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O Brasil atingiu em 2022 o recorde de 9,4 milhões de estudantes na universidade, revelam dados do Censo do Ensino Superior. Segundo o IBGE, 19,7% da população tem curso superior, índice acanhado em comparação com os países desenvolvidos, mas mais que o dobro dos 7,9% da década passada. Infelizmente, as faculdades continuam a formar profissionais sem as competências exigidas pelo mercado de trabalho. Há um fosso entre o perfil das matrículas no ensino superior e a carência de mão de obra.

Cinco cursos de graduação atraem mais de 25% dos universitários: Pedagogia (821,8 mil), Direito (671,7 mil), Administração (638,7 mil), Enfermagem (457,9 mil) e Contabilidade (327,4 mil). Uma minoria dos recém-formados nessas profissões obtém emprego formal na área, segundo estudo da consultoria Geofusion com 400 mil formandos: 15,5% dos pedagogos, 13,3% dos contadores, 8,9% dos advogados, 7% dos enfermeiros e 3,4% dos administradores. Há enorme frustração entre os demais. Terminam deixando o diploma na gaveta e trabalham em atividades para as quais, em muitos casos, bastaria ensino médio ou profissionalizante.

Hoje as empresas necessitam sobretudo de profissionais formados em áreas relacionadas à sigla em inglês STEM (ciências, tecnologia, engenharia e matemática). Só na área de tecnologia da informação e comunicação (TIC), a procura por profissionais cresce a 10% ao ano, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre). Um levantamento feito pelo Google com a Associação Brasileira de Startups (Abstartups) prevê, até o ano que vem, a falta de 530 mil profissionais de tecnologia no país.

Isso resulta em situações impensáveis. A CloudWalk, dona da maquininha de pagamentos InfinitePay, aumentou sua equipe dedicada à inteligência artificial (IA) de 34 para 45 pessoas em um ano, fazendo seleção de candidatos aberta ao mundo. Como faltam profissionais no Brasil e o trabalho pode ser feito de forma remota, os estrangeiros foram a salvação. Fazem parte do quadro da empresa profissionais de países como África do Sul, Índia, Canadá e Bolívia.

Tal constatação deveria ser suficiente para legisladores e governo tratarem de formular um amplo programa para acabar com a distância entre o perfil de matrículas nas universidades e a demanda das empresas. Desde o ensino fundamental deve haver ênfase nas disciplinas relacionadas às profissões exigidas pelo mercado de trabalho. Mal acabou de aprovar um currículo comum para o ensino básico, o Brasil já está atrasado e precisa atualizar sua política educacional.

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