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A opinião do GLOBO.

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Em sua terceira visita ao Rio Grande do Sul desde as chuvas que devastaram o estado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou uma secretaria extraordinária, comandada in loco pelo ex-ministro da Secretaria de Comunicação Paulo Pimenta. O objetivo, diz o Planalto, é facilitar a articulação entre os governos federal, estadual e dos 497 municípios gaúchos.

Não se discute a necessidade de criar canais para dar celeridade às decisões envolvendo os três níveis de governo na assistência às vítimas e na reconstrução. Mas a nomeação de Pimenta, candidato potencial ao governo do Rio Grande do Sul pelo PT sem experiência na gestão de catástrofes, transparece mais oportunismo político que preocupação genuína com a população que perdeu tudo e, mais que nunca, depende da ajuda do Estado.

Em entrevista ao GLOBO, Pimenta afirmou que sua missão é institucional. “Nunca perguntei partido de prefeito, nunca perguntei partido de vereador”, disse. Mas, nos últimos dias, veio à tona o diálogo de surdos dele com um prefeito oposicionista em torno de ajuda federal ao município, em que ambos pareciam mais preocupados em gravar a ligação para repercutir nas redes sociais do que com as necessidades reais. A oposição interpretou a escolha de Pimenta como uma iniciativa do Planalto para se contrapor às ações do governador Eduardo Leite (PSDB). Até petistas admitem isso reservadamente.

O perfil de Pimenta como agente político é evidente no governo Lula. Dias atrás, incomodado com questionamentos à resposta às chuvas, ele pediu que o Ministério da Justiça apurasse a difusão de desinformação sobre a tragédia. Mas vários exemplos apresentados não passavam de críticas ao Planalto. Espera-se que, na nova missão, ele baixe as armas.

Enquanto o governo prega maior articulação, na prática assiste-se a conflitos entre ministros, cada um querendo ganhar protagonismo. O próprio Lula enquadrou a equipe, recomendando que conversassem com a Casa Civil antes de divulgar qualquer iniciativa. O desencontro só serve para deixar a população mais desorientada em meio a problemas longe de resolvidos.

O governo precisa manter o foco na ajuda às vítimas e na reconstrução. O cenário já está demasiadamente tumultuado pelas dificuldades logísticas, pela desinformação e disputa de narrativas nas redes sociais, por saques a casas desocupadas, por discussões inoportunas (como a tentativa prematura de adiar as eleições municipais no estado) e pelo compreensível desafio de articulação com quase 500 prefeitos.

As medidas tomadas até agora pelo governo são corretas e necessárias. Nos últimos dias, Lula anunciou um auxílio para cerca de 200 mil famílias, a incorporação de 20 mil novos beneficiados ao Bolsa Família e a construção de imóveis do Minha Casa, Minha Vida para desabrigados. Mas politizar a tragédia só atrapalha. Além de ser um desrespeito às vítimas, cria arestas entre governos federal, estadual e dos municípios — a maioria administrados por políticos de oposição. O efeito é contrário à pretendida articulação.

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