia é o maior conflito armado na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Numa reunião recente em Pequim, o ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assuntos internacionais, assinou uma proposta conjunta com a China para negociações de paz entre Ucrânia e Rússia. Foi uma decisão descabida, que alinha o Brasil com uma das partes do conflito — a Rússia, justamente a parte agressora.

O Congresso deveria convocar Amorim para dar explicações à opinião pública brasileira. Platitudes ditas na capital chinesa — como “o importante é as pessoas pararem de morrer” — não dizem muito. Em Kiev, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, fez uma leitura mais próxima da realidade. Sem citar Lula, disse que o desejo de todo líder é receber os créditos por ter ajudado a obter um cessar-fogo. Se for essa a intenção, a pretensão é desmedida, e as ações são mal calibradas.

O Brasil não tem histórico de protagonismo em negociações de paz fora da América Latina. É uma potência regional, com poder de influência inferior ao da China ou da própria Rússia. Não é ouvido como país de relevo sobre a guerra. Nem deveria. Está geograficamente longe do conflito, não reúne grande contingente de cidadãos de origem ucraniana ou russa. Na melhor das hipóteses, seu uso serve apenas ao interesse de Pequim de fazer repercutir seu memorando em que, para alcançar o cessar-fogo, concede à Rússia o domínio sobre territórios que, de direito, são da Ucrânia.

Na busca irrealista por protagonismo, Amorim arrisca piorar ainda mais a imagem externa do Brasil, já prejudicada pela deferência do governo anterior com os desmandos de Vladimir Putin. Não apenas a assinatura no documento elaborado pela China, aliada imprescindível da Rússia, alinha o Brasil a um dos lados. Até agora, o Itamaraty reluta em participar em cúpula patrocinada pela Ucrânia na Suíça nos dias 15 e 16 de junho.

Com as tropas russas dispostas a conquistar parcelas maiores do território ucraniano no verão europeu, são baixas as chances de negociações de paz ganharem tração. A ênfase dos ucranianos é a defesa. Tentam mobilizar mais tropas e obter mais armamentos. Por enquanto, o governo de Volodymyr Zelensky sustenta como meta recuperar todas as regiões invadidas, ainda que isso pareça a cada dia mais difícil. Mas também é difícil acreditar que Putin respeitaria um acordo de cessar-fogo, mesmo que assinasse um.

Não há como arriscar prever quando os dois lados baixarão as armas. O mais provável é o Brasil não ter nenhuma influência sobre isso. Lula e Amorim podem até acreditar que têm alguma relevância na busca pela paz na Europa. Fora do Planalto, a realidade é outra.

Mais recente Próxima Congresso tem de aprofundar debate sobre PEC das Praias antes de votá-la