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Confirmando o favoritismo, o Brasil foi escolhido pela Fifa para sediar a Copa do Mundo Feminina de 2027, derrotando a candidatura conjunta de Alemanha, Holanda e Bélgica. Pesou na decisão o anfitrião dispor de infraestrutura pronta, preparada para a Copa masculina de 2014. Será a primeira vez que a competição acontecerá na América do Sul.

O anúncio é uma boa notícia. O Brasil já acumula ampla experiência na organização de megaeventos esportivos. Sediou duas Copas do Mundo (1950 e 2014), dois Pan-Americanos (1963 e 2007) e uma Olimpíada (Rio 2016). A Copa aumentará a visibilidade interna do futebol feminino, que evoluiu nos últimos anos, mas ainda tem potencial para avançar. Além disso, contribuirá para movimentar a economia das cidades escaladas para receber os jogos.

Mas o histórico de equívocos na preparação de eventos anteriores preocupa. A escolha das sedes para a Copa de 2014 obedeceu a critérios mais políticos que técnicos. Estádios portentosos foram erguidos ou reformados em cidades sem demanda para ocupá-los depois da competição. Um exemplo é o Mané Garrincha, em Brasília, cuja ociosidade não faz jus ao craque que lhe dá nome. Eventualmente, shows ou jogos de times do Rio e de São Paulo cumprem a função de encher a arena que custou R$ 1,6 bilhão e tem capacidade para mais de 70 mil torcedores.

Projetos de mobilidade que deveriam ter ficado como legado não saíram do papel. Reportagem do GLOBO mostrou que, dez anos depois da Copa de 2014, mais de um terço (38%) das obras prometidas por estados e municípios ainda não foram entregues. Um dos casos mais escandalosos é o VLT de Cuiabá (MT), orçado em R$ 1,4 bilhão. Dezenas de trens e quilômetros de trilhos foram comprados, mas depois o governo do estado decidiu mudar o projeto. A questão foi parar na Justiça, os trens foram abandonados, e a população ficou sem nada.

Os responsáveis pela candidatura brasileira afirmam que a Copa feminina aproveitará estádios existentes em dez cidades (duas a menos que em 2014). Estão planejadas apenas construções provisórias para abrigar convidados, imprensa e reuniões. Tais gastos foram orçados em meros US$ 13,3 milhões e devem, segundo os organizadores, ser bancados por patrocinadores.

É verdade que os principais estádios já foram adaptados para o padrão Fifa e, em princípio, não devem demandar gastos significativos para sediar os jogos em 2027. Mas será preciso conter o ímpeto de ministros, governadores e prefeitos ávidos por obras. As protagonistas, vale lembrar, são as atletas. O certo seria concluir o que se começou há mais de dez anos, evitando novos projetos que torram dinheiro público e são abandonados pelo caminho.

O Brasil deve celebrar a realização da décima Copa do Mundo de futebol feminino. O evento pode ser um estímulo para que milhares de meninas se tornem uma nova Marta e para que o Brasil se torne uma potência na modalidade. Mas é preciso vigilância para evitar que o evento sirva de pretexto para novos desperdícios.

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